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Com boicote da oposição, Gabrielli é poupado na CPI da Petrobras

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

20/05/2014 14h35Atualizada em 22/05/2014 15h53

O primeiro depoimento na CPI da Petrobras, que ouviu o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli nesta terça-feira (20), foi marcado pelo boicote da oposição. Com isso, ele ficou confortável para defender a compra da refinaria de Pasadena (EUA), investigada sob suspeita de ter representado prejuízo milionário, e a atuação da presidente Dilma Rousseff no negócio.

A ausência de senadores do DEM ou do PSDB faz parte de uma estratégia para pressionar pela instalação de uma CPI mista, com a presença também de deputados, onde o governo teria menos chance de conseguir controlar os trabalhos.

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Ao final da audiência, Gabrielli criticou o boicote da oposição e disse que ela pretende fazer da CPI um “espetáculo”. “Eu acho muito estranho os proponentes da CPI não aparecerem porque foram feitas mais de 200 perguntas detalhadas. Acho que respondi a todas elas (...)Eu acho muito ruim que os proponentes da CPI estejam ausentes”, afirmou.

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O senador José Pimentel (PT-CE), líder do governo no Congresso e relator da CPI, fez coro a Gabrielli. “É um desrespeito ao próprio requerimento da oposição, que propôs a criação desta CPI, e também à decisão do Supremo Tribunal Federal. O que nós fizemos, com a instalação da CPI, foi cumprir uma decisão do Supremo Tribunal Federal que é resultado de um mandado de segurança encabeçado pelo senador Aécio Neves [PSDB, e pré-candidato à Presidência] pedindo a instalação da CPI. Portanto, um desrespeito são aqueles que apresentam um projeto de CPI, vão ao Supremo, têm ganho de causa e não indicam os seus membros.”

O único membro da CPI que é da oposição, senador Cyro Miranda (PSDB-GO), classificou a comissão de CPI "chapa branca" em nota do PSDB. “Para mim é uma pessoa [Gabrielli] que não tem a menor credibilidade em falar isso, porque criticou, em questão de semanas atrás, a presidente dizendo que ela sabia [dos detalhes de Pasadena] sim, que tinha as informações. Mas depois eles fazem as reuniões e acomodam as questões. Dizem assim: ‘Olha, Gabrielli, você se comporte bem porque senão nós te podamos no governo”, afirmou. 

Durante a audiência, o senador Aníbal Diniz (PT-AC) chegou a fazer piada dizendo que a oposição havia assumido a tática "FFF": “Fez fumaça e fugiu”, afirmou, provocando risos na plateia.

Gabrielli e Pimentel criticam ausência da oposição em CPI

Donos das maiores bancadas no Senado, PT e PMDB detêm os principais assentos da CPI na condução dos trabalhos. Dos 13 titulares da CPI, somente três pertencem à oposição, mas só um deles concordou em fazer parte da comissão. Cyro Miranda (PSDB-GO), porém, não apareceu.

Assim, Gabrielli respondeu apenas a perguntas de parlamentares da base aliada, que, em muitos momentos, aproveitaram para elogiar a empresa e alfinetar adversários.

Nas mais de três horas de duração do seu depoimento, o ex-presidente da estatal defendeu mais uma vez a aquisição da refinaria de Pasadena, dizendo que era “estava barata”.

“A refinaria era extremamente bem localizada e, portanto, com um preço atraente. (...) Na medida em que o mercado continuasse crescendo, você teria uma refinaria que daria com certeza retorno bastante elevado. Este é o contexto para a compra de Pasadena”, disse.

"Não considero Dilma responsável pela compra de Pasadena"

Em sintonia com a estratégia governista, Gabrielli recuou e saiu em defesa de Dilma, afirmando que não é dela a responsabilidade da compra da refinaria de Pasadena.

O tom de Gabrielli é bem mais ameno do que a sua entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo" há um mês, quando disse que Dilma não podia "fugir da responsabilidade dela", já que ela era ministra da Casa Civil e presidia o Conselho de Administração da estatal à época da aquisição.

Após a audiência, Gabrielli negou que tenha mudado de posição: "Se analisarem a minha entrevista ao ‘Estado de S.Paulo’, vão ver que a minha posição não mudou nada. A presidente Dilma tem uma posição justa, correta, a avaliação dela é legítima, e a posição do Conselho de Administração, que tem decisões colegiadas em 2006, não pode ser avaliada hoje”.