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Ativistas do Femen lançam vários protestos na Alemanha, mas público não se choca mais

Inna Shevchenko, líder do movimento feminista ucraniano, concede entrevistas a jornalistas depois <br>de deixar tribunal onde estava sob custódia em Madri (Espanha). Imagem de 9 de outubro  - Dani Pozo/ AFP
Inna Shevchenko, líder do movimento feminista ucraniano, concede entrevistas a jornalistas depois <br>de deixar tribunal onde estava sob custódia em Madri (Espanha). Imagem de 9 de outubro Imagem: Dani Pozo/ AFP

Fabian Reinbold

26/10/2013 06h00

Por um momento, parecia que o Femen tinha chegado ao palco político principal. Josephine, uma ativista do Femen, estava conversando de longe com seus anfitriões, representantes do SPD (sigla para Partido Social Democrata) de centro-esquerda. A uma cadeira de distância estava sentado Olaf Scholz, o prefeito pelo SPD da cidade-Estado de Hamburgo, no norte da Alemanha. Enquanto ele subia à tribuna, Zana, uma ativista do Femen, endireitava seus óculos, enquanto sua colega Hellen aplaudia educadamente.  

Grupo Femen é imobilizado pela polícia em Paris

Dez minutos depois, enquanto Scholz falava sobre "o princípio de equidade e legitimidade" nas políticas para refugiados, as três mulheres arrancaram suas blusas, correram na direção do prefeito, enfrentaram os guarda-costas dele e gritaram repetidamente, "Que vergonha, Scholz!" Hellen tinha as palavras "Fora, Scholz" pintadas em seu peito e "Pare com o Racismo" em suas costas. Em termos de protestos do Femen, foi um dentro do padrão, apenas ajustado à controvérsia em andamento envolvendo refugiados em Hamburgo.

Há um ano, as guerreiras de seios nus da Ucrânia montaram uma base na cidade portuária. Elas e seus pares em Berlim vêm soando o grito de batalha no debate em torno do feminismo. As mulheres atacaram Vladimir Putin em uma feira em Hanover, invadiram o palco do programa de televisão alemão "Next Top Model" de Heidi Klum e protestaram em frente à chancelaria e no Reeperbahn, o coração do distrito da luz vermelha de Hamburgo.

O primeiro protesto do grupo, em uma loja da IKEA em Hamburgo em outubro de 2012, só obteve cobertura da mídia local. Após a emboscada a Scholz, as três feministas riam tomando cerveja em um restaurante tailandês, comentando que os guarda-costas de Scholz agora estão familiarizados com elas.

O fato é que o Femen se tornou um nome conhecido na Alemanha. É claro, isso é um sucesso por si só, mas também um problema.

Todavia, as integrantes do grupo na Alemanha, que agora chegam mais ou menos a 12, querem permanecer fiéis à sua causa. Mas para isso terão que inventar algo novo. Outras feministas criticam a forma delas de protesto há algum tempo. O que mudou, entretanto, é que a forma agora rotineira de protesto do grupo está cada vez mais entediando seus principais simpatizantes – as pessoas que não descartam imediatamente as integrantes do Femen como simplórias, antirreligiosas e sofredoras de amnésia histórica. De fato, o grupo corre o risco de se tornar... velho.       

'Nós atraímos atenção internacional'     

Sem atrair atenção e cobertura da mídia, a tática do Femen é ineficaz. Após serem soltas pela polícia de Hamburgo depois do ataque a Scholz, as três ativistas checaram imediatamente seus smartphones para ver quem já tinha noticiado o fato. "Nós queríamos dizer na cara do homem responsável pelos controles racistas em Hamburgo que ele devia se envergonhar de si mesmo", disse a ativista Hellen Langhorst. "E estamos chamando atenção internacional para o problema dos refugiados."

O Femen desenvolveu uma rotina de protesto habitual. Elas avisam os repórteres antes de qualquer manifestação. Além disso, sempre que são acusadas de invasão ou difamação, o caso costuma ser arquivado.

A questão é: os protestos delas realmente têm algum efeito positivo? De fato, não ajuda existirem relatos de que um homem está por trás da matriz ucraniana do grupo, as incitando a protestarem nuas. Esses relatos apenas confirmam  o ceticismo predominante em relação ao Femen.

Mas as ativistas do Femen na Alemanha preferem não comentar essas questões. Josephine Witt, por exemplo, diz sobre o suposto mentor ucraniano: "Ele pode ter segurado as rédeas brevemente". Mas ela e suas companheiras alemãs destacam que fundaram sua ramificação alemã independentemente, e que apenas uma delas conversou com o homem misterioso por telefone.

O Femen também não tem dúvidas sobre a justeza de uma viagem de protesto de uma ativista, altamente criticada, à Tunísia. Josephine Witt, que passou quatro semanas na cadeia apos protestar em prol de uma ativista tunisiana aprisionada, diz não se arrepender nem um pouco. O período na cadeia foi difícil, ela reconhece, mas tem orgulho do que ela fez. "Eu estou cheia do feminismo de sofá e já realizei muito mais que isso com o Femen", ela diz. "A batalha continua."      

Marcando o 'sextremismo'   

Para continuar travando sua batalha contra o patriarcado, as integrantes da divisão alemã do Femen, que são principalmente estudantes universitárias, precisam de dinheiro. As autoproclamadas "sextremistas" abriram uma conta bancária há poucos meses para solicitar doações, que elas dizem ser vitais para despesas com viagem e treinamento. Mas até agora, menos de 300 euros foram depositados na conta.

Com dificuldade para levantarem dinheiro, as mulheres esperam que algum merchandising as ajude com suas finanças. Elas começaram recentemente a fazer bolsas pintadas à mão com seis slogans diferentes, como "Que se dane sua moralidade", cada uma custando 15 euros, com o frete não incluso. Elas destacam que as bolsas são feitas de materiais de "comércio justo". E o grupo diz que a venda está indo bem, apesar de se recusarem a citar números concretos.

É claro, isso apenas incita a curiosidade daqueles que sempre suspeitaram que o Femen é apenas um truque de marketing. Mas as ativistas veem isso de modo pragmático. As bolsas permitem que seus apoiadores divulguem abertamente seu apoio. Mesmo assim, as "femenistas" alemãs não planejam vender o que suas irmãs de armas ucranianas oferecem: impressão dos seios por US$ 70 cada.