Transexual reage a ofensas verbais e é agredida em rodoviária de Brasília
A matemática transexual Natalha Santos do Nascimento, de 33 anos, foi agredida fisicamente na madrugada do último dia 26 de junho enquanto aguardava um ônibus, em Brasília. Ela levou socos e chutes do funcionário de uma pastelaria na Rodoviária Plano Piloto.
“A agressão verbal já acontecia há uns dias”, lembra a matemática. “Me chamavam de Pablo, eu virava e eles fingiam que não era com eles. Às vezes aparecia alguém para conversar comigo, eles gritavam. Já tinha pedido para parar.”
Com as roupas rasgadas, ela confrontou o agressor e ele a ameaçou de morte. “Foi então que enfrentei meu segundo desafio: encara o olhar das pessoas. Eu estava toda suja. Quando eu cheguei em casa, tomei banho e me cabelo caía muito. Não consegui dormir e só saí de casa no dia seguinte à noite. Fiquei dois dias sem trabalhar”, relata.
A jovem fez um boletim de ocorrência contra o funcionário na 5ª Delegacia de Polícia de Brasília dois dias depois do ocorrido. “Inicialmente, eles não souberam lidar. A pessoa que me atendeu fazia perguntas como se eu tivesse cometido o crime”, afirma. “Mas quando eu contei a história ele entendeu e sugeriu que eu fosse ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer o exame e ao Ministério Público para conseguir uma indenização.” Ela foi ao IML na última segunda-feira (29) e decidiu não ir ao MP, pois não busca indenização.
Na última quarta-feira (31), Natalha fez a denúncia no Conselho Distrital de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (CDPDDH), que marcou uma reunião entre a matemática, os responsáveis pela pastelaria e a ONG Estruturação para a apresentação de sete propostas para o estabelecimento. Apenas uma foi negada: um curso de conscientização de 40 horas semanais para os 230 funcionários do negócio.
“Teve muita sugestão legal, anotamos todas”, afirma Sebastião Liaffa, gerente da pastelaria. “Só não pudemos atender a última porque o curso ainda não foi formatado. Mas eles falaram que vão criar a grade e aí vamos analisar.”
Em uma mensagem publicada nas redes sociais na última quarta-feira, a pastelaria informa que o funcionário foi demitido e que repudia “veementemente todo e qualquer tipo de discriminação e preconceito”. “Pedimos desculpas pelo incidente ocorrido e nos colocamos à disposição para qualquer esclarecimento”, conclui a nota.
O conselho e a ONG Estruturação marcaram uma manifestação com a presença de Natalha para amanhã (3) às 15h em frente à pastelaria. Liaffa diz considerar o ato “muito positivo”. “Nós apoiamos qualquer tipo de ação contra o preconceito”, afirma o gerente.
Natalha revela que sofre ofensas diárias por sua situação. “Pessoas te olham na rua, funcionários das empresas de ônibus são despreparados...”, afirma. O preconceito foi, inclusive, o motivo para ela ter largado o posto de professora de matemática da rede pública. “Um aluno de 16 tentou me matar com facadas. Eu fiz a denúncia, mas a secretaria tentou abafar o caso: me afastaram da escola e não me recebem mais”, conta a jovem.
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