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"Não deve ser considerada sucesso", diz Anistia Internacional sobre ação policial com 10 mortos

Moradores registraram o tiroteio no Morumbi

UOL Notícias

Luís Adorno e Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

05/09/2017 09h51Atualizada em 05/09/2017 09h51

A Anistia Internacional, assim como a Ouvidoria da Polícia de São Paulo, pediu que o Ministério Público investigue a ação da Polícia Civil ocorrida no último domingo (3), no Morumbi, em que 10 suspeitos de pertencerem a uma quadrilha de assaltos a casas de luxo foram mortos em um tiroteio.

"O MP, que tem o papel de exercer o controle externo da atividade policial, deve investigar prontamente a ação neste caso", afirma a Anistia, por meio de nota. "É algo que o MP tem de acompanhar de perto. O que me chama a atenção é que cinco morreram dentro do carro. Como teriam atirado dentro do carro?", disse o ouvidor Julio Cesar Neves.

De acordo com Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, não se pode aceitar com naturalidade uma ação policial que tenha resultado em dez pessoas mortas. "Isso não é política de segurança pública adequada", disse. "É necessário repensar as estratégias de ação da polícia para que isso não se repita. A ação de combate ao crime deve ser planejada de forma a proteger e preservar a vida de todas as pessoas, inclusive aquelas envolvidas em atos ilícitos", complementou.

"A ação da polícia também não deveria ser considerada "um sucesso". O papel da polícia não é matar e uma intervenção que resulte em dez pessoas mortas não pode ser considerado referência de eficiência ou sucesso da ação policial. O combate ao crime, fundamental para a garantia de segurança pública para todas as pessoas, não é incompatível com a garantia de direitos humanos e o respeito ao devido processo legal", afirma, em nota, a Anistia.

04.set.2017 - Criminosos estavam em um Hyundai Santa Fé e um Fiat Toro - Divulgação/Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil
04.set.2017 - Criminosos estavam em um Hyundai Santa Fé e um Fiat Toro
Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a ação teve "inteligência" e uma "eficiência de Deus".

Quem está de fuzil não está querendo conversar. Eram criminosos fortemente armados, com munição inclusive que nem pode ser utilizada e coletes balísticos

Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo

Nesta terça (5), ele reafirmou os elogios à operação policial em entrevista à Rádio Bandeirantes. "Carros da polícia foram cravejados de bala. Esse resultado extremamente positivo para a polícia, foi resultado de dois meses de acompanhamento e monitoramento intenso, e do número de policiais, porque em uma ação dessas não pode ir com pouca gente. Foram 36 policiais atuando simultâneos e policiais com fuzis", disse.

No entanto, o número de policiais envolvidos informado pelo governador nesta terça-feira não é o mesmo que a Polícia Civil informou em uma coletiva de imprensa realizada na segunda. De acordo com o delegado Ítalo Zaccaro Neto, que atuou na inteligência da polícia no caso, havia quatro policiais em carros descaracterizados na busca pelos criminosos. Quando encontraram, pediram apoio. Ao todo, segundo o delegado, foram 13 policiais contra 10 ladrões armados com quatro fuzis.

"A eficiência vem de Deus, porque estamos do lado do bem e eles, do mal. E nós treinamos. Eles se acham mais fortes do que a polícia da área. Qualquer coisa que aconteça, eles vão para cima", disse Zaccaro Neto. Ao todo, os 10 suspeitos foram atingidos por 139 tiros. Só um deles foi baleado 33 vezes. Outro levou 27 disparos, sendo 13 deles nas costas.

O caso é investigado por equipes do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil. O MP não informou, até a publicação desta reportagem, se um promotor foi designado para acompanhar as investigações.