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Por animais e horta, produtor se embrenha na mata para chegar em casa

Propriedade rural tomada pelo rejeito de minério de ferro, no distrito de Paracatu de Cima, em Mariana (MG) - Rayder Bragon/UOL
Propriedade rural tomada pelo rejeito de minério de ferro, no distrito de Paracatu de Cima, em Mariana (MG) Imagem: Rayder Bragon/UOL

Rayder Bragon

Colaboração para o UOL, em Mariana (MG)

08/11/2015 06h00

Por receio de saques e perda dos animais e da plantação, o aposentado Valdir Pollack, 69, afirmou que precisa, agora, se embrenhar na mata e andar ao menos um quilômetro para conseguir acessar a sua casa, localizada no distrito de Paracatu de Baixo, em Mariana (MG).

A estrada que dava acesso à propriedade foi tomada pela lama que jorrou das barragens rompidas da empresa Samarco, na última quinta-feira (5).

Uma retroescavadeira que, segundo o funcionário que a manejava, estava a serviço da Samarco, tentava liberar a estrada vicinal.

Pollack disse que cultivava produtos orgânicos, mas os rejeitos de minério acabaram com grande parte da plantação.

“Tive prejuízo de uns R$ 10 mil com a perda dos meus produtos. Só sobrou uma hortinha. Além disso, eu tenho receio de que haja roubos na minha casa. Fiquei sabendo que já levaram bicicletas e até uma TV que tinham ficado para trás. Isso com certeza assusta a gente”, disse.

Ele ainda avaliou que a interrupção do acesso que tinha à sua casa é um transtorno adicional em meio a tanta destruição.

“Eu tive também esse prejuízo do acesso, agora, eu tenho que me embrenhar na mata para conseguir chegar à minha casa. É uma caminhada difícil de um quilômetro”, afirmou.

O UOL encontrou o produtor no momento em que ele chegava de Mariana, onde tinha ido resolver problemas particulares.

Segundo ele, a necessidade de ir até a casa no distrito de Paracatu se deve também aos animais que cria e que não podem ficar sem alimentação.

“Sobrou um pouco da horta orgânica. Tenho que tentar manter ela, e eu tenho também uns animais que crio lá. Essa criação não pode ficar sem alimentação. Por isso, eu tenho que enfrentar essa provação”, desabafou.

O aposentado disse que ninguém o informou de uma provável data para a liberação da estrada vicinal.

Lama

Para chegar ao local onde o aposentado foi entrevistado, a reportagem do UOL precisou passar por uma estrada vicinal que, em certo momento, corta uma fazenda, já que a estrada principal está bloqueada por uma quantidade enorme de lama.

Os distritos de Paracatu de Cima e Paracatu de Baixo foram bastante afetados e, segundo os moradores, essa é a maneira mais rápida para ter acesso às localidades. Na região havia casas abandonadas e uma ponte foi destruída.