Força de líderes explica votos pró-Dilma em AP, BA e CE, dizem analistas
A votação das bancadas dos três Estados que foram majoritariamente contrários à abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff mostra a força de lideranças políticas locais. Apesar do placar a favor do "sim" em quase todos os Estados, a maioria dos deputados federais da Bahia, Ceará e Amapá apoiou o governo e votou contra o impeachment.
Na Bahia, os votos contra o impeachment foram bem relevantes, com um placar final de 22 votos pelo não contra 15 pelo sim. No Ceará, foi um pouco mais apertado, 11 contra 9. Já o Amapá – único Estado da região Norte a ter placar favorável ao governo, o resultado foi por pouco: 4 pelo não, 3 pelo sim e uma abstenção.
Em entrevista ao UOL, os cientistas políticos Michel Zaidan Filho, da Universidade Federal de Pernambuco; Zoroastro Pereira Araújo Neto, do Instituto Federal de Alagoas; e o sociólogo Davyd Spencer, da Universidade Federal do Amazonas, apontaram para uma influência de grupos regionais como determinantes para o resultado, apesar do desgaste da imagem do PT em todo o país.
“Nos dois Estados do Nordeste em o PT conseguiu vencer o 'sim', vemos que existem lideranças antigas. O Jaques Wagner (PT) fez o atual governador Rui Costa (PT), na Bahia, e o Cid e Ciro Gomes (ambos do PDT), no Ceará, conseguiram eleger o Camilo Santana (PT). Eles mantiveram a liderança, enquanto os demais não conseguiram segurar os votos para barrar o pedido de impeachment”, destacou Zaidan.
Para Zaidan, era esperado que o PT conseguisse mais votos na região. “Havia uma expectativa de que o Nordeste desse contrapeso ao Sul e Sudeste, pois quase todos os governadores estavam a favor da Dilma.
Também se esperava porque o Nordeste sempre deu apoio ao PT. Isso representa uma crise de liderança regional e fortalecimento do grande líder que foi nessa votação o Eduardo Cunha. Ele aproveitou a fragmentação política”, analisou.
Zaidan ainda cita o interesse midiático em aparecer para o público como combustível para o "não". “Mas observo que houve constrangimento. Foi um verdadeiro corredor polonês para dar o voto e quem estava indeciso sentiu a obrigação de ir pela maioria”, observou Zaidan.
Para Zoroastro Araújo, a votação na Câmara Federal mostrou também uma espécie de “jogo de favores e interesses” pelo cargo da Presidência da República, que ocupada pelo PMDB poderá fortalecer outras alianças nas próximas eleições.
“Ainda tem questão do ‘devo favores’, base histórica da formação da política brasileira. Apoio os partidos que serão gestores porque terei um pedacinho do bolo. Ora, se é o PMDB que lidera esses acordos, voto ou acompanho a indicação para melhorar as relações”, observou Araújo.
Norte e a tendência contrária
No Norte, a aliança firmada entre o governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), com o PT foi crucial para que metade dos deputados federais votassem contra o impedimento de Dilma.
Por outro lado, o enfraquecimento do PT conseguiu dar força ao PMDB e PSDB no Amazonas e Rondônia, que votaram por unanimidade pelo impeachment. No Amazonas, apesar do ministro de Minas e Energia e senador Eduardo Braga (PMDB), que continua no cargo mesmo com o racha entre PMDB e PT, a votação não favoreceu o governo. Uma das explicações pode ser apoio ao impeachment do atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), mas historicamente o partido da presidente não é forte no Estado. Já em Rondônia, o governador Confúcio Moura (PMDB) é contra o PT.
“No Amazonas, o PT é um partido enfraquecido, que não consegue chegar ao poder executivo, nem municipal, nem estadual. Nos últimos 12 anos, principalmente na época do Lula, o PT ganhou uma certa força, conseguiu fazer uma composição política. Porém, com a crise econômica que ocorre, não conseguiu se manter aqui”, explica Spencer.
Para o cientista, falar em ódio da população contra o PT é "desleal." "Apenas a elite tem se posicionado contra Dilma, e a bancada tem usado o nome da população genericamente porque busca novos arranjos partidários com vistas para eleições municipais. A crise fez os políticos locais saírem da base do governo federal e da cúpula partidária em nível nacional. Em função da dinâmica política nacional, eles passaram a rever os interesses e estratégias devido ao enfraquecimento da economia na região amazônica”, explicou Spencer.
Spencer ainda vê "interesses particulares" de deputados na votação. "Havia dúvidas com um ou outro candidato, mas já estava claro que seis dos oito aqui no Amazonas fossem votar a favor. Porém, os deputados Alfredo Nascimento (PR) e Hissa Abrahão (PDT) votaram seguindo a tendência da maioria. Ficaram estrategicamente esperando para ver para onde ia caminhar a onda e de última hora decidiram pelo sim”, opinou.
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