Câmara vê fraude e fecha enquete do Estatuto da Família com 10 mi de votos
Após detectar indícios de fraudes e o possível uso de “robôs”, a Câmara dos Deputados mudou o sistema enquetes mantido pelo site da Casa. As suspeitas de fraude foram detectadas na enquete sobre o Estatuto da Família, criada em 2014 e que registrou mais de 10 milhões de votos, dos quais estima-se que pelo menos 1,6 milhão tenham sido fraudados.
A enquete sobre o Estatuto da Família foi criada em fevereiro de 2014 e encerrada em 21 de agosto deste ano. Ela perguntava: “Você concorda com a definição de família com núcleo formado a partir da união entre homem e mulher, prevista no projeto que cria o Estatuto da Família”?
A enquete bateu o recorde do site da Câmara, com 10,2 milhões de votos, e movimentou grupos em defesa dos direitos da comunidade LGBT e lideranças da bancada evangélica. Militantes se mobilizaram nas redes sociais pedindo votos para os dois lados.
A pergunta se baseia na principal polêmica do projeto de lei que prevê a criação do Estatuto da Família, a definição de uma família só pode existir a partir da união de um homem e uma mulher. Lideranças de movimentos em defesa dos direitos da comunidade LGBT afirmam que o estatuto seria discriminatório ao não prever a formação de famílias a partir de uniões homoafetivas.
Ao ser encerrada, a enquete registrou 5,3 milhões de votos contrários à proposta, ou 51,6%. Os votos a favor da proposta somaram 4,9 milhões, ou 48,09%.
A vitória do “não”, porém, está sendo contestada. Um relatório do Cenin (Centro de Informação) da Câmara detectou que pelo menos 1,6 milhão de votos contrários à proposta foram registrados por apenas um único IP, ou seja, um computador ou uma rede de computadores conectados a um roteador.
Se fossem descontados os 1,6 milhão de votos suspeitos, o resultado da enquete seria alterado e o “sim” ganharia, com 4,9 milhões de votos contra 3,7 milhões dos contrários à proposta.
Ainda de acordo com o relatório do Cenin, a cidade de Garanhuns (PE) registrou 122 mil votos em um único dia, mas a população estimada da cidade não passa de 112 mil habitantes.
“As suspeitas de que houve fraude são grandes. A gente acredita que pessoas contrárias ao projeto colocaram programas de computador para votar na enquete e manipular o resultado da enquete. Isso é muito grave”, diz o autor do projeto que cria o Estatuto da Família, Anderson Ferreira (PR-PE).
O documento elaborado pelo Cenin, porém, indica que as suspeitas de fraudes não ocorreram apenas para beneficiar os que eram contrários à proposta, mas também para beneficiar os que eram a favor dela.
“A gente detectou indícios de fraude tanto para o ‘não’ quanto para o ‘sim’. Tudo leva a crer que usaram robôs para manipular o resultado da enquete”, afirmou Rodolfo Cezar Ranulfo Vaz, responsável pelo Corec (Coordenação de Solicitações de Tecnologia da Área de Informação com a Sociedade e Comunicação Social).
Entre as principais mudanças no sistema de enquetes da Câmara dos Deputados está o estabelecimento de um prazo para que elas continuem no ar. Antes das mudanças, as enquetes ficavam no ar por tempo indeterminado. Agora, as enquetes ficarão no ar por, no máximo, 60 dias corridos. Caso elas fiquem mais de sete dias sem receber nenhum voto, serão tiradas do ar.
Questionada pelo UOL, a Câmara dos Deputados confirmou que as mudanças foram feitas para evitar a manipulação de resultados.
“As novas regras para criação, votação e manutenção de enquetes no Portal da Câmara dos Deputados visam, entre outros objetivos, reduzir a possibilidade de fraude ou de manipulação de resultados”, disse a Câmara, por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa da Casa.
O órgão disse ainda que as mudanças contribuem para “limitar a participação militante, reduzindo assim os riscos de converter a enquete numa disputa particular entre grupos antagônicos”.
Além dessas mudanças, a Câmara informou que vai continuar a monitorar o andamento das enquetes e reforçar mecanismos de controle para evitar manipulação de resultados.
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