Rebeldes usam violência para converter cristãos sírios ao islã
Os rebeldes sírios que ocupam a cidade cristã de Maalula usaram violência e ameaças para converter habitantes locais ao islamismo, moradores disseram à agência AFP.
"Eles chegaram na nossa cidade no amanhecer de quarta-feira passada (4) e gritaram: 'Somos da Frente al Nusra e viemos tornar a vida dos cruzados em um terror", afirmou uma mulher chamada Marie. Cruzado é o termo usado pelos muçulmanos locais para se referir aos cristãos.
Em entrevista à AFP, Marie contou que participou dos funerais de três cristãos mortos em Maalula na semana passada. Centenas de pessoas compareceram, marchando pelas ruas da cidade histórica.
Maalula é uma das cidades cristãs mais conhecidas da Síria e seus habitantes ainda falam aramaico. Cerca de 5.000 pessoas moram no local, estratégico para os rebeldes que tentam cercar Damasco e assumir o controle da principal estrada que liga a capital a Homs, uma via chave para o abastecimento das tropas do regime.
Os confrontos na cidade começaram na quarta-feira passada quando jihadistas da Frente al Nusra atacaram um posto do Exército na entrada de Maalula.
Na terça-feira (10), os insurgentes anunciaram que haviam deixado a localidade. No entanto, nesta quarta (11), muitos rebeldes permaneciam na cidade.
Rebeldes aterrorizam cristãos
Morador de Maalula, Adnan Nasrallah, 62, disse que uma explosão destruiu um arco em frente a sua casa, que leva para a cidade.
"Eu vi pessoas usando faixas da al Nusra na cabeça atirando em cruzes", disse Nasrallah.
"Um rebelde colocou uma pistola na cabeça do meu vizinho e o obrigou a se converter ao Islã. Ele era forçado a repetir 'não há Deus além de Deus', contou. "Depois, o rebelde brincou: 'ele é um dos nossos agora", completou.
Nasrallah, que viveu 42 anos nos EUA onde administrava um restaurante, disse que estava arrasado com o que aconteceu em Maalula.
"Eu tinha um grande sonho. Voltei para o meu país para promover o turismo. Eu construí uma pousada e gastei US$ 2.000 na instalação de um moinho de vento para fornecer eletricidade na cidade. Meu sonho foi por água abaixo. Quarenta e dois anos de trabalho para nada", lamentou.
Mas o pior, para ele, foi o que ele disse foi a reação dos seus vizinhos muçulmanos, quando a cidade foi tomada pelos rebeldes.
"As mulheres saíram em suas varandas, gritando com alegria, e as crianças faziam o mesmo. Descobri que a nossa amizade era superficial", contou.
Mas a irmã de Nasrallah, Antoinette, recusou-se a condenar todos.
"Há refugiados de Harasta e Douma (subúrbios de Damasco) que nós acolhemos, e eles estão espalhando o veneno do ódio, especialmente entre a geração mais jovem", disse ela.
A mais trágica história era a de Rasha, que contou como os jihadistas tinham detido e assassinado seu noivo Atef, que pertencia à milícia da cidade. Boa parte da minoria cristã que vive na Síria apoia o regime de Bashar Assad.
"Liguei para o celular dele e um rebelde atendeu. Ele disse que era do Exército Livre da Síria e que meu noivo teve a garganta cortada porque era membro da Shabiha (milícia pró-Assad)", contou.
"Bom dia, corrida Rash", a voz disse, usando seu apelido. "Somos do Exército Sírio Livre. Você conhece o seu noivo era um membro da Shabiha (milícia pró-regime) que estava carregando armas, e temos que cortou sua garganta."
O homem disse a ela que a Atef foi dada a opção de se converter ao Islã, mas ele se recusou.
"Jesus não veio para salvá-lo", zombou o rebelde. (Com AFP)
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