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Manifestantes voltam às ruas contra Maduro, que diz que não aceitará "golpe"

Forças Armadas da Venezuela reafirmam lealdade a Maduro

AFP

Do UOL, em São Paulo

26/10/2016 13h00

Apoiadores da oposição da Venezuela participam nesta quarta-feira (26) de manifestações em todo o país contra o impopular presidente socialista Nicolás Maduro, a quem acusam de ter se tornado um ditador por impedir um plebiscito que poderia retirá-lo do poder.

A nação sul-americana rica em petróleo atravessa uma recessão cruel, que vem obrigando muitas famílias pobres a cortar refeições ou sobreviver de mingau devido à escassez de alimentos e à inflação de três dígitos.

A coalizão opositora diz que Maduro precisa sair antes que a situação piore, mas na semana passada as autoridades eleitorais venezuelanas cancelaram a segunda etapa de uma coleta de assinaturas para a convocação de um referendo revogatório contra o presidente citando fraudes na primeira coleta.

Revoltada, a oposição afirmou que Maduro, um ex-motorista de ônibus e líder sindical, passou dos limites, e realizou uma passeata liderada por mulheres vestidas de branco no sábado, deu início a um julgamento político do líder no Congresso na terça-feira e organizou manifestações chamadas de "Tomada da Venezuela" para esta quarta-feira.

"Estamos no estágio final desta luta democrática", disse o líder opositor preso Leopoldo López em tuítes enviados de sua cela e publicados por sua família. "Deixem as ruas e estradas mandarem uma mensagem à repressão e à censura desta ditadura".

Alguns apoiadores da oposição relataram em redes sociais que bloqueios de estradas montados por forças de segurança estão atrasando sua entrada em Caracas, onde muitos pontos comerciais estão fechados e alguns pais não deixaram os filhos irem à escola.

Maduro rebate as acusações dizendo que na verdade é a oposição que tenta dar um golpe de Estado disfarçado por protestos pacíficos.

"Alguns querem ver a Venezuela cheia de violência e dividida", afirmou, usando uma camisa vermelha, a apoiadores entusiasmados durante um ato na terça-feira, quando prometeu se manter firme. "Eles não voltarão! A revolução irá continuar", disse, de punho erguido.

"Obama ordenou incendiar a Venezuela", diz Maduro

AFP

Ele convocou um Comitê para a Defesa da Nação no palácio presidencial nesta quarta-feira para analisar as ações tomadas contra ele pela Assembleia Nacional e um diálogo com a oposição em princípio agendado para esta semana.

Também acusou o presidente dos EUA, Barack Obama, de interferir na política interna do país.

Em Caracas, onde se espera que sejam registrados os maiores protestos, centenas de pessoas começavam a se concentrar em sete pontos, de onde marcharão até a estrada Francisco Fajardo (leste).

"Sequestraram nosso direito (de revogar Maduro). Isso é o que estamos exigindo hoje em toda a Venezuela, o retorno à democracia", afirmou o secretário da coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba.

Várias lojas do leste da capital permaneciam fechadas, enquanto sete estações do metrô da cidade foram bloqueadas "para a proteção dos usuários", segundo a empresa administradora.

A chamada "Tomada da Venezuela" ocorre no que deveria ser o primeiro de três dias para a coleta de quatro milhões de assinaturas (20% da lista eleitoral), último passo antes da convocação para referendo. Ao cumprir este requisito, a oposição queria evidenciar a rejeição majoritária ao governo.

Mas o processo foi suspenso na semana passada por tribunais penais regionais, que acolheram denúncias de fraude apresentadas pelo governismo em uma primeira etapa da coleta de assinaturas.

Poder versus capital político

"A força da oposição são os votos do povo", disse à AFP o cientista político Luis Salamanca, que considera que a suspensão do processo revogatório "colocou o conflito político em um ponto crítico".

Em dezembro de 2015, a oposição venceu amplamente nas eleições legislativas e pela primeira vez em 17 anos de chavismo conquistou a maioria parlamentar.

No entanto, a justiça declarou a Assembleia em desacato e seus atos são considerados nulos. "A Assembleia Nacional foi esvaziada de suas competências. É uma dissolução a conta-gotas", disse Salamanca.

"O capital político é da MUD, mas o governo tem o poder. Para que a oposição alcance o resto dos poderes é preciso realizar eleições", comentou o especialista.

No entanto, desprovido da possibilidade de mobilizar seus seguidores em um evento eleitoral imediato, o desafio lançado pela oposição é o protesto. (Com agências internacionais)