Topo

Apesar de avanços tímidos, COP 20 cumpre seu principal objetivo

Especial para o UOL

22/12/2014 06h00

A 20ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, a COP 20, teve início dia 1º de dezembro e foi concluída na madrugada do último domingo (14). Realizada em Lima, no Peru, a conferência decepcionou muita gente.

Para outros, o fato de o evento ter chegado a um documento final, com os elementos básicos para o novo acordo global de clima, já é a prova do sucesso da conferência.

O documento final “Chamamento de Lima para a Ação sobre o Clima”, mais conhecido como “rascunho zero”, foi produzido e contém os elementos básicos para o novo acordo global de clima, previsto para ser aprovado daqui a um ano, na COP 21, em Paris.

Esse resultado foi o suficiente ou poderíamos (e deveríamos) ter ido mais longe? O principal produto esperado da COP 20 era a definição da base de um novo acordo global de clima. Isso foi feito, mas o desafio para a próxima edição do maior evento mundial sobre a questão climática é imenso e exigia avanços mais significativos.

O novo acordo global de clima entrará em vigor a partir de janeiro de 2021, substituindo o conhecido Protocolo de Kyoto. Assinado na COP 3, em 1997, esse protocolo teve um primeiro período de compromisso de redução na emissão de gases do efeito estufa que ia de 2008 a 2012, e um segundo período que vai até 2020 – ambos apenas para os chamados países desenvolvidos.

O grande desafio da questão climática, e de um acordo internacional relacionado a ela, une diversos setores da sociedade, pois todos eles são impactados pela maneira com a qual lidamos com essa questão. Por isso, discussões abertas e movimentações políticas eram importantíssimas para o desafio que tínhamos na COP 20.

Opinião 1- André Ferretti

  • O impacto das mudanças climáticas tem sido sentido cada vez com mais frequência e intensidade por pessoas do mundo todo

    André Ferretti, coordenador-geral do Observatório do Clima, sobre necessidade de um novo acordo global de clima

Apesar disso, até a metade da segunda semana do evento, o comentário geral é que estava tudo muito parado em Lima, muito mais morno do que se esperava. Tanto que mais de 10 mil pessoas foram às ruas da capital peruana para participar da “Marcha das Pessoas pelo Clima”, com o objetivo de pressionar os diplomatas e negociadores presentes na COP, principalmente ministros e chefes de Estado que estavam chegando para a fase decisiva da conferência.

A participação popular é justa e necessária, afinal, o impacto das mudanças climáticas tem sido sentido cada vez com mais frequência e intensidade por pessoas do mundo todo.

Simultaneamente, dentro da COP, os mais de 10 mil participantes também puderam assistir a inúmeros eventos paralelos que mostravam os impactos de episódios climáticos extremos, ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas em todo o planeta. Esses eventos foram promovidos por ONGs, movimentos sociais, cientistas, empresas, políticos, enfim, por representantes de todos os setores da sociedade.

A grande expectativa da maioria, dentro e fora da COP 20, era de que um documento final fosse produzido com os elementos estruturantes do tão esperado acordo global do clima a ser assinado em Paris.

Algum avanço foi alcançado, mas há uma opinião quase que generalizada de que é preciso se trabalhar muito de agora até Paris, e que as duas semanas de negociação da COP 21 serão ainda mais difíceis que em Lima.

O temor de que tenhamos um novo fracasso como o da COP 15, em Copenhagen, finalizada sem metas concretas na redução de gases de efeito estufa, está no ar.

Na COP 20 ficou evidente que as diferenças que dificultaram as negociações nas últimas duas décadas continuam presentes, sendo determinantes para o progresso ou não das negociações.

Países em desenvolvimento esperam por redução de emissões mais efetivas dos países desenvolvidos, assim como financiamento de ações de adaptação às mudanças climáticas e de desenvolvimento de baixo carbono.

Opinião 2 - André Ferretti

  • O temor de que tenhamos um novo fracasso, sem metas concretas na redução de gases de efeito estufa, está no ar

    André Ferretti, coordenador-geral do Observatório do Clima, sobre desânimo após a COP 20, que ocorreu em Lima, Peru

Países desenvolvidos esperam que os outros países, principalmente os emergentes - China, Índia e Brasil - tenham metas de redução de emissões no novo acordo global de clima. Países europeus esperam mais ação dos Estados Unidos, que por sua vez querem compromissos da China.

Nações insulares, como Tuvalu e Ilhas Maldivas, por correrem o risco de desaparecer com o aumento do nível dos oceanos, lutam para que todos os países tenham maiores ambições na proposição e realização de ações de mitigação às mudanças climáticas.

Quando todas essas e muitas outras posições e interesses distintos se reúnem no plenário da COP,  com quase 200 países membros na Convenção do Clima, o processo de negociação acaba avançando muito lentamente, ou muitas vezes travando. Isso se complica ainda mais pelo fato de que as convenções da ONU têm por regra que as decisões sejam tomadas por consenso.

Terminada a COP 20, fica evidente que é preciso muito trabalho nos próximos meses para se avançar nos elementos fundamentais de um novo acordo climático. Apesar do cansaço e do desânimo de muitos que vêm acompanhando essas negociações, todos temos que ter esperança nos ministros e chefes de Estado que estarão em Paris, que eles possam enxergar e ouvir o que está acontecendo no mundo todo.

Além disso, é preciso ter esperança que esses representantes terão a coragem de entrar para a história como aqueles que, apesar de tantas, firmaram um acordo global para combater uma das maiores ameaças à vida no nosso planeta: a mudança no clima. Seria um grande passo para a humanidade.

  • O texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
  • Para enviar seu artigo, escreva para uolopiniao@uol.com.br