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Ministério suspeita que febre zika tem ligação com casos de paralisia

Em Brasília

19/10/2015 10h13

Preocupado com os casos de febre do vírus zika, o Ministério da Saúde vai discutir com autoridades sanitárias dos Estados e médicos especialistas uma estratégia para enfrentar e tratar a doença no país. Embora não haja registros de complicações graves ou mortes, há fortes suspeitas da associação entre a infecção, conhecida como prima da dengue, e a Síndrome Guillain-Barré, que provoca paralisia progressiva, iniciando pelos membros inferiores e podendo chegar ao pulmão.

"Houve um aumento importante nos casos dessa síndrome em Estados do Nordeste", afirmou o diretor da Divisão de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch. O fenômeno coincidiu com a elevação dos casos de zika. Equipes de vigilância tentam agora comprovar a correlação entre as duas doenças.

Os pacientes no Nordeste com a síndrome começaram a apresentar os sintomas cerca de duas semanas depois de manifestar um quadro semelhante ao da zika: febre baixa, dores de cabeça, nos punhos e tornozelos, além de manchas pelo corpo. "No caso da síndrome, o tratamento é mais delicado: exige internação e pode durar períodos longos", contou o diretor. A síndrome ocorre geralmente em pacientes que apresentaram infecções. "Pode acontecer até com um vírus da gripe", disse.

Depois de infecções agudas, aparentemente o organismo deixa de reconhecer as próprias células e passa a atacá-las. Os primeiros sintomas da síndrome são fraqueza e dormência. Se a paralisia chega aos pulmões, é necessário usar respiradores. Essas reações, no entanto, são muito raras. "Foi isso que despertou a atenção. O problema, que era esporádico, começou a se tornar um pouco mais frequente", completou Maierovitch.

A correlação entre o zika vírus e a síndrome de Guillain-Barré já foi identificada em outros países que apresentam também a circulação simultânea do vírus da dengue. Na Micronésia, na Oceania, por exemplo, o número de casos da síndrome saltou de 5 para 20 durante um surto de zika.

Na Bahia, foram pelo menos 76 casos suspeitos de Guillain-Barré e, em Pernambuco, 64. Além de protocolo para tratamento da doença, o Ministério quer alertar Estados para a necessidade de hospitais estarem atentos para um eventual aumento de demanda no atendimento.

Entre as preocupações estão a rápida identificação e o encaminhamento para o tratamento. Uma reunião com coordenadores de Estados e com especialistas deve ser realizada até o início de novembro.

Diagnóstico

Transmitida pelo Aedes aegypti, mosquito que é vetor também da dengue e da febre chikungunya, a febre zika teve os primeiros casos confirmados no Brasil em fevereiro deste ano. Não há um kit comercial para comprovar os casos da doença. Justamente por isso, o diagnóstico muitas vezes é feito com base nos sintomas clínicos. Somente parte dos pacientes apresenta manifestações da infecção: 72% são assintomáticos.

Maierovitch afirmou que atenção especial será dada também para chikungunya. De janeiro a setembro deste ano foram identificados 12.170 casos da doença, nos Estados da Bahia, do Amapá, de Roraima e do Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal. "Embora os números tenham sido expressivos, estão longe da explosão epidêmica vivida, por exemplo, em países da América Central nos anos de 2013 e 2014", ponderou.

Uma das justificativas para maior proteção seria o próprio comportamento do doente: como a doença é mais incapacitante, há maior probabilidade de que pacientes fiquem em casa, recolhidos, expondo-se menos a picadas de mosquito e, consequentemente, reduzindo os riscos de proliferação da doença", contou o diretor. (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)