Greve geral foi "pior do que feriado", dizem comerciantes de São Paulo
O fato de a greve ter afetado todo o transporte público de São Paulo desde as primeiras horas da madrugada desta sexta-feira (28), aliada à queda brusca de temperaturas, fez com que os paulistanos deixassem de circular pela cidade. Se o clima foi de feriado para alguns, para pequenos comerciantes de diferentes regiões da cidade passou longe do movimento de um feriado dito tradicional.
"Está pior do que feriado. Acho que vou ter um prejuízo de mais 90% hoje. Dia de greve é dia perdido", contou José Nildo, 49, que vende roupas na calçada da rua 25 de março, no centro de São Paulo, principal ponto de comércio popular do país.
Nildo foi um dos poucos que conseguiu trabalhar e contou que só teve condições de chegar porque mora no centro. "Dos meus colegas, nenhum veio, porque não tem como chegar", disse.
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Sobre a greve, Nildo diz apoiar uma radicalização do movimento. "Os políticos querem é descontar na população, nos mais humildes. O povo tem que ir para as ruas mesmo e parar tudo. Acho que tem que ser mais radical do que essa greve", disse.
O vendedor ambulante conversava com o UOL quando a gerente de sistemas Fran Feijó, 29, chegou com a mãe, que mora em Florianópolis, e passou a examinar os produtos vendidos por ele. A jovem reclamou. "Não tem quase nada aberto aqui, assim fica difícil ter uma grande variedade. A minha mãe vai embora amanhã, então decidimos pegar um Uber e vi", disse.
Assim como na 25, grande parte das lojas de produtos eletrônicos da rua Santa Ifigênia também estava fechada --nas poucas galerias abertas, vários boxes não abriram. O mesmo aconteceu na rua Direita, na região da Sé.
Tatuapé
As lojas até estavam abertas na região do Tatuapé, mas sem clientes. "Isso aqui está um cemitério", disse o eletricista Noel Arara, 52, enquanto tomava um café em uma lanchonete na esquina das ruas Tijuco Preto com Tuiuti.
A via, conhecida por concentrar muitas lojas, estava praticamente vazia. O morador de Sapopemba foi acompanhado da irmã Dilma Arara, 52, para uma perícia que estava agendada no INSS. "Chegamos mais cedo, mas perdemos a viagem porque a agência também estava fechada por causa da greve", disse Dilma.
O café dos irmãos foi servido pelo próprio dono do estabelecimento, Manuel Grigório de Macedo, 56. Isso porque nenhum funcionário dele conseguiu chegar ao trabalho. "Está pior do que feriado. Se continuar assim, vou ter uma queda de 70% nas vendas", lamentou.
Grigório disse que está para se aposentar este ano e que está com medo das mudanças propostas pelo governo, mas afirmou não apoiar a paralisação. “Fazer greve em uma sexta véspera de feriado não adianta nada. Tem que fazer greve é no dia das eleições”, defendeu.
Na loja de sapatos em que trabalha Alessandra Silva, 22, só havia entrado um cliente até as 10h. "Entrou e não levou nada. O movimento está muito fraco hoje por causa da greve. Eu mesma só consegui chegar porque o patrão pagou o Uber”, disse.
Jabaquara e Paulista
O não funcionamento do terminal rodoviário e da estação de metrô no Jabaquara esvaziou lanchonetes, bombonieres e estacionamentos da vizinhança. Nem mesmo os taxistas conseguiram tirar proveito da falta de transporte público: sem passageiros chegando de ônibus, explicaram, não tinham como se valer, por exemplo, da falta de metrô para incrementar o orçamento. Às 10h, por exemplo, uma longa fila de táxis era vista ali.
"Hoje até que era para ser um dia bom de movimento para a gente, mas se não tem como o passageiro chegar à estação, não adianta nada", lamentou o taxista Daniel Coelho, 29. “Cheguei às 7 da manhã, com esse frio, e só fiz duas corridas", complementou um colega de ponto dele, Rafael Gomes, 26.
Em um estacionamento ali perto, o manobrista Jarlam Barbosa de Lima, 24, contabilizava 20 veículos que faltavam hoje na garagem por conta da greve. No momento da entrevista, havia apenas quatro veículos no local.
"Hoje está pior que feriado, quando as pessoas ainda se movimentam, passeiam, deixam o caro aqui para pegar o metrô. Na minha opinião, greve neste país não adianta de nada, vai tudo continuar a mesma droga”, opinou.
Gerente de uma lanchonete, Carlos Pedrosa, 41, notou "apenas 50%" do movimento de um dia normal. Também para ele, “nem em feriado é ruim assim”. “Mas pode escrever aí, moça: sou contra essas reformas, principalmente a da Previdência”, disse.
Ali do lado, o gerente de uma bomboniere, Telmo Fonseca, 55, fez coro ao vizinho: "Não concordo com a forma como estão tentando fazer essas reformas, sem ouvir o povo. Só que o movimento nosso aqui hoje caiu cerca de 70%. Até feriado é melhor”, declarou.
Fonseca contou que pediu ao único funcionário que dormisse na casa de um vizinho da loja para que não perdesse o dia de trabalho. “Dia 15 de março [dia da outra greve] foi um sufoco”, justificou.
Dona de uma lanchonete pequena com o marido, Antônia Alves Macedo, 39, disse que, hoje, “só vendi para taxistas --e quase nada”. “Se essa greve fosse para resolver o que estão querendo fazer com a nossa aposentadoria, tínhamos era que fecha tudo. Mas não resolve”, resignou-se.
Na Paulista, com movimento de pedestres bem abaixo do normal, três shoppings centers abertos na avenida e nas imediações contrastavam, de manhã, com as lojas pequenas fechadas. Entre as poucas que insistiam em abrir, a mesma queixa dos comerciantes da zona sul. “Não vendemos quase nada hoje, nem mesmo em feriado a gente vê isso”, definiu José Ramos Barbosa, 62, gerente de uma loja de sucos.
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