Topo

Atendimento rápido é essencial em casos como o de aluna morta em faculdade

Do UOL

Em São Paulo

24/08/2012 18h14Atualizada em 24/08/2012 18h37

A morte da estudante Angelita Simões, de 28 anos, no campus da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), no Itaim-Bibi, em São Paulo, tem gerado polêmicas em relação à demora no atendimento prestado à vítima, que apresentou um mal súbito na noite desta quinta-feira (23). O fato é que, em casos de parada cardíaca, nem mesmo dez minutos podem ser suficientes para salvar uma pessoa.

"De forma geral, a cada minuto perde-se 10% de chance de sobrevivência", afirma o cardiologista Adalberto Lorga Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas. O médico não quis comentar diretamente o caso de Angelita, mas afirmou que, em casos como esse, a rapidez no atendimento é primordial.

O cardiologista também explica que nem sempre a massagem cardíaca é capaz de reverter o quadro. O desfibrilador automático, aparelho que provoca choque e estabiliza os batimentos do coração, é a única chance de sobrevivência. É por isso que o equipamento é obrigatório em locais com circulação de pelo menos 1.500, de acordo com lei municipal.

Embora ele venha com instruções, é preciso que haja gente treinada no local para utilizá-lo em emergências. Lorga Filho alerta que as instituições precisam manter um esquema de treinamento constante, já que o funcionário preparado muitas vezes é substituído ou perde a prática pela falta de ocorrências.

A FMU informou ao UOL que o campus do Itaim Bibi possui 2.000 alunos e que o estabelecimento conta com o equipamento. "A FMU possui desfibrilador e inspetores habilitados para utilização do mesmo. Os funcionários estavam no local". Mas a assessoria de imprensa da instituição não esclareceu se os funcionários chegaram a prestar o atendimento antes da chegada dos bombeiros.

Segundo o marido da vítima informou à Folha.com, Angelita ficou 40 minutos agonizando até ser socorrida pelo Samu, informação que é negada pela FMU.  Em nota, a faculdade descreve que uma colega de Angelita percebeu que ela passava mal às 21h37. Polícia, Corpo de Bombeiros e Samu teriam sido acionados às 21h40. Os bombeiros teriam chegado às 21h51 e iniciado o atendimento, até a chegada do resgate, às 22h05.

O Corpo de Bombeiros informa que recebeu a ligação às 21h49 e que chegou ao local às 21h56. Médico e enfermeiro teriam constatado a morte de Angelita ainda no local. Já a Secretaria de Saúde afirmou que o primeiro chamado para o Samu foi feito às 21h46.

Testemunhas disseram à polícia que a aluna começou a passar mal por volta de 21h30 e que os colegas de classe foram impedidos pela faculdade de levá-la ao Hospital São Luiz, a cerca de 2 quilômetros do local. Também há informações de que havia um bombeiro de plantão no local, que não teria prestado socorro por razão desconhecida.

Todas essas incongruências serão investigadas pela polícia - o caso está registrado no 15º Distrito Policial.

Arritmias

As causas da morte de Angelita também precisam ser analisadas. O Corpo de Bombeiros e o marido da vítima afirmam que a aluna sofreu um infarto. Mas a família também informou que Angelita sofria de arritmia cardíaca e teve o tratamento medicamentoso suspenso por orientação médica há um mês. Segundo médicos, a condição não costuma levar ao infarto.

As arritmias cardíacas são alterações do ritmo normal do coração, que afetam, com mais frequência, pessoas que possuem doenças cardiovasculares, mas também podem ocorrem em indivíduos saudáveis e atletas. O problema nem sempre é fácil de ser diagnosticado - muitas vezes a morte súbita é a primeira manifestação.

Existem diferentes tipos de arritmias e muitas delas não respondem a medicamentos. Em certos casos, é indicado um procedimento invasivo conhecido como ablação, ou ainda o uso de um desfibrilador implantável, uma espécie de marcapasso. Os tratamentos são feitos para minimizar o risco de morte súbita, quando há uma parada cardiorrespiratória repentina.

A cardiologista Cláudia Perez, chefe do serviço de arritmia do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), no Rio, explica, porém, que a morte súbita nem sempre é causada por arritmia cardíaca. Se realmente a vítima sofreu um infarto, o evento pode não ter qualquer relação com o problema apresentado por ela previamente. "O mais comum é que a oclusão do vaso [que causa o infarto] leve à arritmia e não o inverso", diz.

(Com Folha.com)