Preços no Brasil continuarão na lua se concorrência não aumentar
Com o emblemático massacre no gramado, não levantamos o caneco de campeões mundiais no futebol. Mas se taça é o problema, basta olhar para o lado. Em outros campos temos pódio garantido.
O Brasil é detentor do troféu de iPhone mais caro do planeta. Também tem a medalha de ouro com o maior preço nas roupas onde a Zara atua. Um Audi A4 nos Estados Unidos custa cerca de 80% menos que no Brasil, o mesmo que pagamos por um Civic.
E nem quando o assunto é videogame ficamos para trás. Com o valor de um PlayStation em terra brasilis daria para comprar quase três consoles idênticos no Chile ou quatro nas prateleiras canadenses – e ainda levar para casa um belo troco. A história se repete no supermercado, na loja de decoração, na hora de montar a adega ou de trocar o televisor.
Mas por que tudo é tão mais incomprável no Brasil?
Uma das razões vem do já batido e desgastado – embora perene e sempre atual – “custo Brasil”. Por aqui, a logística, a burocracia e os impostos têm sobre os produtos o peso de uma bigorna. E, logicamente, quem paga por tudo isso, somos eu e você, leitor e consumidor.
Mas outra variável também ajuda a explicar os valores tão peculiares da nossa terra, assim como a jabuticaba ou a arara azul. É o que poderíamos chamar de “lucro Brasil”. As causas podem ser muitas, mas talvez a mais plausível esteja relacionada à baixa concorrência.
Não se pode, e nem deve, esperar das companhias um desejo altruísta de baixar o preço por mera força do pensamento. Como em qualquer lugar do mundo, a meta é o lucro, e é natural que seja assim. É o que você faria se estivesse no lugar do empreendedor. O preço final é resultado do equilíbrio (ou falta dele) entre oferta e demanda.
Em outras palavras, é necessário proporcionar as condições concorrenciais para que as empresas, na tentativa de ganhar mercado e maximizar seu lucro, gerem como “efeito colateral” produtos de melhor qualidade, maior quantidade e, principalmente, preço mais baixo.
Isso não é exatamente uma novidade. Um tal de Adam Smith já disse algo semelhante há mais de 200 anos: “O mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta, é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele. O bem-estar da sociedade”. E completou: "Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu autointeresse”.
Mas por aqui a tal “mão invisível” só leva tapa. Além de um Estado gorducho o Brasil, camuflado no argumento da proteção da indústria nacional, é um país com baixo índice de trocas comerciais.
Em relação ao tamanho do nosso PIB, exportamos e importamos pouco. Criamos uma política comercial com síndrome de ostra – ensimesmada, protegendo uma pérola que, na verdade, ainda não temos.
Como não proporciona as condições de competitividade para as empresas locais, o país tenta compensar as fragilidades internas lesionando os jogadores do outro time - seja impondo burocracias acintosas ou cobrando um pedágio caro demais para que possam entrar em campo.
O resultado é um número menor de companhias disputando a oferta de produtos e serviços, uma variedade mais anêmica à disposição do consumidor, e preços na lua.
O “lucro Brasil”, assim como o “custo Brasil”, é o resultado de escolhas e políticas econômicas de muitos anos e governos somados. Mas é o seu bolso que paga por isso. Fora das quatro linhas, já temos algumas taças. É hora de conquistar outras menos ignóbeis.
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