Topo

Republicanos se irritam, mas não sabem o que fazer com Donald Trump

Donald Trump, 69, empresário multimilionário do ramo hoteleiro e apresentador do reality show "O Aprendiz" - Richard Drew/AP
Donald Trump, 69, empresário multimilionário do ramo hoteleiro e apresentador do reality show "O Aprendiz" Imagem: Richard Drew/AP

Michael Barbaro, Jonathan Martin e Maggie Haberman

11/07/2015 06h01

Os líderes do Partido Republicano estão agonizando diante da perspectiva de que Donald Trump lance uma candidatura independente, que possa minar o candidato do partido. Eles temem insultar os eleitores brancos de classe trabalhadora que o admiram. Eles relutam em arrumar confusão com um agitador para o qual não há regras de engajamento.

Desde o início da campanha presidencial de Trump, uma questão incômoda tem pairado sobre sua candidatura: por que tantos líderes do partido –-consternados de modo privado com os comentários de Trump sobre os imigrantes do México-– não o repudiaram?

Como mostram as entrevistas, a matemática delicada de uma vitória republicana em 2016 –-e sua dependência de eleitores brancos ansiosos e cada vez mais velhos-– torna extremamente perigoso para o Partido Republicano tratar Trump como o pária que muitos de seus líderes agora gostariam que ele se tornasse.

Enquanto uma cascata de empresas e parceiros comerciais –-da "NBC" e Macy's até os chefs de dois restaurantes planejados-– correm para romper seus laços com Trump, os líderes republicanos parecem profundamente dilacerados e paralisados pela indecisão.

Há poucas semanas, essas divisões estiveram expostas em um encontro regular de importantes autoridades republicanas eleitas, estrategistas e o presidente do Comitê Nacional Republicano. Durante o jantar no Hay-Adams Hotel, em frente à Casa Branca, alguns defendiam uma rápida resposta, temendo que Trump estragaria os futuros debates presidenciais republicanos com provocações desnecessárias. Outros aconselhavam uma não interferência, temendo que as tentativas para contê-lo poderiam transformá-lo em um mártir político e, pior, tentá-lo a lançar uma candidatura independente.

Não houve consenso e o presidente do partido, Reince Priebus, partiu sem uma diretriz clara, segundo duas pessoas que participaram do jantar.

Os desanimados anciões do partido, temendo que os republicanos deem aos rivais democratas uma poderosa arma de campanha ao permitir que a voz de Trump seja retratada como representante do partido, estão soando o alarme com crescente urgência.

"O Partido Republicano está cometendo um erro se achar que enquanto ele fala pode permanecer calado, fazer objeção ou apenas se distanciar levemente", disse Peter Wehner, um ex-funcionário dos governos dos presidentes Ronald Reagan e George W. Bush. "Ele está causando um estrago tremendo."

Trump, um empreendedor imobiliário, apresentador de reality show e provocador político, não exibe sinais de recuo de seus comentários, feitos durante o anúncio de sua campanha à presidência há três semanas.

"Quando o México envia suas pessoas, ele não envia as melhores", ele disse na ocasião. "Ele envia pessoas com muitos problemas. E elas trazem esses problemas para cá. Elas trazem drogas, trazem crime. São estupradores."

Nos dias que se seguiram, houve uma ausência notável de condenações de Trump por importantes candidatos republicanos à presidência e pela cúpula do partido em Washington. Apenas no último fim de semana é que Jeb Bush –-após uma discreta resposta anterior-– chamou o comentário de "estupradores" de "extremamente feio" e que "não reflete o Partido Republicano".

Mas Priebus tomou uma rota mais discreta na quarta-feira (8), em uma breve conversa por telefone com Trump, pedindo a ele que amenize seu tom em relação aos imigrantes, ao mesmo tempo em que elogiava sua candidatura, segundo Trump e outros informados sobre a conversa.

De forma clássica, entretanto, Trump agradeceu rapidamente ao presidente do partido com respostas mordazes, que poderiam desencorajar tentativas semelhante de contê-lo. Trump entrou em contato com um repórter do "The New York Times" na manhã de quinta-feira (9) para dizer que o telefonema foi "congratulatório", não condenatório, e postulou que Priebus "sabe melhor do que ninguém que não tem que me repreender".

Ele acrescentou: "Não estamos lidando com um general cinco estrelas do Exército".

A linguagem de Trump sobre os mexicanos acentuou duas das questões mais divisoras dentro da coalizão republicana –-raça e imigração. Foi Priebus que liderou a análise das derrotas do partido em 2012, resultando em alertas sobre a necessidade de melhorar a posição do partido junto aos latinos. Mas o apoio a Trump deve vir em peso dos eleitores brancos descontentes que apoiaram Mitt Romney em 2012 –-dos quais os republicanos reconhecem que dependem para retomar a Casa Branca em 2016.

"Como candidato presidencial, ele está pegando um problema que já temos como partido e o tornando ainda pior", disse o senador Lindsey Graham, outro aspirante à Casa Branca. "Se mantivermos isso, aceleraremos o parafuso mortal demográfico no qual estamos."

Até certo grau, os problemas do partido com Trump completaram o círculo. Ele ganhou atenção entre os republicanos, incluindo Priebus, quando flertou com uma candidatura presidencial em 2012, ganhando seguidores como alguém que atacava visceralmente o presidente Barack Obama. Trump acabou abandonando a disputa, apesar de ter continuado questionando o local de nascimento de Obama.

Agora, o que permanece atraente para muitos dos eleitores brancos que gostam de Trump é sua suposta disposição de dizer as verdades duras a respeito de questões delicadas –-raciais e outras-– que, no entender deles, o establishment do partido é tímido demais para discutir.

"Há muita gente irada na base e que está convencida de que os líderes republicanos no Congresso não estão fazendo de tudo pela causa conservadora", disse Charlie Black, um ex-conselheiro de McCain em 2008 e Romney em 2012. Trump, ele disse, tem um apelo inegável junto a esses eleitores.

Mas qualquer campanha de cima para baixo pelos republicanos para marginalizar Trump poderia encorajá-lo a cumprir a ameaça de concorrer de forma independente, um cenário que lembra a campanha de Ross Perot em 1992, que desviou votos cruciais do presidente George Bush. Muitos no partido ainda culpam Perot, que obteve 19% dos votos, pela derrota de Bush para Bill Clinton.

"As políticas intensamente nacionalistas e protecionistas de Perot repercutiram junto a muitos eleitores de centro-direita, que caso contrário teriam votado nos republicanos", disse Dan Senor, um ex-funcionário do governo Bush que foi conselheiro da campanha de Romney. "O ambiente atual é ainda mais intensamente populista. Se Trump concorrer como independente, quem sabe que impacto teria em uma eleição fora isso apertada?"

Essa possibilidade, disse Thomas M. Davis, um ex-congressista republicano da Virgínia, é motivo suficiente para o partido não atacar Trump. "É preciso mantê-lo na tenda", disse Davis. "Ele apenas causa caos, e cada voto que toma sai de nossa pele."

Com o primeiro debate do partido marcado para 6 de agosto, os republicanos agora estão absorvendo a probabilidade de que Trump, com seu desfile de provocações, estará presente no palco. A "Fox News" estabeleceu um critério para participação baseado na posição dos candidatos nas pesquisas nacionais, e Trump agora está confortavelmente situado no top 10.

"É 100% certo que ele estará nos debates", disse Michael Cohen, um conselheiro de Trump. "Eu acredito que ele estará na liderança ou empatado no primeiro lugar nas pesquisas, o que certamente o qualificará para um assento no palco."