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França quer proibir uso duplo de anticoncepcional Diane 35

29/01/2013 13h41

Paris - A Agência Nacional de Segurança dos Medicamentos e dos Produtos de Saúde (ANSM) da França anunciou ontem que pedirá às autoridades sanitárias do país que proíbam a prescrição do remédio Diane 35 para fins anticoncepcionais. No fim de semana, a instituição divulgou que seu uso foi diretamente associado a quatro mortes por trombose ocorridas nos últimos 27 anos. Outras 25 mortes que teriam como causa coágulos sanguíneos estão sob suspeita.

As dúvidas sobre a segurança de pílulas anticoncepcionais de terceira e quarta gerações cresceram na França nas últimas seis semanas, depois que Marion Larat, de 25 anos, registrou queixa contra o grupo farmacêutico alemão Bayer, por atribuir o acidente vascular cerebral (AVC) que sofreu em 2006 ao uso de outra pílula, comercializada na Europa com o nome de Meliane. Marion sofre de sequelas permanentes. O caso está sendo investigado pela Procuradoria-Geral de Bobigny, em Seine Saint-Denis, periferia de Paris.

Na quinta-feira passada (24), 14 reclamações semelhantes foram registradas em conjunto no Tribunal de Grande Instância da mesma cidade. O objetivo da ação é pedir uma investigação contra os fabricantes de pílulas contraceptivas de terceira e quarta gerações.

A ação também pede a abertura de um processo por homicídio culposo (sem intenção de matar) - e “atentado culposo contra a pessoa humana” contra a ANSM, responsável por verificar a segurança dos medicamentos na França. As queixas foram registradas por 11 vítimas de trombose (uma delas cerebral) e de AVC, todas com idades entre 18 e 46 anos, assim como por familiares de três mulheres mortas.

Além do Diane 35, elas também usaram outras marcas comerciais de pílulas de terceira e quarta gerações: Desobel, Gestodene, Ethinylestradiol30, Melodia, Carlin 20, Varnoline, Yaz, Jasmine e Jasminelle. Em 2010 foi criada a Associação de Vítimas de Embolia Pulmonar (Avep), para advertir a opinião pública sobre os riscos gerados por essas pílulas. “Nós enfrentamos a resistência do corpo médico, de políticos, de associações feministas”, diz o presidente da Avep, Pierre Markarian, que reclama da ineficiência das agências nacional e internacionais de controle de medicamentos. “Há exames para determinar se a pílula convém ou não, se o sangue coagula ou não”, adverte.

Proibição

Na segunda-feira (28), Dominique Maraninchi, diretor-geral da ANSM, anunciou que a agência pedirá a interdição da prescrição média de Diane 35 como anticoncepcional. Originalmente, a pílula era um medicamento contra a acne, que, por seus efeitos contraceptivos, foi adotada por quase 315 mil mulheres em toda a França. A medicação também é comercializada no Brasil. “É preciso parar com esse uso ambíguo e sua utilização como contraceptivo. É uma situação que durou tempo demais”, disse Maraninchi, em entrevista à rádio parisiense RTL.

De acordo com ele, “há 25 anos Diane 35 não é autorizado a ser usado como contraceptivo”. “É responsabilidade da agência fazer respeitar as indicações”, afirmou Maraninchi. Apesar do uso difundido, a Bayer nunca teria pedido o registro do medicamento como contraceptivo. “Além disso, nossos experts e ginecologistas consideram que não é um bom anticoncepcional”, disse Maraninchi. Segundo estudo da ANSM, o uso de Diane 35 aumenta em sete vezes o risco de trombose.

‘Efeitos conhecidos’

Na segunda-feira (28), em resposta, o laboratório Bayer divulgou uma nota na qual frisou que os riscos de coágulos sanguíneos ligados ao tratamento contra acne com Diane 35 “são conhecidos e estão claramente indicados na bula de informação ao paciente”. De acordo com a companhia alemã, o medicamento só deve ser prescrito em casos de acne e “no respeito de suas contraindicações”. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Andrei Netto, correspondente