Casal vende tudo e sai de SP rumo ao Alasca para ajudar cachorros de rua
Há dez anos, Sergio Medeiros era representante de vendas e Eleni Alvejan, motorista de uma van escolar. Apesar da vida confortável, o casal sentia a necessidade de mudar e de colocar os sonhos em prática. Foi isso que os levou, a no começo deste ano, partir de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, para uma viagem que deve terminar em 2016 no Alasca, no extremo norte da América. Por onde passam, têm o mesmo objetivo: ajudar cachorros de rua, seja com comida, água e cobertores ou carinho.
Em 2007, o casal começou a trabalhar como assistente voluntário de moradores de rua e, nessa atividade, desenvolveram um afeto especial pelos cães que normalmente acompanham essas pessoas. Começaram a dar cada vez mais atenção aos animais, até que, no final de 2013, montaram o Projeto Mundo Cão e passaram 30 dias rodando por Brasil, Argentina e Chile para tentar despertar a atenção pelos bichos quanto pelos humanos em situações delicadas, além de entender como diferentes culturas lidavam com os peludos. Nascia ali o embrião da aventura que vivem no momento.
Ao retornarem do Chile, Eleni e Sergio começaram a planejar uma mudança radical em suas vidas. Decididos de que o Alasca seria o próximo destino, começaram a pesquisar, planejar e a trabalhar para que a longa viagem desse certo. Fizeram uma poupança, venderam móveis e eletrodomésticos e alugaram o apartamento onde viviam para angariar recursos.
“Tínhamos uma casa confortável e hoje vivemos dentro de um carro, tínhamos trabalhos estáveis e hoje vivemos com um pouco mais de 20% do que ganhávamos antes. Não temos nenhum tipo de patrocínio ou coisa assim, são recursos 100% próprios. Buscamos trabalhos voluntários pelo caminho, de preferência em lugares ligados aos animais, em troca de hospedagem, assim economizamos um pouco e com isso temos vivido experiências bem interessantes”, explica Eleni, que, junto do marido, registra tudo no site do Projeto Mundo Cão.
Afeto antes da comida
“A criação do projeto foi uma ideia que nasceu pronta. Notamos essa necessidade das pessoas enxergarem os animais de rua, animais estes que fazem parte da faixa invisível, a mesma onde vivem pessoas em condições de rua, idosos abandonados, crianças que passam fome... Se cada um fizer um pouco, o todo pode se transformar. Distribuímos ração para os animais. Eles não vivem nas ruas, eles morrem nas ruas”, diz Eleni ao explicar o projeto.
Por onde passaram, encontraram realidades tão tristes quanto as que veem no Brasil. Em uma cidade peruana, contaram mais de 20 cães perambulando sem dono em apenas três quarteirões. Na Bolívia, cachorros reviram o lixo a cada quilômetro rodado.
Por outro lado, têm se surpreendido com o crescente número de entidades, fundações e pessoas dispostas a ajudar. “Neste momento aqui no Equador, associações, fundações e organizações tentam a aprovação de um projeto de lei para o bem estar e proteção animal. Caminhamos para uma sociedade mais consciente, mas ainda estamos muito longe do dia que a consciência irá superar a maldade das pessoas”.
Também é comum que ouçam relatos de histórias de cumplicidade entre pessoas e seus animais. Eleni acredita que a maior conquista que tiveram até o momento foi descobrir que “todos os animais, em qualquer parte do mundo, são iguais, esperam somente afeto. Parece que nos sentem, aparecem do nada, recebem o nosso carinho e só depois comem, porque é isso que eles esperam de nós, primeiramente afeto”.
Pelos planos inicias de Eleni e Sergio, hoje já deveriam estar retornando do Alasca. Entretanto, logo depois que caíram na estrada, perceberam que deveriam fazer tudo com calma, aproveitando cada instante, cada cidadezinha por onde passam. Então, o objetivo passou ser chegar no extremo norte do continente em junho de 2016, durante o verão do lugar, única época na qual é permitido fazer turismo por lá.
Até agora praticamente não tiveram problemas com a viagem, exceto uma adversidade ou outra com o carro. “A dificuldade de verdade para nós é em relação aos cachorros, é muito difícil virar as costas e controlar o desejo de enfiar todo mundo dentro do carro e levar junto”, diz Eleni.
Mas as alegrias da jornada compensam. “Olhar um cachorrinho comendo, nos olhando curioso com o rabinho balançando, com certeza que ele pensa: 'de onde saíram esses loucos?' Isso é felicidade pura”.
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