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O que aconteceu com os pedaços do Muro de Berlim após sua queda?

Gabriela Fujita

Do UOL, em São Paulo

06/11/2014 06h00Atualizada em 06/11/2014 07h43

Uma pergunta que não escapa a muitos dos milhares de visitantes que a capital alemã recebe todos os anos: o que aconteceu com o Muro de Berlim após sua queda?

Ainda é possível conhecer torres de observação e trechos que restaram da muralha de concreto que dividiu a cidade e a Alemanha entre Oeste e Leste, entre um regime democrático de governo e o comunismo. Mas, de acordo com um levantamento feito pelo jornal britânico “The Guardian”, hoje existem mais fragmentos do muro fora do país do que em Berlim.

Quando o fim da separação entre os dois lados foi anunciado, no dia 9 de novembro de 1989, milhares de pessoas deram início a comemorações no local, tentando ao mesmo tempo destruir o que ficara com pás, picaretas e o que tivessem à mão, marretando o paredão de 3,6 metros de altura e 155 km de extensão.

Colecionadores e pessoas interessadas no valor financeiro que pedaços e segmentos inteiros do muro poderiam adquirir no futuro passaram a fazer propostas de compra. A primeira oferta foi feita já no dia seguinte à queda, por um segmento inteiro do muro, vindo de um empresário da Baviera.

Logo as autoridades do governo em transição da Alemanha Oriental viram aí uma fonte de recursos.

Precisando de dinheiro em moeda estrangeira, elas chegaram a ordenar a demolição da estrutura com o objetivo de garantir o “uso comercial de segmentos completos”. Mesmo após o cessar das restrições entre leste e oeste, guardas foram mantidos para, ironicamente, evitar que houvesse "depredação".

Quem vai aos museus e memoriais dedicados ao Muro de Berlim pode comprar, como souvenir, alguns desses fragmentos de concreto, com tamanho entre 5 cm e 10 cm. Muitos têm certificado de autenticidade, mas, se são realmente genuínos, aí é uma outra questão.

Importância simbólica

Fora da Alemanha, muita gente também queria botar as mãos naquilo que, de repente, representava democracia, coragem civil e o triunfo do Ocidente sobre o Oriente.

Cerca de 600 partes do muro encontraram lugar fora da Alemanha, com a criação de 140 memoriais pelo mundo. Na Jamaica, por exemplo, o presente dado ao corredor Usain Bolt em 2009 foi hospedado em Kingston.

Uma das maiores coleções fora da Alemanha está localizada perto do vilarejo polonês de Sosnovka, na região de Wroclaw, onde o dentista Ludwik Wasecki juntou mais de 40 pedaços do muro e os organizou em instalações artísticas.

Há registros de partes do muro ainda nos Estados Unidos (quase cem), na Coreia do Sul, na África do Sul, na Austrália, na Argentina e até mesmo na Rússia.

Particularmente as partes grafitadas do muro do oeste ficaram populares entre os compradores depois de 1989. Uma empresa japonesa ofereceu US$ 185 mil (cerca de R$ 460 mil atuais) por um único pedaço.

As seções menos fotogênicas, compondo a maior parte do muro original, foram demolidas e usadas na construção de estradas.

O trecho mais longo do muro mantido em Berlim pode ser visto na galeria Friedrichshain, ainda que as pinturas e o grafite tenham sido renovados no ano de 2009.

Há outros 212 metros de muro no memorial Topografia do Terror, 70 metros no memorial Bernauer Strasse, alguns segmentos isolados no Potsdamer Platz, e um tipo de ‘Muro de Berlim Stonehenge’ em Treptow, onde qualquer pessoa pode pintar sobre os pedaços de concreto.

Coleção exclusiva para chefes de Estado

A cidade de Berlim é dona de uma coletânea guardada em seu Jardim Botânico, destinada exclusivamente a presentear quem vai à capital alemã em visita de Estado. São segmentos que formavam a parte oeste do muro. Da coleção inicial com 30 unidades (originalmente eram 54 mil no lado oeste), restam apenas oito.

Cada bloco desses pesa cerca de 2,5 toneladas, com dimensões de aproximadamente 3 metros de altura e 2 metros de largura. Ou seja, levar o presente para casa não é fácil nem barato. Por causa disso, há situações em que a autoridade recebe em seu país a ‘lembrancinha’.

Este foi o caso do então presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, que não pode participar da cerimônia de entrega quando esteve em Berlim em maio de 1998. Seu ‘menir’ foi enviado da capital para Hamburgo e depois despachado de navio para Baltimore, nos EUA.

Acontece que, em meio ao escândalo do caso Monica Lewinksy, Clinton nunca pode receber formalmente seu pedaço do Muro de Berlim. A peça de concreto ficou guardada, por algum tempo, em um depósito em Baltimore, de onde sumiu, e até hoje tem paradeiro desconhecido.