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Reforma é assunto complexo e exige referendo, diz oposição

Do UOL, em Brasília

27/06/2013 16h07Atualizada em 27/06/2013 16h49

Os partidos da oposição ao governo federal publicaram nota oficial na tarde desta quinta-feira (27) rechaçando a realização de um plebiscito sobre a reforma política no país, alternativa defendida por Dilma Rousseff. A presidente anunciou a medida em reunião com prefeitos e governadores de todo o país em resposta à onda de protestos que ocorre desde o início do mês.

O plebiscito ouviria a população antes que o assunto se torne lei; já o referendo ouviria a sociedade depois que a reforma política já tivesse passado pelo Congresso e se tornado lei

"Somos favoráveis à consulta popular. Mas não sob a forma plebiscitária do sim ou não. Legislação complexa, como a da reforma política, exige maior discernimento, o que só um referendo pode propiciar", diz a nota assinada por Aécio Neves, presidente do PSDB; José Agripino, presidente do DEM, e Roberto Freire, presidente nacional da Mobilização Democrática (antigo PPS).

Plebiscito x referendo

  • Caio Guatelli/Folhapress

    Plebiscito é uma consulta direta ao cidadão em que ele se manifesta sobre um assunto antes que uma lei sobre o tema seja estabelecida. Leia mais
    Referendo é uma forma de consulta ao cidadão sobre um determinado tema. No entanto, ele ocorre quando o povo é chamado a manifestar-se sobre uma lei após ela ter sido elaborada e aprovada pelos órgãos competentes do governo federal. Leia mais

  • Arte/UOL

    Quem é a favor do plebiscito: O governo federal. "É muito importante que o povo opine. A reforma política se arrasta há anos. É necessário que o povo diga qual o sistema que ele quer", disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Leia mais
    Quem é a favor do referendo: A oposição ao governo. Os oposicionistas afirmam que o referendo tem maior facilidade de ser colocado em prática porque os temas da reforma são complexos para serem respondidos de forma simplificada pela população em um plebiscito Leia mais

Nesta quinta, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que esteve em reunião da presidente com partidos da base aliada, falou, em nome do Planalto, que há consenso entre os aliados para fazer o plebiscito. "Vamos tratar do que é essencial, das balizas. O plebiscito vai nortear e balizar a reforma. Tem que ir no cerne do problema", disse.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente do PSB, também reforçou que, "majoritariamente", a base aliada apoia o plebiscito. "Dá para fazer uma reforma política sem ouvir a sociedade? Todos disseram que temos que ouvir. Pode ser até que tenha alguém que pense em ouvir depois, mas, majoritariamente, entende-se que é preciso ouvir antes", disse Campos.

Segundo a oposição, a tentativa de fazer um plebiscito não é séria. "Os partidos de oposição denunciam e condenam a estratégia do governo federal de, ao ver derrotada a tentativa golpista de uma constituinte restrita, buscar, agora, multiplicar a polêmica em torno da realização de plebiscito sobre a reforma política. Se tivesse, de fato, desejado tratar com seriedade esta importante matéria, a presidente já teria, nesses dois anos e meio, manifestado à nação a sua proposta para o aperfeiçoamento do sistema partidário, eleitoral e político brasileiro."

Na terça-feira, o governo federal anunciou que desistiu da proposta de instituir, por meio de plebiscito, uma assembleia constituinte exclusiva para tratar da reforma política. A proposta de plebiscito ficou mantida, mas a consulta popular tratará do conteúdo da reforma política, e não a criação de um processo constituinte. 

A nota diz ainda que o plebiscito tiraria o foco dos protestos pelo país e de problemas na economia. "A iniciativa do plebiscito, tal como colocada hoje, é mera manobra diversionista, destinada a encobrir a incapacidade do governo de responder às cobranças dos brasileiros, criando subterfúgio para deslocar a discussão dos problemas reais do país. Tudo isso se dá enquanto se agrava o cenário econômico, com recrudescimento da inflação, pífio crescimento e acelerada perda de credibilidade do governo aos olhos dos brasileiros e do mundo", declararam os presidentes dos partidos oposicionistas. 

O ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello também se declarou contrário ao plebiscito. "O caminho é a deliberação dos congressistas e aí, em uma opção política normativa, eles atenderem aos anseios sociais, estabelecerem o que é melhor para a sociedade. A meu ver, não cabe consultar o povo em geral sobre questões estritamente técnicas", disse nesta quarta-feira (26).

Mello também classificou a convocação de plebiscito como "um gasto" e disse que os recursos públicos devem ser direcionados aos serviços essenciais, como educação e saúde. 

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Por enquanto, os apoios ao plebiscito de Dilma têm sido discretos, como o manifestado pelo presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), na última terça. "Iremos ajudar ativamente a implementar os pactos propostos pela presidente Dilma Rousseff à nação. Vamos cooperar e nos comportaremos como facilitadores da mudança." Segundo ele, talvez a presidente Dilma Rousseff não tenha "tido tempo" de consultar os parlamentares, disse ele.

Encaminhamento do plebiscito

Segundo Mercadante, o modo pelo qual a consulta será feita, assim como o conteúdo, ainda estão em aberto. Ele disse que não houve tempo ainda para discutir as perguntas do plebiscito, mas dois temas surgiram como principais: financiamento das campanhas e sistema eleitoral (forma de votação).

Mercadante afirmou ainda que o governo está aguardando definição do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) uma definição sobre a melhor data para a realização da consulta.

Procurado pela reportagem do UOL, o TSE informou que a área técnica está preparando um estudo a ser entregue à ministra Cármen Lúcia, presidente do tribunal. Só depois disso é que ela deve se pronunciar, segundo a assessoria do TSE.