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Vacina pneumocócica evitaria doenças em 50 mil crianças, segundo pesquisa

Eduardo Kattah<br>De Belo Horizonte

16/07/2008 17h57

A adoção da vacina pneumocócica conjugada 7-valente no calendário oficial brasileiro evitaria que cerca de 50 mil crianças apresentassem alguma das formas das doenças pneumocócicas (entre elas, meningite e pneumonia) em Minas Gerais e Rio, conforme dados da pesquisa Pneumococo Avaliação Econômica (PAE Brasil) - Avaliação Regional, divulgados hoje, em Belo Horizonte. A pneumocócica conjugada 7-valente está na lista de novas vacinas que podem integrar o calendário oficial do Ministério da Saúde.

Encomendado pelo ministério, o estudo foi patrocinado pela indústria farmacêutica Wyeth e realizado por oito pesquisadores e consultores de universidades e entidades médicas. Em Minas, a conclusão é que a introdução da vacina no Programa Nacional de Imunização (PNI) é capaz de evitar uma morte de criança com menos de 5 anos a cada 25 horas por pneumonia ou meningite. No Rio, a pesquisa afirma que a vacinação pode evitar uma morte a cada 33 horas.

Nos dois Estados, somente com o tratamento da meningite pneumocócica o gasto público por paciente é calculado em R$ 10 mil por tratamento. A enfermidade é apontada pelo estudo como o tipo mais letal para crianças menores de 5 anos, causada pela bactéria pneumococo e caracterizada pela inflamação ou infecção das membranas que cobrem o cérebro e a medula espinhal.

Enquanto em Minas, Estado mais populoso, gasta-se, atualmente, cerca de R$ 5,985 milhões por ano com doenças pneumocócicas, no Rio, o custo chega a R$ 4,621 milhões anuais. Além da pneumocócica conjugada 7, a pasta analisa a inclusão na lista básica de outras imunizações contra doenças como varicela e hepatite A. A decisão sobre a inclusão ou não da vacina depende da negociação entre o governo federal e o laboratório sobre o preço do produto. Atualmente, o ministério oferece a vacina apenas para crianças com necessidades especiais, comprando da Wyeth cerca de 130 mil doses por ano, ao custo de 35 dólares cada.

'Impacto'

"Essa vacina pneumocócica conjugada 7, dos estudos que eu vi, é uma das que têm maior impacto, exatamente porque a doença pneumocócica é muito comum", disse o médico pediatra José Geraldo Leite, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e integrante do Comitê Técnico do PNI.

Segundo Leite, a discussão técnica "está esgotada" e entrou no campo da política. "Após a introdução dela (da vacina), que, geralmente, exige um investimento inicial maior, você, teoricamente, gasta pouco na manutenção do calendário básico e economiza muito em tratamento de doenças graves, que exigem terapia intensiva, equipamento caro, profissional especializado."

Além de pneumonia e meningite, as doenças pneumocócicas incluem sepse (presença no sangue ou em órgãos de microrganismos patogênicos ou de suas toxinas), bacteriemia (processo infeccioso generalizado), otite média aguda e sinusite. O estudo fármaco-econômico chegou à conclusão de que a adoção da vacina na realidade brasileira é "muito custo-efetiva", segundo o coordenador Denizar Vianna Araújo, professor-adjunto do Departamento de Clínica Médica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Uma vacina é considerada custo-efetiva quando o valor por daly - que corresponde a um ano de vida perdido pela mortalidade prematura ou pela incapacidade por causa da doença ou seqüela - é inferior a R$ 27 mil, o teto do parâmetro no Brasil. No caso de Minas, o estudo chegou a R$ 9,413 mil por daly; no Rio, a R$ 9,129 mil.

"Existe uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de incorporar-se a vacina pela própria carga de doença. Do ponto de vista econômico, esse estudo feito na realidade brasileira mostrou também que há possibilidade de se incorporar isso dentro de um parâmetro de custo-efetividade", ressaltou.

Investimento

O investimento orçamentário da administração federal não foi estimado, mas Araújo afirmou acreditar que a negociação poderá deixar o preço da dose abaixo dos 35 dólares pagos hoje pelo ministério. Ele observou, porém, que o país precisa ampliar a fatia orçamentária destinada ao programa de imunização, que, segundo ele, recebe, atualmente, menos de 1% do orçamento global de R$ 60 bilhões da pasta.