Renan diz que ajudou marido de Gleisi no STF e provoca ira de petistas
Após o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmar que tinha intercedido no STF (Supremo Tribunal Federal) para "desfazer o indiciamento" da senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) e de seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, houve um novo bate-boca no julgamento do impeachment e a sessão foi interrompida nesta sexta-feira (26) pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski.
Calheiros pediu a palavra após Lewandowski, que conduz o julgamento, ter interrompido a sessão por alguns minutos por causa de outro bate-boca, desta vez entre os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Lindbergh Farias (PT-RJ). A discussão começou após Farias chamar Caiado de "desqualificado".
Em seu discurso, Renan Calheiros pedia calma aos parlamentares, mas acabou rebatendo em tom exaltado fala de Hoffmann, que na véspera tinha afirmado que o Senado não tem "moral" para julgar a presidente afastada, Dilma Rousseff.
"Isso não pode acontecer, como a senadora pode fazer uma declaração dessa? Exatamente, senhor presidente [Lewandowski], uma senadora que há trinta dias o presidente do Senado Federal conseguiu no Supremo Tribunal Federal desfazer o seu indiciamento e do seu esposo", disse Calheiros. "Isso não pode acontecer isso é um espetáculo triste que vocês estão dando ao país."
Em seguida, a senadora disse que a afirmação de Calheiros era uma "mentira" e teve início um novo bate-boca. Por causa da discussão, Lewandowski antecipou o intervalo para o almoço e interrompeu a sessão.
O ex-ministro Paulo Bernardo foi preso em junho acusado de corrupção durante operação da Polícia Federal. Seis dias depois, o ministro do STF Dias Toffoli acolheu reclamação da defesa e mandou soltá-lo. Paulo Bernardo e mais 12 viram réus em agosto.
A assessoria de imprensa do STF disse que o Tribunal não comentará a declaração de Calheiros, e que é ele quem deve explicá-la. Disse, ainda, que "todas as decisões dos ministros do STF são baseadas em critérios técnicos".
Em nota emitida no começo da tarde, Renan disse que agiu no caso de Gleisi de modo "impessoal". "Trata-se de manifestação pública e institucional decorrente da operação de busca e apreensão realizada no imóvel funcional ocupado pelo senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e do indiciamento da senadora pela Polícia Federal", diz um trecho da nota.
A fala do presidente do Senado gerou indignação dos parlamentares presentes. A discussão começou antes mesmo que a primeira testemunha do dia fosse ouvida, enquanto senadores pediam questões de ordem.
Renan compara Senado a "hospício"
Antes da confusão, enquanto pedia calma, Renan chegou a citar que o interrogatório de Dilma Rousseff, previsto para a segunda-feira (29), poderia ser adiado.
"Se nós continuarmos dessa forma, vamos ter que cancelar o depoimento da presidente da República, que acontecerá na segunda-feira, porque é evidente que há um processo aqui para delongar esse debate, essa discussão e, consequentemente, o julgamento", disse Calheiros.
Renan comparou, ainda, o Senado a um "hospício". "A ideia, senhor presidente, se nós não encaminharmos diferentemente, é passar para o Brasil e para o mundo, já que o mundo todo está com os olhos debruçados sobre o nosso país, a ideia de que vossa excelência, constitucionalmente, está sendo obrigado, a presidir um julgamento em um hospício".
Após a interrupção da sessão, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), disse que o Senado vai trabalhar para que o interrogatório de Dilma não seja adiado.
Ele afirmou que os senadores da base governista não devem fazer perguntas às testemunhas de defesa, que devem começar a ser ouvidas nesta sexta-feira.
Aécio Neves também disse que não sabe o que Renan quis dizer ao citar o indiciamento de Hoffmann e Paulo Bernardo.
O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), durante o intervalo, disse que Renan não se expressou bem no calor da discussão, e que ele estava sendo "provocado" pela senadora.
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