'Banheiro químico caiu comigo dentro, saí e parecia Moisés abrindo o mar'
Parecia apenas mais um Carnaval na vida de Fernanda Belieny, mas a folia terminou em uma experiência "inesquecível". Um banheiro químico tombou com ela dentro — e o final da história virou motivo de risadas. A enfermeira, hoje com 35 anos, conta com bom humor o que aconteceu no Carnaval em Saquarema (RJ), há 12 anos.
Banheiro químico na areia
"Estava com minha irmã e uma amiga no meio de um bloco, naquela loucura que é bloco de rua. E a gente falou: 'vamos ao banheiro', porque não tinha como esperar o bloco passar. Estava muito cheio.
Naquela época, Jaconé [bairro entre Saquarema e Maricá] estava em obra. Hoje em dia tem uma pracinha bonitinha, mas naquela época estava em obra e estava tudo cheio de entulho.
Eles montaram os banheiros químicos perto da areia da praia. Então não era [um terreno] fixo.
Era uma fila imensa e, quando chegou minha vez, o bloco já estava virando a rua e muito perto da gente. Foi quando um rapaz subiu em cima do banheiro em que eu estava. Minha amiga começou a gritar para ele sair, que era para ele descer.
O banheiro estava na areia, nessa coisa que não era estável... E o banheiro caiu comigo dentro, com a porta virada para o chão.
Eu nem lembro do garoto, porque esse menino sumiu. Ele só foi a pessoa que virou o banheiro. Todo mundo ficou preocupado comigo e ninguém sabia do garoto.
Como isso aconteceu em um sábado de Carnaval, na sexta-feira já tinha rolado um show. Então, mesmo sendo o primeiro dia do Carnaval, o banheiro já tinha sido usado. Já tinha dois dias que ele estava ali.
'Nessa hora, a gente só pensa na mãe'
Eu escutava minha amiga gritando. O bloco parou a música, foi criada uma confusão, não sei se o cara que estava cantando achou que era briga.
Foi quando eu consegui escutar um rapaz gritando que estava tudo bem, que eles iam revirar o banheiro para eu sair. Eles tinham de levantar o banheiro de novo porque a porta caiu para baixo. Quando eles reviraram, eu abri a porta.
Aquela coisa foi surreal, era muita gente olhando para mim. E eu completamente cheia de merda, aquela água estava em tudo o que é lugar do meu corpo.
Não sei te dizer se engoli alguma coisa, mas provavelmente sim. O álcool sumiu na hora e eu pensei: 'minha mãe vai me matar'. Nessa hora a gente só pensa na mãe.
Eu estava de biquíni, mas não tinha como ir à praia me molhar. O mar naquela área é muito perigoso, tem ondas surreais. Lembro que tirei a blusa e fiquei com a parte de cima do biquíni e shorts jeans.
Fui para casa a pé, acompanhada da polícia, porque não tinha condições. Eles me escoltaram porque não podia nem entrar no carro.
E o cabelo?
Todo mundo me olhava e fui 'abrindo caminho'. Ninguém queria ficar perto de mim. Eu parecia Moisés abrindo o mar: onde eu passava, as pessoas se afastavam.
Quando eu cheguei em casa, ela [a mãe] já veio me xingando de tudo quanto é nome. Quando falaram o que tinha acontecido, foi menos mal.
Mas ela não me deixou entrar dentro de casa, tive de tomar banho no chuveiro que é do lado de fora da casa — era uma vila e tinha um chuveiro para molhar o pé quando viesse da praia.
Na época, meu cabelo era todo enroladinho, então as coisas eram mais fáceis de grudar. Entrei debaixo do chuveiro e caiu um absorvente interno do meu cabelo. A roupa a gente jogou fora e, ali, eu tomei uns 300 banhos — até acabar com o vidro de xampu.
Depois do banho, meus pais me levaram para o hospital de Araruama. Tive de fazer vários exames e repetir depois de alguns meses.
Tive de tomar de novo todas as vacinas para hepatite, tétano, fiquei um tempo fazendo exames para HIV porque eu poderia ter me cortado. Também tomei remédios para prevenir contaminações que poderiam acontecer.
Meu Carnaval acabou ali. Minha mãe não me deixou voltar para a rua. Fiquei vendo desfile das escolas de samba, não podia mais beber porque estava tomando remédio. Mas foi bom, tirando o que aconteceu.
'Nunca vou sozinha'
Hoje ainda entro em banheiro químico, mas com a porta aberta, não tranco mais. E só entro quando ele está virado para a parede e nunca vou sozinha. Se não for com alguém que eu conheço, acabo conhecendo alguém na fila para ficar comigo porque tenho medo.
A qualquer movimento, eu pulo para fora. Se eu puder ir à rua [fazer xixi], prefiro. Ainda é um lugar mais limpo do que esse banheiro. É muito, muito fedido."
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