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Opinião: Trump, o candidato gordofóbico obcecado com a aparência

28.jan.1997 - A Miss Universo 1996, Alicia Machado, cumprimenta Donald Trump em uma academia de Nova York, em foto de 1997 - Peter Morgan/ Reuters
28.jan.1997 - A Miss Universo 1996, Alicia Machado, cumprimenta Donald Trump em uma academia de Nova York, em foto de 1997 Imagem: Peter Morgan/ Reuters

Timothy Egan

01/10/2016 06h00

Aparentemente, milhões de americanos não se importam com o fato de um homem com grande chance de chegar à presidência ser um dos mais prolíficos mentirosos na história política moderna. Nem se importam com as políticas autoritárias que defende, seu apoio realmente assustador a ditadores no exterior e lunáticos em casa, ou sua ignorância monumental sobre qualquer assunto.

Mas à medida que passa o impacto do debate desta semana e das conversas posteriores, está claro que o sangue ferve por toda parte em pelo menos um assunto: os americanos se importam com aparências. Restando pouco mais de um mês para a eleição, o fato de Donald Trump se ver agora em uma briga pública com uma ex-miss diz tudo o que você precisa saber sobre a alma doente desse homem.

Assim, no espírito do discurso levantado por Trump, vamos transformar o candidato republicano em objeto em seus próprios temos. O sujeito é gordo.

Muito. Ele tem um queixo extra, uma pança que você não gostaria de ver pendurada sobre o traje de banho, e um traseiro que só serve como lastro.

Com 1,88 metro, a altura que ele costuma dar aos autores de perfis, Trump pesa 107 quilos, como disse ao dr. Oz. Não chega a ser um (presidente) Taft, que estava com 160 quilos em sua posse em 1909, mas também não é saudável. Segundo os parâmetros do governo, Trump é obeso. Em uma tentativa malandra de evitar a classificação, Trump agora diz que tem 1,90 metro, o que o deixaria apenas acima do peso. Como ele cresceu 2 centímetros, ainda mais aos 70 anos, é uma história que escapa aos seus hagiógrafos na Fox.

O topete de Trump, tingido em uma cor inexistente na natureza, é um penteado para trás complicado, inspirado no Dr. Seuss. Ele usa um boné idiota em comícios ao ar livre para manter o ninho no lugar. Como escreveu Garrison Keillor, isso faz ele parecer "o sujeito que avisa o número da placa do carro deixado no estacionamento, com as portas trancadas, mas com a luz acesa e o motor funcionando".

Os dedos dele, como notou a revista "Spy" décadas atrás, são incomumente pequenos. Com 18,4 centímetros da ponta do dedo médio até o pulso, segundo levantamento de repórteres investigativos, as mãos de Trump são menores do que as de 85% dos homens americanos. Sem causar surpresa, ele também mente sobre isso. "Olhem para estas mãos", ele disse durante um debate neste ano, erguendo os dedos de duende para que todos vissem. "São mãos pequenas?"

Eu estou mencionando tudo isso por que Trump o faz, constantemente. Para alguém que é gordo, de mão pequena e aparência estranha, ele é obcecado com aparência. Durante suas décadas sob os holofotes, ele tem feito bullying e envergonhado mulheres por causa do peso delas. E pior, fez com que pessoas fossem demitidas, em seus campos de golfe, por não serem bonitas o bastante, como noticiou o "Los Angeles Times" nesta semana.

Alicia Machado, que venceu o concurso Miss Universo em 1996, em Los Angeles - Emily Berl/The New York Times - Emily Berl/The New York Times
Alicia Machado, que venceu o concurso Miss Universo em 1996, em Los Angeles
Imagem: Emily Berl/The New York Times
Dias depois do debate político mais assistido na história, Trump não falou sobre políticas de comércio, guerra e paz ou atendimento de saúde. Em vez disso, seu fetiche pelo superficial dominou seus temas, tentando envergonhar de novo a ex-Miss Universo, Alicia Machado. Hillary Clinton o encurralou por chamar a mulher jovem de "Miss Piggy" e "Miss Doméstica". Agora Alicia está tendo sua vingança.

Trump "sempre me tratou como algo menor, como lixo", ela disse aos repórteres em uma teleconferência. Um representante de campanha de Trump, Newt Gingrich, outro sujeito que você não gostaria de ter sentado ao seu lado em um assento normal de avião, explicou que misses não deveriam ser gordas. É justo. Mas misses não deveriam ser depreciadas, como disse Alicia, a ponto dos insultos terem provocado uma recaída de sua bulimia.

E certamente não é preciso estar no peso perfeito para trabalhar em um campo de golfe. Mas uma diretora do serviço de catering de um campo da Califórnia disse, sob juramento, que foi instruída a demitir uma funcionária "porque o sr. Trump não gosta de pessoas gordas", segundo um depoimento de 2012.

Trump também revelou sua aparente obsessão por obesidade ao rejeitar a ideia de uma sabotagem russa da eleição. Mais provavelmente, ele disse durante o debate, "poderia ser alguém sentado em sua cama, pesando 180 quilos", dando ao pessoal de tecnologia uma ótimo hashtag para usar no Twitter.

Esse episódio de envergonhar uma pessoa gorda, por parte de um homem que deseja liderar o país, é profundamente significativo porque a maioria dos americanos briga com seu peso. Mais de dois terços dos adultos estão acima do peso ou obesos. É um problema sério, que chega a ser um risco de vida para muitas pessoas, com consequências multibilionárias para o atendimento de saúde.

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Band News

Trump poderia expressar compaixão ou oferecer soluções. Em vez disso, ele enche sua cara ofegante de junk food para as câmeras, ao mesmo tempo em que zomba de alguém que não é modelo de capa. Como exercício, ele queima grande parte de suas calorias fazendo discursos, como ele disse. Sério. Insultos aeróbicos, a dieta Trump.

"Gordo, bêbado e estúpido não é forma de passar a vida", disse Dean Wormer no filme "O Clube dos Cafajestes". Trump certamente concordaria, apesar de ter dois dos três atributos. Basta uma olhada no espelho para ter motivo mais que suficiente para o que falar.