Acusado de envolvimento com aliado de Cachoeira, Protógenes pede informações à Procuradoria
O deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) afirmou nesta quarta-feira (11), por meio de sua assessoria de imprensa, que enviou hoje um ofício ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, solicitando informações da investigação sobre o empresário do ramo de jogos Carlinhos Cachoeira.
O deputado foi citado hoje em uma reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo”, que divulgou grampos telefônicos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que identificaram conversas entre o deputado e Idalberto Marias Araújo, o Dadá, apontado como um dos integrantes mais ativos do esquema do bicheiro.
No documento, ainda segundo a assessoria, o parlamentar questiona a existência de dados, além de áudios e vídeos, envolvendo seu nome e “se os mesmos evidenciam conduta criminosa relacionada com o esquema de contravenção do empresário goiano”.
Protógenes pede o encaminhamento “com urgência, uma vez que é autor do pedido de criação da CPI do Cachoeira, que tem como objetivo investigar o envolvimento de parlamentares nos negócios ilícitos do contraventor de Goiás”.
É do parlamentar a autoria de um requerimento para instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a relação entre o bicheiro --preso desde 29 de fevereiro deste ano --e políticos, como o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO).
Segundo a reportagem, Dadá esteve a serviço de Protógenes durante a Operação Satiagraha, chefiada pelo parlamentar quando ele ainda era delegado da PF. Nas conversas divulgadas pelo jornal, Dadá é orientado pelo delegado (atualmente licenciado) a dificultar a investigação da corregedoria da PF sobre supostos desvios no comando da Satiagraha. Á época, o banqueiro Daniel Dantas acabou preso na operação.
Em uma das gravações, feitas em ligação para o celular do deputado, ele orienta Dadá a só falar em juízo e a não aparecer ao lado dele em público --tanto que os encontros entre eles são marcados para locais distantes do hotel onde Protógenes mora, como aeroportos e postos de gasolina.
“Cortina de fumaça para atrapalhar a CPI”
Protógenes Queiroz disse nesta quarta-feira (11) ser vítima de um esquema que, na avaliação dele, quer atrapalhar a criação da CPI.
“Eu sou vítima do sistema Cachoeira. As acusações são levianas, servem para criar uma cortina de fumaça e, inclusive, atrapalhar a CPI. O diálogo relatado está fora de contexto do esquema criminoso", afirmou o deputado. “Em nenhum momento, eu fui ouvido ontem pelo ‘Estado de S.Paulo’, eu fui ouvido hoje pela manhã, quando dei entrevista à rádio Estadão. Eles até reconheceram que o diálogo não tem nenhuma relação com Carlinhos Cachoeira.”
Protógenes ressalta que os diálogos reproduzidos “estão fora de contexto” e que mantinha uma relação profissional com Dadá. “Eu tinha uma relação profissional com ele [Dadá], desde antes da Operação Satiagraha. Ele era um oficial de inteligência da Aeronáutica, um oficial de ligação que mantinha contatos dentro do sistema brasileiro de inteligência”, declarou.
Segundo o deputado, os contatos com Dadá se deram principalmente durante a Operação Satiagraha, que prendeu o ex-banqueiro Danial Dantas. O parlamentar, no entanto, negou que conheça Cachoeira.
Parlamentar não reconhece a voz em gravação
Em entrevista hoje à Rádio Estadão/ESPN, o deputado reforçou por mais de uma ocasião não ter envolvimento ou “relação direta ou indireta” com o bicheiro ou o sistema de contravenção investigado e disse que, se Dadá tem alguma responsabilidade no caso, “tem que ser punido pelas faltas”.
Durante a entrevista, os repórteres da rádio puseram trechos dos grampos que a PF identifica como sendo entre Dadá e Protógenes. Depois de ouvi-los, o parlamentar negou reconhecer, neles, a própria voz. “Enquanto não tiver acesso aos autos, não reconheço”, definiu.
Em seu perfil no Twitter, o delegado licenciado reagiu à reportagem do jornal. “O PIG-Estadão-e o sistema do banqueiro bandido DD voltam atacar. Não tenho qq ligação com esquema Cachoeira. #CPIdaCachoeira Já!”, escreveu, valendo-se das iniciais de Daniel Dantas e da expressão usada por blogueiros que caracterizam como “Partido da Imprensa Golpista” veículos que eles próprios julgam tendenciosos na oposição ao governo federal.
CPI
O pedido de abertura de CPI na Câmara feita por Protógenes foi entregue no último dia 20 de março, com 181 assinaturas, e é paralelo ao pedido de uma CPI no Congresso para investigar “com abrangência” o envolvimento de parlamentares com Cachoeira. As duas Casas anunciaram ontem (10) a criação da comissão depois de reunião entre o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Ambos se disseram favoráveis à criação da CPI única.
*Com colaboração de Camila Campanerut, em Brasília
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