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Um em cada 3 brasileiros concorda que mulher tem culpa por estupro, diz pesquisa

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

21/09/2016 06h00Atualizada em 22/09/2016 10h47

Uma pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgada nesta quarta-feira (21) revela que um em cada três brasileiros concorda que a mulher vítima de estupro é, de alguma forma, responsável pela violência sexual sofrida. A pesquisa foi realizada pelo instituto Datafolha.

Dos entrevistados, 30% afirmaram que concordavam com a seguinte afirmação: "A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”. O percentual foi o mesmo entre homens e mulheres.

Esse índice aumenta entre os idosos e adultos com mais de 35 anos e entre as pessoas com menor grau de escolaridade. O maior percentual de entrevistados que disseram concordar com a frase é da região Norte do país (38%).

Os participantes da pesquisa também foram questionados se concordavam com a frase "Mulheres que se dão ao respeito não são estupradas". 37% do total de entrevistados falaram que sim. O percentual foi maior entre os homens (42%) em relação às mulheres (32%).

Segundo a enquete, o índice dos que concordaram foi menor entre os adolescentes e jovens e entre as pessoas com nível maior de estudo. Moradores da região Sul foram as que mais disseram discordar da afirmação (30%).

"O resultado da pesquisa indica que muitas vezes as próprias mulheres ainda são consideradas responsáveis pela violência sexual, seja por não se comportarem “adequadamente” ou por usarem roupas provocantes. Esse pensamento vem de um discurso socialmente construído, o qual considera que se a mulher é vítima de alguma agressão sexual é porque de alguma forma provocou esta situação", afirma o texto do estudo.

A pesquisa foi realizada com 3.625 pessoas, com 16 anos ou mais, que moram em 217 municípios, entre os dias 1º e 5 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Medo do estupro

O levantamento revelou também que 85% das mulheres entrevistadas têm medo de ser estupradas. Entre os homens, esse percentual é de 46%. O temor é mais frequente entre as adolescentes e mulheres mais jovens e entre as moradoras das regiões Norte e Nordeste do país.

Segundo a pesquisa, nove em cada dez mulheres que vivem no Nordeste afirmaram ter medo de sofrer violência sexual. No Norte, o percentual é de 87,5%.

"Além de afetar a saúde física e psíquica das vítimas diretas, o medo do estupro se coloca como um elemento permanente na vida das mulheres em geral, limitando suas decisões e seu pleno potencial de desenvolvimento e de sua liberdade", diz o estudo.

Atendimento

Os pesquisadores do Datafolha fizeram ainda perguntas relacionadas à forma como as polícias lidam com as vítimas de violência sexual.

Para 50% dos entrevistados, a Polícia Militar não está bem preparada para atender mulheres que foram estupradas. Em relação ao atendimento da Polícia Civil, 44% dos participantes da pesquisa concordaram que as vítimas são bem acolhidas nas delegacias; 42% dos entrevistados discordaram disso.

"Embora na realidade a delegacia de mulher nem sempre ofereça um lugar acolhedor para as vítimas de violência, ela é o serviço de atendimento mais conhecido para a mulher em caso de violência", afirma a pesquisa.

Ainda segundo o levantamento, nem sempre a violência sexual sofrida pelas mulheres deixa marcas físicas. "Levar a sério uma denúncia de estupro não significa condenar sumariamente o suspeito, mas sim acolher a vítima, escutá-la, dar credibilidade a seu relato e buscar, através da devida investigação, a devida elucidação do caso".

Violência sexual

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), violência sexual é “qualquer ato sexual ou tentativa de obter ato sexual, investidas ou comentários sexuais indesejáveis, ou tráfico ou qualquer outra forma, contra a sexualidade de uma pessoa usando coerção”.

"Se na última década avançamos consideravelmente no debate sobre violência doméstica no Brasil, o debate sobre violência sexual permanece travado por uma série de tabus e disputas ideológicas, que inviabilizam o tratamento de questões fundamentais relativas ao atendimento das vítimas", diz a pesquisa.