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Declaração do Papa Francisco não muda diretriz sobre contracepção, diz CNBB

Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB - André Borges 18.jul.2012/Folhapress
Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB Imagem: André Borges 18.jul.2012/Folhapress

Flavio Ilha

Colaboração para o UOL, de Porto Alegre

20/02/2016 06h00

O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo Steiner, afirmou nesta sexta-feira (19) que as declarações do Papa Francisco sobre o zika vírus não representam uma nova diretriz da Igreja Católica em relação a métodos contraceptivos artificiais. Segundo o religioso, Francisco fez apenas uma análise sobre a gravidade do tema.

“Não muda nada (para a Igreja). O papa não propôs uma diretriz, nem uma norma. Não disse nem que sim, nem que não. Mas se propuser, aí é diferente”, disse dom Leonardo. Para ele, a CNBB não discute o tema da contracepção e irá apoiar qualquer norma que venha a ser editada pelo Vaticano.

Na quinta-feira (18), durante viagem de retorno ao Vaticano da visita que fez ao México, Francisco deu uma entrevista a jornalistas a bordo do avião papal e disse que, "em certos casos", a prevenção da gravidez pode um ser um “mal menor”. O papa fez as declarações ao responder a uma pergunta sobre contracepção como forma de evitar contágio.

Francisco foi categórico ao considerar o aborto, cuja autorização vem sendo aventado como forma de evitar casos de microcefalia associados ao zika, “um crime” e um “mal absoluto”.

No entanto, mostrou-se mais suscetível a abrir uma exceção em relação a métodos contraceptivos, como pílula e preservativos, como já fizeram Paulo VI (1963 a 1978) e Bento XVI (2005-2013). A Encíclica Humanae Vitae, editada por Paulo VI em 1968, proíbe o uso de métodos artificiais para evitar a gravidez entre os católicos.

O mesmo Papa Paulo VI, no entanto, havia permitido que um grupo de religiosas na África utilizasse métodos anticoncepcionais devido à ameaça constante de estupros em uma revolta no antigo Congo Belga (atual Zaire), em 1964.

Num recente livro com entrevistas do Papa Bento XVI, realizadas pelo jornalista alemão Peter Seewald, o Sumo Pontíficie também havia afirmado que “em certos casos, quando a intenção é reduzir o risco de infecção, pode ser” – referindo-se à utilização de preservativos. O Papa respondia a uma pergunta sobre a proliferação do vírus da Aids na África.

Dom Leonardo preferiu destacar a importância dada pelo papa Francisco, na mesma entrevista aos correspondentes do Vaticano que o acompanharam ao México, à necessidade de se aumentarem os esforços internacionais para o desenvolvimento de uma vacina contra a zika, que tem sido frequentemente associada a casos de microcefalia. “É a melhor e mais duradoura forma de enfrentar a doença”, disse.

O porta-voz da CNBB lembrou também que o aedes egypti, que transmite a zika, a dengue e a febre chikungunya, também é responsável por doenças como a febre amarela, para a qual existe vacina. “O engajamento (para o desenvolvimento de uma vacina) deve ser total”, alertou dom Leonardo, lembrando também a mobilização internacional que deteu o avanço do Ébola em 2014.

Segundo Dom Leonardo, as declarações do Papa mostram que o Sumo Pontíficie não tem medo de abordar temas polêmicos para a Igreja e nem de propor debates controversos. Mas sugeriu que se tenha “calma” com a opinião de Francisco.

“O Papa é muito prático e espontâneo e suas entrevistas têm servido para muitas coisas boas. Mas é preciso um pouco mais de tempo”, disse, em relação à possibilidade de se abrir um debate oficial sobre a contracepção artificial.