Epidemia de zika mudou rotina de cientistas brasileiros
"Quais são as maiores dificuldades de pesquisa de zika no momento? O dia só tem 24 horas!" A declaração entre bem-humorada e aflita é do virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Ele conta que tem dormido em média três horas por noite desde que se observou a epidemia de microcefalia. "Todo mundo que está trabalhando com zika está assim. Sacolejou todo mundo", afirma.
Para ele, os cientistas se mobilizaram dessa forma porque a crise é inédita. "É só pensar na carga socioeconômica de ter um número grande de crianças com microcefalia. Pode causar uma perturbação na demografia. É um aspecto devastador impactando a forma como a sociedade continua no tempo."
A mudança de rotina também impactou o laboratório de pesquisa do neurocientista Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto D’Or de Pesquisa. Antes da epidemia, eles desenvolviam os, agora famosos, minicérebros, para testar a evolução de outras doenças neuronais. Diante da emergência, redirecionaram os esforços e passaram a analisar se o vírus zika poderia infectar as células-tronco que formam o cérebro.
"Foi um mês de pesquisa. Começamos a trabalhar no carnaval e, quando vimos que tínhamos um bom resultado, escrevemos em 48 horas um paper", diz Stevens. O trabalho mostrou que, sim, o zika infecta e destrói as células, o que pode ser um caminho para entender sua possível relação com a microcefalia.
Ele conta que o esforço está sendo possível porque ainda há uma reserva de investimentos dos últimos dez anos. "Conseguimos formar uma capacidade intelectual instalada e de equipamento. É uma mistura essencial para resposta rápida, mas agora o futuro da pesquisa pode começar a ficar prejudicado."
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