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Morre psiquiatra que derrubou o mito de que homossexualidade seria doença

Participantes da 20ª edição da Parada do Orgulho LGBT do Rio de Janeiro, na Praia de Copacabana - Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Participantes da 20ª edição da Parada do Orgulho LGBT do Rio de Janeiro, na Praia de Copacabana Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

29/12/2015 13h42

Até 1973 a homossexualidade era considerada um "transtorno antissocial da personalidade". Mas um psiquiatra, empenhado em classificar de forma empírica as doenças mentais, a tirou da lista.

Seu nome era Robert Spitzer, considerado o pai da classificação moderna das doenças mentais, morto na última sexta-feira (25) aos 83 anos devido a um problema cardíaco.

O psiquiatra desempenhou um papel fundamental para a criação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, na sigla em inglês), tido até hoje como a "Bíblia" da psiquiatria mundial.

Desmistificando a homossexualidade

Em suas pesquisas, o médico determinou que a homossexualidade não era uma doença desde que os homossexuais se sentissem confortáveis com sua sexualidade, valendo a mesma lógica para os heterossexuais.

Em 1973, Spitzer conseguiu firmar um acordo no qual ficava estipulado que, para descrever pessoas cuja orientação sexual, seja homossexual ou heterossexual, lhes causava angústia, o diagnóstico passaria a ser o de "distúrbio de orientação sexual".

"Um transtorno médico deve estar associado a uma angústia subjetiva, sofrimento ou incapacidade da função social", disse Spitzer ao jornal norte-americano The Washington Post.

'Divisor de águas'

Baseado na Universidade de Columbia, em Nova York, o pesquisador foi pioneiro em desenvolver um método empírico em torno das doenças mentais, além da teoria tradicional.

Antes da criação do DSM, um diagnóstico poderia variar entre um psiquiatra e outro.

A redação do manual, baseado em informações empíricas, é o "maior divisor de águas da profissão", disse Janet Williams, mulher e colega do psiquiatra, à agência de notícias Associated Press.

"Ele foi, de longe, o psiquiatra mais influente de sua época", indicou Allen Frances ao jornal norte-americano The New York Times. Frances foi o editor da última versão do DSM.

Para o psicanalista Jack Drescher, deixar de considerar a homossexualidade como uma doença foi o maior avanço na defesa dos direitos dos homossexuais.

"O fato de que hoje se permita o casamento gay se deve em parte a Bob Spitzer", disse Drescher, que é homossexual, ao The New York Times.

Revés

Apesar dos avanços creditados a Spitzer no campo da psiquiatria em geral e à retirada da homossexualidade do rol de doenças mentais, a carreira do psiquiatra também foi marcada por um revés.

Em 2001, ele chegou a publicar um estudo no qual apoiava as polêmicas e criticadas terapias que pretendem "converter" homossexuais em heterossexuais, há muito tempo descreditadas por psiquiatras, psicólogos e sexólogos.

A iniciativa de Spitzer foi duramente criticada por ativistas.

Dez anos mais tarde, o psiquiatra pediu desculpas e assegurou que essa pesquisa era a única coisa de sua carreira que lamentava.