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Filhos cumprem desejo do pai e fazem seu velório em bar, com pinga e música

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

23/04/2019 18h22Atualizada em 23/04/2019 18h41

Diabético, hipertenso e com problemas de visão, Valdívio Soares Pereira, 68, o Maré Boa, morreu na noite de sábado (20), em Barão de Cocais (MG), distante 98 km de Belo Horizonte, por complicações da doença. E seu velório não foi nada tradicional: foi regado a bebida no bar de Maré Boa e reuniu seus três filhos, noras e oito netos, além de dezenas de amigos, vizinhos, conhecidos e admiradores do mais famoso boêmio da cidade mineira de 32 mil habitantes.

No funeral, que durou cerca de seis horas, foram servidos pinga e cerveja. A máquina de Jukebox (onde se depositam fichas para pedir músicas) do bar ficou todo o período à disposição dos presentes. Tudo de graça no dia do falecimento do proprietário.

"A família cumpriu o seu (do pai) desejo. Ele tinha um alto astral. Nada abalava o cara", diz o almoxarife Adriano Felipe Pereira, 48, um dos filhos de Maré Boa. "Ele sabia que ia morrer e não queria ninguém triste com isso. (...) Foram consumidos uns quatro engradados (24 garrafas de 600 ml) e uns três litros de cachaça. Não calculei quanto gastamos."

Vivendo intensamente

"Não era só com a família que ele comentava, não. Ele dizia isso pra todo mundo. Ele já estava doente, na base de remédio, e falava que queria um enterro com música e cerveja. Ele falava que não queria tristeza", diz uma vizinha de Maré Boa.

"Ele era uma pessoa muito alegre, muito conhecida aqui em Barão de Cocais. Todo mundo gostava dele", diz a jovem, que não quis se identificar. "Não posso. A família é que tem de falar dele".

Valdívio Soares Pereira, 68, o "Maré Boa" era conhecido pela vida boêmia e foi velado em um bar - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Valdívio Soares Pereira, o "Maré Boa", era conhecido pela vida boêmia e foi velado no bar
Imagem: Arquivo pessoal
"Meu pai viveu intensamente. E a doença (diabetes) nunca o deprimiu. Ele sempre tomava uma cervejinha, não cuidava da alimentação e comia até doce. Levava tudo na brincadeira. Sempre foi uma pessoa feliz e o maior pai do mundo", afirma o almoxarife.

Segundo ele, o pai começou a fazer o pedido de um velório no bar e regado a bebida após descobrir que tinha problemas de saúde, 15 anos atrás.

Maré Boa trabalhou em casas noturnas, restaurante e bares e foi taxista em Belo Horizonte. Casado por 40 anos, após a separação, mudou-se para Barão de Cocais, onde abriu o bar. Tinha o apelido de Maresia desde a infância, que ele mesmo mudou para Maré Boa depois de adulto, após uma autoavaliação de sua personalidade, explica o filho.

Cinzas no boteco

Na noite da quinta-feira (18), o comerciante começou a passar mal e foi levado pelo neto que o acompanhou no último ano de vida, o estudante Guilherme Felipe Pereira, 20, o Marezinho, para um hospital do município. Com uma parada cardíaca, Maré Boa foi transferido para um outro hospital, em Itabira (MG), município vizinho a Barão de Cocais, mas não resistiu e faleceu.

Ontem, o corpo do boêmio foi cremado em Belo Horizonte. As cinzas serão levadas à igreja, que ainda não foi definida, para a missa de Sétimo Dia. Depois da celebração católica, as cinzas serão colocadas em uma estante do boteco, ao lado de uma imagem de Nossa Senhora da Aparecida, santa de devoção de Maré Boa. Outro desejo do falecido atendido pela família.