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Apesar de "história", Dirceu cometeu crimes e deve ser punido, diz procurador

Do UOL, em Brasília

04/09/2015 16h37Atualizada em 04/09/2015 18h19

O coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, disse nesta sexta-feira (4) que o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil do governo Lula) praticou “crimes graves” e deve ser responsabilizado independentemente de seu papel na “história”. O MPF (Ministério Público Federal) denunciou nesta sexta-feira Dirceu e outras 16 pessoas por formação de organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.

Ao apresentar os motivos que levaram à denúncia de Dirceu e outras 16 pessoas, entre elas o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, Deltan lembrou o passado de Dirceu como militante político. “José Dirceu foi um importante líder político brasileiro. Ele representou por muito tempo os ideais de muitos”, afirmou Deltan. O coordenador da operação Lava Jato disse, no entanto, que o MPF não está “julgando” a vida de Dirceu, mas sua atuação no esquema investigado pela operação Lava Jato.

“Não está em questão o que ele fez pela consolidação da democracia em nosso país. Mas sim se ele praticou fatos que são crimes em um contexto determinado. E os fatos e as evidências nos dizem que sim. Que ele praticou crimes graves e que ele deve ser responsabilizado como qualquer pessoa porque vivemos numa república onde todos devem ser iguais perante a lei”, disse Deltan.

Dirceu está preso desde o dia 3 de agosto. Ele é suspeito de receber dinheiro de propina paga por empresas que mantinham contratos com a Petrobras. A operação Lava Jato investiga irregularidades em contratos de empresas com a estatal. Segundo as investigações, os contratos eram superfaturados e parte do dinheiro ilegal seria repassado a políticos e partidos como o PT, PMDB e o PP.

Segundo Deltan, R$ 64 milhões foram lavados pela organização supostamente dirigida por Dirceu, que teria promovido 129 atos de corrupção ativa, 31 de corrupção passiva e 674 atos de lavagem de dinheiro entre 2004 e 2011.

 O procurador disse ainda esperar que Dirceu receba uma pena superior a 30 anos de prisão.

Segundo a PF (Polícia Federal), Dirceu seria um dos criadores do esquema investigado pela Lava Jato na Petrobras e receberia uma espécie de “mensalinho” de R$ 96 mil entre 2004 e 2013. 

A Justiça agora irá decidir se acata ou não a denúncia contra os 17 investigados. Se acatar, o processo é aberto, e Dirceu e as outras 16 pessoas viram réus.

Histórico de Dirceu

José Dirceu foi preso durante o regime militar e foi libertado em troca da liberdade do embaixador norte-americano Charles Elbrick, que havia sido sequestrado por militantes de esquerda.

Após ser libertado, Dirceu se instalou em Cuba onde passou por treinamento de guerrilha oferecido pelo regime de Fidel Castro. Na década de 70, ele retornou ao Brasil, mas com outra identidade. Dirceu só voltou à vida política após a anistia, no final dos anos 70.

Ele foi um dos fundadores do PT, partido pelo qual foi deputado federal. No primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dirceu ocupou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil.

Em 2012, ele foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por corrupção ativa a sete anos e 11 meses de prisão em regime semiaberto

Antes de ser preso durante a operação Lava Jato, Dirceu cumpria pena em regime de prisão domiciliar.