Topo

Gastança desenfreada levou clubes a situação financeira caótica

Especial para o UOL

21/10/2014 06h00

A situação financeira dos clubes brasileiros é caótica e preocupante. A realidade atual foi sendo construída ao longo de anos de irresponsabilidade administrativa, com baixo desenvolvimento de suas fontes de receita, aumento constante das despesas e elevação brutal de seu endividamento.

A filosofia da gestão de nossos clubes sempre foi gastar o que tem e o que não tem, deixando o desequilíbrio financeiro para os presidentes que sucedem o mandatário do momento. Uma total falta de respeito às entidades, que gera desconfiança do mercado e enfraquece suas marcas.

Nos últimos anos os clubes viram um crescimento de suas receitas, especialmente com a TV. Mas ao mesmo tempo apresentaram um aumento substancial de suas despesas, especialmente para a manutenção dos departamentos de futebol, com salários de técnicos e jogadores fora da realidade.

Um bom exemplo dessa situação foi o ano de 2012, quando houve grande injeção financeira por conta de um novo contrato com a Rede Globo, além das luvas recebidas pelos times, valores esses que não se repetiram em 2013.

Os clubes gastaram todo esse montante e hoje encontram-se em uma situação financeira muito mais delicada que antes da assinatura deste rentável contrato.

Mas, se há mais dinheiro, como a situação piorou?

A resposta é simples e direta. Entrou mais dinheiro, mas o modelo de gestão permaneceu inalterado, com descontrole total dos orçamentos. Para operar, os clubes recorrem a empréstimos bancários caríssimos, devem impostos para o governo, sempre esperando uma ajuda e continuam inflando suas folhas salariais.

As dívidas bancárias geram altas despesas financeiras, e as pendências com o governo levam a aumentos dos gastos com atualização de tributos. Essa gestão desequilibrada coloca em dúvida como o nosso futebol pode evoluir de forma sustentada.

A gestão atual é absolutamente ineficiente. Pelos meus cálculos, na última década os clubes brasileiros acumularam deficit de mais de R$ 2,6 bilhões, sendo que, apenas nos últimos três anos, esse valor ultrapassa R$ 760 milhões.

Cai por terra, portanto, a tese que o problema dos clubes o passado e que, resolvendo isso, o futuro é promissor.

O futebol brasileiro precisa rever seus conceitos e conter a gastança desenfreada sem nenhuma eficiência. A bolha financeira do futebol é uma realidade e consequência direta da falta de visão de longo prazo, somada à falta de entendimento que cada clube deve ser gerido sem paixões exacerbadas e irresponsabilidades administrativas.

Pelo lado das receitas, os clubes precisam deixar de lado esse modelo cinza, sem graça, quadrado e investir em um modelo muito mais criativo, agressivo e apaixonante.

O marketing dos clubes brasileiros tem que se transformar em uma das áreas mais importantes das entidades, gerando muito mais que ganhos com dois ou três patrocinadores e licenciamento de produtos. O departamento de marketing tem que ser o responsável por toda essa paixão que move os clubes, especialmente perante o seu torcedor.

Contudo, de nada adianta um marketing super criativo em um modelo de gestão desequilibrado. Portanto, se o futebol brasileiro quiser evoluir de forma saudável, vai precisar de gestores muito bem preparados, com entendimento de modernas técnicas de gestão corporativa.

Por isso o futebol brasileiro precisa mudar. As paixões devem ser trabalhadas junto do torcedor. A administração dos clubes precisa ser racional, profissional e eficiente.

Com essa atitude teremos clubes financeiramente mais fortes, suas marcas muito mais valorizadas e respeitadas pelo mercado corporativo. Exatamente o que perdemos depois de anos de ineficiência com administrações pautadas em teses antiquadas e desatualizadas.

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
  • Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br