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Defesa Civil instala barracas térmicas para moradores de rua em SC

Com frio intenso, algumas cidades de Santa Catarina, como Itajaí, decidiram montar barracas para abrigar moradores de rua durante a noite - Nelson Robledo/Prefeitura de Itajaí
Com frio intenso, algumas cidades de Santa Catarina, como Itajaí, decidiram montar barracas para abrigar moradores de rua durante a noite Imagem: Nelson Robledo/Prefeitura de Itajaí

Aline Torres

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

23/06/2016 06h00

Santa Catarina, como boa parte do país, vive um inverno atípico, de frio rigoroso. No dia 13 de julho, por exemplo, os termômetros marcaram - 4º C no Vale do Itajaí. 

Tem quem goste e faça turismo. E tem quem sofra e morra nas calçadas. Pensando na situação das pessoas que estão na rua, a Defesa Civil instalou barracas térmicas em quatro cidades catarinenses e há outras que pretendem aderir ao projeto. As barracas armazenam calor, são amplas, comportam até 20 pessoas, estão equipadas com colchões, travesseiros e cobertores.

Na semana passada foram instaladas barracas nas cidades litorâneas, Itapema e Biguaçu e em Lages, na serra catarinense. Na terça-feira (21), foi a vez de Itajaí, também no litoral.

Os pedidos à Defesa Civil Estadual partem das coordenadorias municipais. No caso de Itajaí, a Defesa Civil pediu auxílio após apelo do diácono Juarez Carlos Langer, 44. Na sua paróquia, a São Vicente de Paulo, havia aproximadamente 20 pessoas dormindo embaixo das marquises.

“Acredito que muitas pessoas não sobreviverão a este inverno se permanecerem na rua”,  disse o diácono.

Não fazia um frio tão rigoroso em Santa Catarina - com sequência de temperaturas negativas, geadas e neve ainda no outono - há seis décadas, explicou o engenheiro agrônomo do Climaterra Ronaldo Coutinho.

Barraca com 20 lugares para moradores de rua é montada em Itajaí (SC) - Nelson Robledo/Prefeitura de Itajaí - Nelson Robledo/Prefeitura de Itajaí
Barraca com 20 lugares para moradores de rua é montada em Itajaí (SC)
Imagem: Nelson Robledo/Prefeitura de Itajaí

“E acredito que o frio irá piorar”, disse Everlei Pereira, coordenador da Defesa Civil de Itajaí, que solicitou as duas barracas, montadas no pátio da paróquia.

Para deixar as barracas mais quentes foram colocados paletts no chão, cobertos com papelões grossos e lonas. Assim se evitará a umidade das calçadas em dias chuvosos.

Os portões da igreja abrem às 19h para os moradores de rua. Nesse horário é servido o jantar. Às 7h é servido o café da manhã. E os abrigados seguem seu rumo - ou a falta dele - pela cidade.

Há apenas duas regras que devem ser seguidas. A primeira é tomar banhos todos os dias. O banheiro da paróquia fica aberto. Há chuveiro quente e toalhas.

E a segunda, sentar à mesa durante as refeições. “Não queremos que eles comam no chão. Queremos resgatar a dignidade deles. Sentamos juntos à mesa e fazemos nossa refeição”, disse o diácono.

Na noite passada foi servida sopa de legumes, nesta manhã, leite, café, pão e frutas. Os alimentos são doados e preparados, principalmente, por fiéis. Mas, há pessoas sem vínculos religiosos que se interessaram em ajudar. “A obra é grande demais para dispensarmos ajuda”, disse o diácono.

Até o dia 31 de agosto, os moradores de rua receberão duas refeições por dia da paróquia. No jantar desta noite o grupo de jovens da igreja irá levar violões.

Carlos Gomes, 42, não se lembra quando foi parar na rua. Morava com a irmã e o cunhado no bairro Promorar, em Itajaí. Mas, foi expulso quando começou a roubá-los para manter os vícios. Ele tentou se curar em comunidades terapêuticas. O vício, porém, sempre foi mais forte e o manteve na rua.

Carlos fala pouco, mas a cada frase agradece. “Graças a Deus tive uma noite quente”.

No início do mês um morador de rua de 48 anos foi encontrado morto no município vizinho, Balneário Camboriú. Morreu de frio na calçada da rua 1301. Fazia 4°C.

Cachorros no pátio

Em Itajaí há abrigos. Eles oferecem 30 vagas. Mas, muitas pessoas preferem ficar nas ruas. “Eles não se adaptam às regras”, explica o diácono. Um das regras é a separação com os cachorros de estimação, por isso, eles são bem-vindos no pátio da paróquia.

“Eles podem deixar seus animais ao lado de fora das barracas, dentro dos nossos portões. Nós colocaremos papelões e cobertas para que eles também sofram menos”,  disse o diácono.

A cidade de São José, região metropolitana de Florianópolis, deve montar sua estrutura até sexta. Já a capital catarinense estuda outras alternativas.

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