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Na Geórgia (EUA), cemitério de carros se transforma em galeria ao ar livre

Mike Tierney

Em White (Geórgia, EUA)

21/06/2015 06h00

Não muito tempo atrás, Old Car City e seus milhares de carros decrépitos eram um ferro-velho como tantos outros que pontilham — ou corroem, dependendo do ponto de vista — a paisagem dos EUA. Aninhado entre os cumes e vales a cerca de uma hora ao norte de Atlanta, o ferro-velho era um verdadeiro paraíso para aqueles que gostavam de reformar carros e queriam economizar dinheiro optando por usados em vez de novos.

Old Car City não é mais um ferro-velho tradicional. Ele existe como um depósito decadente da indústria de automóveis, belamente negligenciado e aberto para visitação — US$ 15 para olhar e US$ 25 para fotografar.

Mas, assim como Old Car City não é mais um ferro-velho tradicional, o mesmo acontece com a maioria dos outros. As empresas tradicionais passaram por uma espécie de reformulação e se transformaram no que o setor prefere chamar de recicladores automotivos.

Diferenciando-se dos seus antecessores, elas têm um inventário computadorizado, aderem a normas ambientais cada vez mais rigorosas, mantêm registros precisos e preferem não deixar dobermans rosnando no portão de entrada.

“Ainda existem ferros-velhos por aí”, diz Michael Wilson, vice-presidente executivo da Associação de Recicladores Automotivos, com mais de 3.000 membros. "Nós simplesmente não os representamos."

Embora não existam estatísticas claras sobre quantos ferros-velhos antigos ainda existem nos Estados Unidos, Wilson diz que seu grupo cresceu desde a recessão, e até mesmo após a consolidação do setor.

Os locais de peças usadas foram obrigados a se adaptar por causa de regulações mais rígidas quanto ao meio ambiente e o uso do solo e também para acompanhar a complexidade cada vez maior dos veículos. Já se foi o tempo em que muitas peças podiam ser trocadas entre carros diferentes, de modelos e anos diferentes.

Algumas peças precisam ser reprogramadas eletronicamente. Mais especialistas são necessários na equipe dos centros de reciclagem, especialmente por causa dos veículos híbridos de alta tecnologia.

"Não é tão fácil levar um veículo para o pátio e desmontá-lo”, disse Wilson.

Em Old Car City, os desmanches são sobretudo resultado de deterioração. Dean Lewis emprega uma pequena equipe, conhecida por seus apelidos divertidos, para cuidar das coisas, entre eles Rocky, que mora no local; Monkey Wrench (chave inglesa), o mecânico; e Fast Eddie (Eddie rápido), 75, que se parece com alguém saído do reality show "Os Reis dos Patos" e que é o guarda noturno não oficial, letrista e intérprete do blues que é música-tema do ferro-velho.

Eles são os administradores que cuidam, se é que esta é a palavra adequada, das cerca de 4.200 carcaças de automóveis, permitindo que Old Car City se divulgue como o "Maior Ferro-Velho de Carros Antigos do Mundo", como diz a placa da frente, com erros ortográficos intencionais.

Funcionando desde 1931, primeiro sob direção dos pais de Lewis, tem pouca concorrência na categoria de carros incomuns.

Os carros, fabricados de 1918 a 1972, atraem curiosos, geralmente com máquinas fotográficas, do mundo todo. Outro dia, apareceram visitantes vindos da Suécia. Os russos são regulares. Outros vêm de lugares tão distantes quanto Austrália, Nova Zelândia e China.

O mais comum são visitantes de Nova York ou da Costa Oeste. "Eles entram no avião, voam para Atlanta, alugam um carro, vêm para cá e às vezes ficam três, quatro dias”, diz Lewis, 77.

Os veículos, em vários estágios de deterioração, são apenas parte da atração. Misturados aos pinheiros, carvalhos, musgos e outros tipos de vegetação, que Lewis deixa em grande parte intocados, a não ser por manter algumas trilhas abertas, eles criam um cenário surpreendente.

A natureza criou esquemas de cores nos capôs, tetos e painéis das portas que seriam difíceis de reproduzir no ateliê de um artista. Ela também funciona como escultora e designer, cobrindo os carros de verde e embrulhando-os nas árvores.

Nicole Nicholson, fotógrafa e coproprietária do estúdio Dim Horizon em Woodstock com seu marido, Matt, já se aventurou em Old Car City uma meia dúzia de vezes desde que descobriu o local, dois anos atrás. Uma foto recente, mostrando um personagem à la "Mad Max", parecia uma cena de um mundo pós-apocalíptico entre as ruínas enferrujadas.

“Uma coisa tão única, pristina e bem cuidada, e ainda assim com a mão pesada da mãe natureza, você não encontra em qualquer lugar”, diz ela.

Alguns pinheiros ergueram os veículos do chão o suficiente para permitir que alguém entre embaixo para inspecionar vazamentos no motor ou trocar o óleo, enquanto outros se incrustaram nos pneus ou arrebentaram para-brisas.

Há 30 anos, Lewis se lembra, ele previu casualmente para seus filhos que o negócio se tornaria "um lugar para exibição em vez de um lugar para vendas".

Muito tempo depois, Lewis, que tem criatividade para pensar e realizar, reservou um espaço na propriedade para guardar várias centenas de copos de café de isopor decorados com seus desenhos em tinta, decidiu expandir o conceito. O local serviria tanto como um museu do túnel do tempo quanto um cemitério, onde os clientes poderiam reviver sua juventude, admirar as máquinas nas quais andavam antigamente e lamentar sua deterioração. A música de fundo é o chilrear dos pássaros e "sinos" feitos de calotas e canos de escapamento.

Cerca de cinco anos atrás, ele transformou o lugar exclusivamente em uma galeria.

"Isso com certeza é mais divertido", disse ele. Uma vez, ele permitiu que alguns fotógrafos ficassem lá, sob a luz da lua, até as 23h. “Tem gente que pula de alegria quando vê esse lugar.”