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Jovem diz ter sido agredido em supermercado de Bauru (SP) por ser gay

Wagner Carvalho

Do UOL, em Bauru (SP)

21/07/2015 15h43

Um jovem morador de Bauru afirmou ter sido vítima de agressão motivada por homofobia no banheiro de um supermercado da cidade (a 340 km de São Paulo).

Pedro Henrique Guimarães, 26, gravou um vídeo e postou em sua rede social, afirmando que no sábado (18), durante as compras no supermercado Paulistão, localizado na avenida Getúlio Vargas, foi agredido por um segurança da loja ao utilizar o banheiro.

A vítima, que é homossexual, relatou ser cliente há bastante tempo do supermercado. “Logo quando cheguei, fui ao banheiro para lavar meus óculos e o segurança, sem uniforme, já estava parado de braços cruzados na porta. Saí e fiz minhas compras”, narra.

Guimarães disse que passou pelo caixa, pagou pelas frutas compradas e, antes de ir embora, resolveu voltar ao banheiro. Ele entrou em um dos boxes e conversava no celular com a cunhada, por isso não percebeu a entrada dos agressores. Ao abrir a porta, notou a presença do segurança e de outro rapaz, vestido com uniforme do supermercado, e foi abordado por eles.

“Do rapaz com uniforme eu não ouvi uma só palavra, mas percebi que ele ficou na porta vigiando a entrada, enquanto o segurança me agredia com chutes e peitadas. Em determinado momento, ele colocou uma caneta entre os dedos e ameaçou me dar um soco, afirmando que iria furar meu olho, mas foi impedido pelo outro rapaz”, conta.

A vítima afirma que ouviu do segurança, enquanto era agredido, que não era porque comprava no supermercado que podia estar ali. De acordo com a vítima, o agressor chegou a dizer que seria um constrangimento para um pai entrar com o filho no banheiro e encontrar com ele ali.

Ao sair do local, o técnico em cosméticos chamou a atenção dos demais clientes para agressão que tinha acabado de sofrer. “Disse que iria chamar a polícia. O segurança zombou de mim dizendo que eu poderia ligar e chegou a oferecer o celular dele para que eu fizesse isso”, relata.

A Polícia Militar esteve no local, registou o boletim de ocorrência e orientou a vítima a procurar a Central de Polícia Judiciária (CPJ) para registrar um segundo boletim. O gerente da loja, identificado apenas por José Horácio, afirmou para a vítima que o fato seria levado ao conhecimento da diretoria da rede.

Procurado pela reportagem do UOL, o gerente da loja onde ocorreu o fato não quis atender a reportagem e pediu para dizer que não estava no local. A Polícia Civil disse seguir investigando o caso. Os envolvidos foram identificados e serão ouvidos até o final do inquérito, que tem 30 dias para ser concluído. O caso foi registrado como injúria e vias de fato.

Guimarães afirmou que pretende acionar na Justiça seus agressores e a rede de supermercados Paulistão. “Estou me inteirando do assunto e vou me reunir com meu advogado na sexta-feira para definirmos tudo, mas posso garantir que isso não vai ficar impune”, afirmou.

Rosas pela paz

O presidente do Cads (Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual) de Bauru, Aloísio Pereira Junior, informou que, em conjunto com a Coordenadoria da Diversidade Sexual da OAB de Bauru, através da coordenadora Ana Carolina Borges, entrarão com representação diante da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, com base na lei estadual anti-homofobia, que prevê desde multa de até R$ 63.750 até à cassação da licença estadual para funcionamento do estabelecimento.

No próximo sábado (25), representantes da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, e Transgêneros) com apoio de diversas outras entidades prometem fazer uma manifestação pacífica em frente à loja onde ocorreu a agressão. Haverá a distribuição de rosas brancas simbolizando um pedido de paz.

Outros casos

Em fevereiro de 2012, em outra loja da rede Paulistão em Bauru, um atendente de telemarketing de 28 anos foi atingido com um soco no rosto enquanto passava suas compras no caixa.

Um homem, na época aparentando ter 50 anos, começou a retirar as compras do rapaz da esteira. Ao reagir, o rapaz foi chamado de "viadinho" e levou um tapa no rosto, que deixou um ferimento na boca. Em seguida, a vítima foi retirada do supermercado pelo segurança, enquanto o agressor permaneceu no local.

Em outubro de 2013, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT-15) condenou o supermercado atacadista Assaí, da mesma cidade, por danos morais no valor de R$ 15 mil por razões também de homofobia. A discriminação foi cometida contra Cauê de Oliveira Sena Ricarte Bulhões Trevisan.

Ele era funcionário da empresa e seus superiores hierárquicos zombavam de sua orientação sexual.