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Usuários de drogas controlam merenda em colégio centenário do Rio, relatam professores

Colégio estadual Visconde de Cairú foi protagonista nas ocupações de 2016 - Reprodução/Facebook
Colégio estadual Visconde de Cairú foi protagonista nas ocupações de 2016 Imagem: Reprodução/Facebook

Patrick Mesquita

Colaboração para o UOL

24/05/2017 13h23

As denúncias sobre a situação do Colégio Estadual Visconde de Cairu, no Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro, ganharam um novo capítulo. Além de sexo e uso de entorpecentes nas dependências da escola, há também relatos de que usuários de drogas controlam a merenda destinada aos alunos.

O UOL teve acesso a um dossiê feito pelo Conselho Escolar do local que pontua todas as ocorrências notadas nos últimos meses. A ausência de funcionários para segurança e inspeção é o principal motivo apontado por quem tenta manter as aulas.

De acordo com professores, que preferiram não se identificar por medo de represálias, já é rotineiro “dissabores” com as refeições. Sem a devida inspeção, a organização da merenda fica por conta dos próprios docentes.

“Até a merenda os usuários de drogas (alguns alunos, outros não sabemos) controlavam. Eles decidiam quem comia ou não. Conseguiram, a partir do início do mês, temos ido lá para organizar a fila. Agora, todos comem, inclusive eles (usuários)”, conta um professor.

O local tem encontrado dificuldades em diversos aspectos. Perto de completar 100 anos, a escola tem quase 15 mil metros quadrados, cinco andares e conta com apenas dois inspetores no período da manhã.

Os relatos são de que não há como controlar quem entra nas dependências, o que tem causado transtornos, como uso de drogas, furtos, música alta e cenas de sexo.

“Alunos jogando futebol, baralho, música, bebidas alcoólicas, relações sexuais em seus horários de aula e fora de suas salas. Uso de drogas ilícitas nas dependências da escola”, aponta parte do dossiê. O UOL teve acesso à íntegra do documento.

Os profissionais que seguem no Visconde de Cairu tentam pedir ajuda, mas afirmam ser ignorados. “Pedimos socorro há algum tempo. É uma tragédia anunciada. Quando acontecer, o governo vai fazer o que sempre fez: dizer que não sabia. Eles dizem que vão resolver, mas não têm recursos”, conta o professor.

A contratação de funcionários terceirizados é de responsabilidade da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc). Em nota enviada ao UOL na terça-feira, o órgão afirmou que os problemas expostos são próprios da direção da escola.

Procurada pela reportagem, a direção confirma a existência de problemas, mas se nega a dar detalhes sobre a gravidade.

Já o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), a quem foi enviado o dossiê duas vezes, se manifestou na quinta-feira (25) por meio de nota oficial. 

"A 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Proteção à Educação da Capital do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) recebeu representação com uma série de relatos sobre o Colégio Estadual Visconde de Cairu, localizado no Méier. Foi determinada a imediata expedição de um ofício, em caráter de urgência, para a Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC), requisitando esclarecimentos sobre todos os fatos relatados. A representação recebida pelo MPRJ foi ainda juntada ao inquérito civil 351/11, que tramita na referia promotoria e que trata sobre a carência de professores e pessoal administrativo na unidade, além da verificação da infraestrutura do local. Uma cópia dessa representação foi encaminhada para a 3ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Proteção à Educação da Capital para análise dos relatos sobre problemas no refeitório do colégio. Outra cópia foi encaminhada para a 1ª Central de Inquéritos do MPRJ, para providências cabíveis sobre a possível prática de crimes no interior da escola. Uma terceira cópia foi remetida para o Conselho Tutelar da região e para a Promotoria da e Infância e Juventude respectiva para providências sobre o acompanhamento da situação individual dos alunos do Colégio Estadual Visconde de Cairu".