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Procurador chama salário de R$ 24 mil de "miserê": "vamos virar pedintes?"

Prédio do Ministério Público de Minas Gerais, em Belo Horizonte - Twitter/Ministério Público Minas Gerais/@MPMG_Oficial
Prédio do Ministério Público de Minas Gerais, em Belo Horizonte Imagem: Twitter/Ministério Público Minas Gerais/@MPMG_Oficial

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

09/09/2019 22h37Atualizada em 10/09/2019 09h37

O procurador de Justiça de Minas Gerais, Leonardo Azeredo dos Santos, reclamou da baixa remuneração da categoria no Estado, em reunião extraordinária da Câmara de Procuradores, na sede do órgão em Belo Horizonte, no mês passado, para debater o orçamento do MP (Ministério Público) mineiro para o próximo ano.

"(Os procuradores têm) um salário relativamente baixo, sobretudo para quem tem filhos. Como o cara vai viver com 24 mil reais?", afirmou Azeredo durante a reunião pública, gravada em áudio, disponibilizado no site do MP (confira o áudio abaixo).

A reunião, realizada no dia 12 de agosto, foi presidida pelo procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Antônio Sérgio Tonet. Em sua fala, Azeredo diz estar baixando seu estilo de vida para sobreviver. "Eu já estou baixando meu padrão de vida bruscamente. Mas vou sobreviver. E não é porque sou perdulário, é para manter meu patrimônio, o que eu conquistei nos meus 28 anos de carreira", disse Azeredo.

"Eu, infelizmente, não tenho origem humilde. Eu ao longo da carreira, quis ter mais condição. Não sou acostumado com tanta limitação. Talvez seja até mal visto.", completou. Em outro trecho, o procurador chegou até a dizer a economia que tem feito na fatura do cartão de crédito por mês. "Eu estou fazendo minha parte. Eu já estou deixando de pagar R$ 20 mil no meu cartão de crédito para poder pagar R$ 8 (mil)".

"Quero saber se nós, no ano que vem, vamos continuar nessa situação (...) se vamos ficar nesse mizerê?", indagou o procurador.

Durante o encontro de procuradores, a categoria discutia a hipótese de Minas Gerais assinar um acordo de recuperação fiscal com a União. Com isso, o Estado correria o risco de ficar impedido de realizar reajustes salariais, a exemplo do que aconteceu com o Rio de Janeiro. Esse acordo afetaria o Ministério Público, como os outros setores da máquina pública.

"Eu e vários outros já estamos vivendo à base de comprimidos, à base de antidepressivo. Estou falando desse jeito aqui com dois comprimidos sertralina por dia, tomo dois ansiolíticos por dia e ainda estou falando desse jeito. Imagine se eu não tomasse?", disse o procurador.

"Vamos ficar desse jeito? Nós vamos baixar mais a crista? Nós vamos virar pedintes, quase? Alguns vão falar: 'Olha que exagero seu, você não sabe o que é pedinte'. Mas será que estou pedindo muito para o cargo que eu ocupo? Será que eu to pedindo muito?", indagou.

"Manifestação de cunho pessoal"

A reportagem não conseguiu o contato do procurador Leonardo Azeredo dos Santos. Por meio de nota enviada ao UOL na manhã desta terça-feira (10), a assessoria de imprensa do MP mineiro classificou a fala do procurador como uma "manifestação de cunho pessoal (...) sobre a política remuneratória da instituição".

"Não há nenhum projeto em andamento sobre a adoção de benefícios pecuniários para a carreira de membros (procuradores e promotores de Justiça) ou de servidores, em vista da grave crise financeira vivenciada pelo estado (Minas Gerais) e da necessidade de observação da Lei de Responsabilidade Fiscal para gastos com pessoal", diz o comunicado.

A assessoria informa também que o órgão "vem tomando medidas de austeridade para aumentar a eficiência administrativa e reduzir os gastos, principalmente com pessoal".

"Esse conjunto de medidas tem se mostrado eficiente para manter o Ministério Público dentro do limite legal de 2% da Receita Corrente Líquida."

A assessoria ainda informou que Santos não irá comentar sua fala durante a reunião dos procuradores para discutir o orçamento de 2020.