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Plantas e animais são esperanças contra doenças tropicais

Da Agência Estado<br>Em São Paulo

07/08/2008 09h45

Plantas e sapos da caatinga e árvores da Amazônia estão se mostrando eficazes contra agentes infecciosos causadores de doenças características das regiões onde eles vivem: leishmaniose, doença de Chagas e malária. Pelo menos três pesquisas identificaram substâncias capazes de matar ou inibir a ação dos protozoários e que podem ser candidatas para novas drogas.

Arquivo Folha Imagem
Além da potência analgésica, o produto à base do veneno de cascavel aparentemente não apresenta a desvantagem de causar dependência e tolerância , como a morfina
VENENO DE CASCAVEL: ANALGÉSICO
VENENO DE PEIXE: ANTIASMÁTICO
ESPÉCIES DA AMAZÔNIA
O trabalho mais avançado envolve uma planta encontrada no semi-árido conhecida como camapu ou mata-fome (Physalis angulata). Pesquisadores da Fiocruz-Bahia, liderados por Milena Soares, isolaram esteróides que se mostraram ativos contra o protozoário leishmânia e desenvolveram um medicamento de uso tópico que pode vir a ser utilizado contra a forma mais comum da doença, a cutânea.

Segundo Milena, a eficácia do produto já foi comprovada nos testes pré-clínicos em animais. Agora a equipe investiga sua segurança, ao mesmo tempo em que faz a propagação da molécula, para que não seja necessário extraí-la da natureza. Os pesquisadores estão empolgados porque não existem bons medicamentos contra a leishmaniose. "As drogas que temos hoje são antigas, de baixa eficácia e alta toxicidade. São necessárias várias injeções intramusculares que são muito dolorosas", diz.

Não tão adiantado, mas também promissor, é o trabalho feito por pesquisadores dos Institutos Adolfo Lutz e Butantã com o sapo cururu (Rhimella jimi). Na secreção da pele do animal, eles encontraram dois esteróides também capazes de matar a leishmânia - um deles destrói ainda o Trypanosoma cruzi (causador da doença de Chagas). Ambas não se mostraram tóxicas a células de mamíferos.

Proteção

As moléculas já eram conhecidas em plantas da região, mas nunca haviam sido observadas no anfíbio ou testadas contra os dois protozoários. Provavelmente, foram incorporadas no animal pela alimentação, mas os pesquisadores ainda não sabem se o sapo faz uso desses esteróides para sua proteção.

"Mas, se pensarmos como o animal vive, é de esperar que encontremos boas soluções. O ambiente seco da caatinga vai contra a biologia do anfíbio, que pede água em parte da sua vida. As adaptações pelas quais teve de passar para poder viver fazem com que seja muito eficiente. Quanto mais inóspito o local onde vive, mais interessantes são suas moléculas", diz o biólogo Carlos Jared, do Butantã. As informações são do Jornal da Tarde.