Topo

Síndrome de burnout afeta 3 em 10 trabalhadores, indica pesquisa

Da Agência Estado<br>Em São Paulo

27/06/2008 13h33

O nome - síndrome de burnout - pode até soar estranho. Mas trata-se de uma doença muito presente em nosso dia-a-dia. De acordo com pesquisa realizada pela International Stress Management Association do Brasil (Isma-BR), três em cada dez trabalhadores apresentam um quadro crônico de estresse, que caracteriza a síndrome de burnout (em português, algo como "combustão completa").

O termo é usado para classificar um comportamento autodestrutivo, no qual o empregado violenta sua própria saúde no exercício profissional. "O funcionário com burnout é semelhante a uma vela: ao mesmo tempo em que ilumina o ambiente com seu esforço produtivo, acaba se desgastando até apagar", exemplifica Luiz Antônio Nogueira Martins, chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O estudo da Isma-BR, que é uma associação voltada para a pesquisa do estresse, mostra que o desempenho dos empregados que atingem essa condição é, em média, cinco horas inferior ao dos demais funcionários. Essa baixa produtividade, somada aos atrasos, às faltas e aos gastos com a saúde desses trabalhadores, causa às empresas, segundo cálculos da entidade, um prejuízo anual equivalente a pouco mais de R$ 90 bilhões - ou 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. "Além das perdas financeiras, esse tipo de profissional atrapalha o ambiente de trabalho e influencia negativamente os colegas", afirma Ana Maria Rossi, diretora da Isma-BR.

Sintomas

É fácil identificar um trabalhador com burnout. É aquele funcionário que se irrita com facilidade, alterna momentos de agressividade e depressão, só reclama da vida, acha que tudo vai dar errado, não se envolve com os projetos da empresa, vive exausto e está sempre prestes a desmoronar. "Esse é o quadro típico da doença, claramente marcada pela estafa emocional e psicológica", resume Ana Maria.

A professora do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), Alexandrina Medeiros, afirma que o burnout se diferencia dos outros quadros de tensão por ter como fator causador o estresse gerado entre as relações interpessoais. "Quem trabalha sozinho, sem a necessidade de interagir com colegas ou clientes, pode até se estressar", diz. "Mas a peculiaridade do burnout é justamente o desgaste gerado pela obrigatoriedade da convivência com o outro."

A síndrome acomete principalmente os profissionais da área de saúde, segurança e educação. "São atividades que, com freqüência, expõem o trabalhador a situações adversas e a um alto nível de estresse", justifica Luiz Antônio Nogueira Martins, da Unifesp. "Portanto, quem é mais vulnerável não consegue se adaptar à rotina e acaba sucumbindo à pressão."

Para Alexandrina, as pessoas que entram na empresa cheias de energia e, aos poucos, vão se frustrando com a realidade apresentada são ainda mais suscetíveis ao burnout. "Quando o funcionário se debate internamente para executar suas funções - seja por não ser vocacionado para o trabalho ou por ter que fazer as coisas de uma maneira distinta daquela que gostaria - vai minando suas forças e apagando o brilho inicial", avalia Alexandrina. "É nessa hora que ele deve mudar de postura e decidir ou pelo abandono do emprego ou pela aceitação das condições impostas. A única coisa que não pode fazer é destruir a saúde."