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A onda azul de oposição a Trump não aconteceu. Talvez porque as expectativas fossem altas demais

Democratas também tiveram vitórias importantes como a de Laura Kelly, em Kansas - Thad Allton /The Topeka Capital-Journal via AP
Democratas também tiveram vitórias importantes como a de Laura Kelly, em Kansas Imagem: Thad Allton /The Topeka Capital-Journal via AP

Jim Newell

08/11/2018 04h00

Por que o desempenho dos democratas nas eleições de 2018 parece tão... sonso? Medíocre? Duas coisas vêm à mente.

Os candidatos da eleição geral nos quais os democratas de todo o país mais investiram emocionalmente, Beto O'Rourke no Texas, Stacey Abrams na Geórgia, e Andrew Gillum na Flórida, todos foram derrotados (ou parecem caminhar para a derrota). A derrota de Gillum foi especialmente dolorosa, já que ele se manteve à frente em praticamente todas as pesquisas no Estado.

E há a incômoda subtrama na qual os democratas perderam o controle do Senado pelo que parece uma eternidade. As tomadas republicanas de cadeiras na Flórida, Missouri, Indiana e Dakota do Norte (com potencialmente mais por vir) os protegem de quaisquer ganhos democratas em 2020, não que haja muitos ganhos a serem obtidos pelos democratas em 2020.

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Pode ter parecido uma noite medíocre para os democratas, porque foi... em relação às expectativas que antecederam o dia da eleição. Os democratas esperavam ter uma chance de conquistar o controle do Senado (haha), de que poderiam limitar suas derrotas à Dakota do Norte, e apenas à Dakota do Norte, enquanto venceriam no Arizona, Nevada e ou no Texas ou no Tennessee. Os democratas acharam que poderiam ter um ganho líquido de governos estaduais, com algumas vitórias históricas potenciais, devido às novas coalizões cheias de entusiasmo, no sul. E que talvez o Partido Democrata conseguiria conquistar mais 40 ou 50 cadeiras na Câmara.

O "tsunami" no qual os democratas se permitiram acreditar pode não ter ocorrido, já que a coalizão republicana de Trump conseguiu se defender onde pôde.

Mas vale a pena questionar de onde veio a esperança de um "tsunami" dadas as vantagens geográficas do Partido Republicano de controlar, bem, muitos territórios e, particularmente, muitos Estados pequenos. As expectativas saíram de controle. Se você perguntasse aos democratas se aceitariam uma noite como a de terça-feira no início de 2017, eles a aceitariam avidamente.

Ninguém falava em uma retomada da Câmara pelos democratas no início de 2017. Os republicanos manipularam distritos eleitorais fundamentais em 2010, e já era aceito que os democratas teriam que esperar por outra rodada de alterações nos distritos ao longo da próxima década para ter uma chance. A maioria na Câmara não era disputada desde 2010, e parecia difícil imaginar após a eleição de Trump que os destroços fumegantes em que se encontrava o Partido Democrata, representado de modo mais proeminente por líderes envelhecidos na Câmara que se recusavam a dar espaço, poderia fazer algo realista a respeito. Os democratas agora estão caminhando para conquistar algo entre 30 e 40 cadeiras a mais e poderiam intimar a apresentação de quaisquer documentos que passaram pelas mesas dos contadores de Donald Trump. E a agenda republicana no Legislativo está morta.

Estamos todos cansados de ouvir: os democratas no Senado tinham que defender 26 cadeiras neste ciclo eleitoral, e dez em Estados nos quais Donald Trump venceu. Foi considerado devastador o fato de terem perdido quatro dessas 26. Eles conquistarão pelo menos a do único alvo razoável nesta eleição, a do senador Dean Heller em Nevada, e até o momento em que escrevia este artigo, a disputa ao Senado no Arizona permanecia indefinida. A noite terminará com os democratas tendo uma perda líquida de duas a quatro cadeiras. O problema deles de longo prazo no Senado tem mais a ver com a inclinação dos Estados pequenos do que com o desempenho incomumente ruim de seus candidatos nestas eleições. (E vale a pena comparar esses resultados com uma história alternativa, na qual os republicanos conquistaram confortavelmente 60 cadeiras a mais sob o presidente Clinton.)

Os democratas também não conseguiram todas as disputas a governos estaduais que queriam. O candidato democrata em Iowa, Fred Hubbell, estava à frente nas pesquisas antes do dia da eleição e perdeu. O mesmo ocorreu com Rob Cordray em Ohio. Além, é claro, das já mencionadas derrotas na Flórida e na Geórgia. Ainda assim, os democratas podem comemorar vitórias no Novo México, Michigan, Illinois, Nevada, Maine, Wisconsin (!) e Kansas (!!). Eles podem perder Connecticut, mas ainda assim terão um ganho líquido de seis ou sete governadores.

O Partido Democrata chegou ao fundo do poço após as eleições de 2016, quando perderam a presidência para Donald Trump, um personagem de televisão, e tiveram de encontrar uma forma de se reagrupar rápido o suficiente para enfrentar uma Câmara republicana com distritos eleitorais extremamente manipulados e o pior mapa imaginável no Senado. Mesmo assim, conseguiram retomar a Câmara em um único ciclo eleitoral e vencer disputas difíceis para o Senado onde podiam, mesmo não podendo salvar algumas nas quais já sabiam que teriam dificuldade de fazê-lo. Eles terão governadores prontos para vetar manipulações republicanas após 2020 em Estados cruciais, enquanto não tinham da última vez.

Por mais medíocre que possa ter parecido, é um começo.