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México prende chefões, mas fragmenta cartéis e a violência aumenta

Brett Gundlock/The New York Times - 26.jul.2015
Imagem: Brett Gundlock/The New York Times - 26.jul.2015

William Neuman

Em Chilapa (México)

13/08/2015 06h00

Por quase uma semana, homens mascarados empunhando armas, leais a uma gangue local do narcotráfico, tomaram a pequena cidade de Chilapa em uma rota crucial de contrabando. Policiais e soldados aguardaram enquanto os homens armados patrulhavam as ruas, à procura de rivais e levando pelo menos 14 homens, que não mais foram vistos.

"Eles estão disputando a rota por Chilapa", disse Virgilio Nava, cujo filho de 21 anos, um motorista de caminhão do negócio de materiais de construção da família e que aparentemente não tinha ligação com nenhuma das gangues, foi um dos homens levados em maio. "Mas nós somos aqueles que são afetados."

Por anos, os Estados Unidos pressionaram os países que combatem poderosos cartéis das drogas, como o México, a combater os grupos matando ou prendendo seus líderes. O ponto alto dessa estratégia foi a captura do traficante mais poderoso do México, Joaquín Guzmán Loera, mais conhecido como El Chapo, que escapou de modo espetacular no mês passado de um presídio de segurança máxima.

E apesar das prisões dos chefões resultarem em manchetes chamativas, o resultado tem sido a fragmentação dos cartéis e aumento da violência em locais como Chilapa, uma cidade de cerca de 31 mil habitantes, à medida que grupos menores disputam pelo controle. Como uma hidra, parece que cada vez que o governo corta um cartel, múltiplos outros grupos, às vezes ainda mais perversos, surgem para ocupar seu lugar.

"No México, essa é uma cópia da estratégia antiterrorismo americana de alvos de alto valor", disse Raúl Benítez Manaut, um professor da Universidade Nacional Autônoma do México que é especializado em assuntos de segurança. "O que vemos com a estratégia de alvos de alto valor é que a Al Qaeda perdeu força, mas apareceu um monstro chamado Estado Islâmico. Com os cartéis, é semelhante."

Enquanto os grandes cartéis são como monopólios, envolvidos na produção, transporte, distribuição e venda da drogas, dizem os especialistas, os grupos menores frequentemente carecem de alcance internacional e só controlam uma parte da cadeia de suprimento de drogas.

Eles também recorrem com frequência a outras atividades criminosas para reforçar sua receita, como sequestros, roubo de carros, extorsão e tráfico humano. E enquanto os grandes cartéis contam com recursos para comprar autoridades de governo na esfera nacional, os grupos menores em geral se concentram em autoridades locais e estaduais, com frequência com consequências desastrosas para as comunidades.

Isso ficou bem claro em um caso que chocou o país no ano passado, quando 43 estudantes desapareceram em Iguala, uma cidade perto de Chilapa.

Governos sucessivos falaram sobre uma vasta reforma na polícia do país, mas seus esforços fracassaram em eliminar a corrupção e criar forças de segurança profissionais. O presidente Enrique Peña Nieto propôs uma série de mudanças em novembro passado, incluindo a centralização do controle da polícia local em cada Estado, mas isso ainda não foi implantado.

Todos esses problemas estão em exibição de modo agonizante aqui em Chilapa. Moradores e autoridades dizem que a cidade se encontra em uma rota de contrabando de maconha e pasta de ópio que está sendo disputada por duas gangues. Elas ascenderam depois que o governo conseguiu prender ou matar os líderes do cartel Beltrán Leyva, que antes dominava a região.

Um grupo conhecido como Rojos, ou Vermelhos, agora controla a cidade, disseram moradores e autoridades. Mas as cidades rurais próximas são controladas pelos Ardillos, nome derivado da palavra para esquilos. Os moradores acusam abertamente o prefeito de ter laços com os Rojos, o que ele nega.

A violência entre os grupos vem crescendo há meses. Um candidato a prefeito foi assassinado em maio, poucos dias depois de um candidato a governador ter sido ameaçado por homens altamente armados que montaram um bloqueio de estrada.

É comum corpos serem encontrados, às vezes decapitados ou com sinais de tortura. No mês passado, um corpo decapitado foi deixado com um bilhete: "Aqui está seu lixo, gambás". Dois dias depois, sete corpos foram encontrados. Um estava decapitado, com uma mensagem cortada em seu tronco: "Atenciosamente, Rojos".

Os moradores disseram que os homens armados que invadiram a cidade em 9 de maio eram liderados pelos Ardillos. Os invasores desarmaram a polícia local e começaram a arrastar alguns homens.

"Quando eles levaram pessoas embora, havia policiais e soldados presentes, que não fizeram nada", disse Victoria Salmerón, cujo irmão, um vendedor de roupas, desapareceu durante a tomada. "Era como se estivessem do lado deles."

Desde o final da ocupação em 14 de maio, policiais estaduais e federais permaneceram para manter a ordem, e as autoridades prometeram investigar os desaparecimentos. Mas não há virtualmente nenhum sinal de progresso.

Aldy Esteban, o administrador do governo municipal, disse que nenhum líder das gangues foi preso desde a invasão em maio.

"Há evidência clara de quem os levou, mas permanecemos sem resposta" das autoridades, disse Bernardo Carreto, um fazendeiro que viu seus três filhos serem levados quando chegaram a Chilapa para vender um novilho. "Elas estão nos ignorando. Ninguém foi preso. Nada acontece."

Dados recentes do governo mostram que o índice nacional de homicídios vem caindo constantemente desde seu pico em 2011, o que o governo cita como evidência de que sua abordagem está funcionando.

Apesar do declínio, muitas áreas do país continuam sendo abaladas pela violência à medida que os grupos menores de traficantes lutam para preencher o vácuo deixado pela deterioração dos cartéis maiores.

Especialistas acreditam que até mesmo o poderoso cartel Sinaloa, que é comandado por Guzmán, futuramente seguirá o caminho de outras grandes organizações do narcotráfico e será desmantelado em pedaços, mesmo com seu líder novamente à solta.

"Para o crime organizado mexicano, El Chapo não é o futuro", disse Alejandro Hope, uma ex-autoridade de inteligência mexicana. "El Chapo é um resquício, um resquício poderoso, mas mesmo assim apenas um resquício do passado."

Referindo-se ao Estado tomado pela violência onde Chilapa se encontra, ele acrescentou: "Guerrero é o futuro".