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"Elize tinha certeza de que Marcos a traía", diz detetive em júri

Elize Matsunaga (primeira à esquerda) está sendo julgada no Fórum da Barra Funda (SP) pelo assassinato do marido, Marcos Kitano Matsunaga - MARCELO GONCALVES/SIGMAPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Elize Matsunaga (primeira à esquerda) está sendo julgada no Fórum da Barra Funda (SP) pelo assassinato do marido, Marcos Kitano Matsunaga Imagem: MARCELO GONCALVES/SIGMAPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

28/11/2016 19h54

O depoimento do detetive Willian Coelho de Oliveira nesta segunda-feira (28) encerrou o primeiro dia do júri popular da bacharel em direito Elize Matsunaga, 34, no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo). Ela responde pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e destruição e ocultação de cadáver cometidos em maio de 2012 contra o então marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, 42.

Oliveira foi ouvido como testemunha da acusação. No depoimento, ele contou que Elize o contratou para vigiar os passos de Matsunaga entre os dias 17 e 19 de maio de 2012 enquanto ela visitava os parentes em Chopinzinho, no interior do Paraná. O assassinato aconteceu por volta das 20h do dia 19 – cerca de uma hora e meia depois de o empresário ter buscado Elize, a babá e a filha de um ano do casal no aeroporto.

“Ela tinha certeza de que o Marcos a estava traindo”, afirmou o detetive, que disse ter flagrado o empresário com uma mulher que ele tratava “como namorada, como alguém com quem ele mantinha um relacionamento longo” - posteriormente, ela foi identificada pela polícia como uma garota de programa. Segundo a testemunha, Matsunaga esteve em um bar de classe média alta e em um restaurante de comida japonesa que, depois, foi identificado por Elize como local frequentado pelo casal. O último ponto investigado em que ele esteve com a suposta amante seria um flat na rua Funchal, na Vila Olímpia (zona sul de SP).

“Ela [Elize] suspeitava de três ou quatro mulheres [como possibilidades de serem amantes do marido] e não acreditou quando eu falei sobre o sushibar onde o casal estava, pois ele conhecia o sushiman”, afirmou a testemunha. De acordo com o detetive, ele fornecia “informações em tempo real” à cliente, estando ela no Paraná, e foi cobrado “para que eu filmasse a cara da mulher. Ela não queria que eu perdesse a filmagem”, afirmou.

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Oliveira relatou que Elize o dispensou dos trabalhos ainda no sábado, mas acrescentou que ela o procurou na segunda, dia 21, após o crime, para obter o DVD com as imagens brutas da traição. No escritório dele, ainda fez questão de assistir às filmagens.

“Ela chorou muito quando viu a cena da menina. Se portou como uma pessoa que estava mesmo sendo traída”, opinou.

Ao ser indagado pelo promotor José Carlos Cosenzo como era fisicamente a amante, Oliveira a descreveu como “magra, alta, de óculos”. “Bonita?”, quis saber o promotor. “Não”, respondeu o detetive. Os jurados e a plateia riram.

Serra elétrica seria usada para cortar caixas de vinho, diz babá

Antes do detetive, o júri ouviu outras duas testemunhas da acusação: as babás Mauricéia Gonçalves dos Santos e a filha dela, Amonir dos Santos. A jovem, que abriu os depoimentos para ser dispensada logo depois –uma vez que ela é mãe de um bebê de oito meses -, disse que cobria os finais de semana em que a mãe folgava, a cada 15 dias, e negou ter presenciado brigas entre os patrões. Por outro lado, ela contou ter ouvido da mãe que Elize comprou uma serra elétrica em Cascavel (PR) quando estava a caminho do aeroporto, no dia do crime.

No depoimento, Mauriceia confirmou as informações da filha e disse ter ouvido da patroa que a serra serviria para cortar caixas de vinho que Matsunaga costumava comprar.

A babá, que ainda trabalhou cerca de um ano de meio com os pais do empresário, após o crime, pediu para que Elize não acompanhasse o depoimento dela no plenário. Bastante nervosa e alegando não se lembrar de várias informações que ela prestara à polícia e mesmo à Justiça, à época do crime, ela passou mal durante o depoimento e precisou ser atendida por um médico, com uma interrupção e 20 minutos na sessão.

Indagada pelo promotor por que pedira a ausência da ré, justificou: “Ela deve achar ruim porque eu falei da serra. Mas ela nunca me fez mal algum”, disse.

Sobre a rotina do casal, a testemunha disse que eles discutiam com frequência, mas alegou que, sempre que isso acontecia, descia com a bebê para o playground do prédio para não ouvir. Sobre o tempo que passou com Elize na casa de uma tia dela no Paraná, relatou ter ouvido da patroa, também sem muitos detalhes, que ela contratara um detetive porque desconfiava que o marido a traía. Era o nome do detetive, por sinal, que ela teria ouvido em uma das conversas telefônicas de Elize na casa da tia.

A babá disse ter acompanhado o casal em algumas viagens: a um local que ela não soube identificar e que “ficava no meio do mato”, ocasião em que Elize e o marido caçavam, armados, a um hotel na Costa do Sauípe (BA), com Elize e a bebê, e, por fim, ao Paraná. Além da caça, outra excentricidade relatada pela babá foi a existência de uma jiboia de estimação que o casal teria –mas que ela teria visto “por foto”.

Para o assistente da acusação, o advogado Luiz Flávio D’Urso, a informação sobre a serra elétrica trazida pelas duas testemunhas reforça a tese de que o crime teria sido premeditado.

“Há elementos que nos trazem convicção de que o crime foi premeditado”, disse o advogado, para quem Elize já trabalhava com a hipótese de estar sendo traída antes de cometer o crime. “Quando ela contratou o detetive, foi viajar para deixar Marcos sozinho e ele poder ser investigado”, definiu.

Para uma das advogadas de Elise, Roselle Soglio, não houve premeditação “e isso está provado nos autos”. “Havia uma rotina constante de brigas entre eles dentro da casa”, defendeu. Sobre a serra, a advogada destacou que a perícia não a identificou como arma do crime. A serra até hoje nunca foi localizada. “O que houve decorreu de uma intensa discussão no desenrolar de um fato que ela [Elize] não esperava [referência a um tapa que a ré teria tomado em uma suposta briga com o marido, antes de matá-lo]. Ela estava sofrendo abuso emocional dentro de casa”, reforçou.

Elize chorou ao menos cinco vezes durante o júri, desde a abertura. “Quem esquarteja o marido não pode ter sensibilidade para derramar uma lágrima”, ironizou o promotor de Justiça.