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Igreja e MST criam cozinha solidária para alimentar população de rua em PE

Igreja e MST criam cozinha solidária para alimentar população de rua em PE - Divulgação
Igreja e MST criam cozinha solidária para alimentar população de rua em PE Imagem: Divulgação

Kleber Nunes

Colaboração para o UOL, em Recife

26/03/2020 19h32

Hoje, a estudante Luana Figueirêdo, 23 anos, deixou o hotel onde está isolada há dez dias para encontrar José Antônio, 43 anos, desempregado, no bairro de Santo Antônio, no centro do Recife. Ela quebrou a quarentena por opção para ajudar como voluntária do projeto Marmitas Solidárias. Já José Antônio não teve escolha: ele vive em situação de rua e precisa do jantar, que ela ajuda preparar e servir, para não ficar ainda mais suscetível à infecção do novo coronavírus.

"Se por acaso eu pegar essa doença [covid-19] tenho possibilidades para buscar o tratamento, eles que estão na rua não têm essa chance, por isso vale a pena o risco, é por algo maior", diz a jovem, que preferiu se isolar da mãe recém-chegada da França e que está no grupo de risco.

"Para a gente, que mora na rua e não tem nada, isso aqui é uma maravilha. Graças a Deus ainda têm pessoas de bom coração porque, depois dessa doença, muitos nem querem sair de casa", afirma José Antônio, esforçando-se para lembrar o sobrenome enquanto aguarda a refeição.

O lugar ao qual José Antônio se refere e onde ele encontra com Luana e cerca de mais dez voluntários é chamado de Armazém do Campo. Inaugurado a menos de um ano, o espaço, que fica à beira do rio Capibaribe, funcionava até terça (24) como local de venda para produtos orgânicos cultivados em hortas de trabalhadores da agricultura familiar.

Desde ontem, com o apoio da Arquidiocese de Olinda e Recife, o Movimento Rural dos Trabalhadores Sem Terra (MST) montou no prédio antigo uma cozinha solidária, onde mãos generosas preparam e distribuem cerca de mil marmitas somando café da manhã e jantar. Os alimentos serão preparados e doados até o fim da pandemia no estado.

"Com a diminuição da circulação de pessoas e o fechamento de bares e restaurantes vimos essa necessidade. A estratégia é suprir a carência dos beneficiários que só contam com o restaurante popular da prefeitura do Recife no almoço", conta o integrante do MST e assessor da Pastoral da Juventude Rural de Pernambuco, Paulo Mansan.

Todo processo logístico de produção e distribuição dos alimentos é feito seguindo as recomendações das autoridades sanitárias. Voluntários usam equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras, esterilizam superfícies com álcool e evitam a aglomeração dos beneficiários. Cuidados redobrados, já que a cidade foi a primeira do Nordeste a registrar morte por covid-19, já são três no total.

"É uma ação emergencial em meio a um trabalho constante dessas organizações da sociedade civil e da igreja. Sobretudo este ano, que temos como ícone da Campanha da Fraternidade a Santa Dulce dos Pobres, não poderíamos ficar alheios aos nossos irmãos que estão nas ruas", afirma o bispo auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife, dom Limacedo Antônio da Silva.

Além do apoio da pastoral dos jovens do campo, o projeto também conta com a ajuda de algumas ONGs e grupos de voluntários, que fazem um trabalho permanente de assistência aos que vivem sem abrigo. Chamada de Unificados pelo povo em situação de rua, a turma tem se mobilizado em busca de doações.

"Nossa necessidade mais urgente são as máscaras e os itens de higiene pessoal como sabonete, pasta e escova de dente e shampoo", explica Luana. A carência dos produtos de limpeza surgiu hoje com a chegada de mais um parceiro, o Banho de Cidadania Recife, que oferece um banheiro móvel aos desabrigados e os kits de limpeza.

Como ajudar?

Alimentos e produtos de higiene podem ser entregues na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que fica na Estreita do Rosário, S/N, bairro de Santo Antônio, área central do Recife. O ponto de coleta de doação funciona de segunda a sexta, das 10h às 14h.