Tarcísio negocia vigilância cibernética militar para SP com Emirados Árabes
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), erra ao negociar a base de dados e a vigilância cibernética militar do estado com um grupo de tecnologia dos Emirados Árabes, disse a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, no Análise da Notícia desta quarta-feira (8).
O governo Tarcísio, em janeiro deste ano, assinou um acordo de cooperação com o grupo Edge, que é um grupo de tecnologia dos Emirados Árabes, cujo CEO é Marcos Degaut, ex-secretário de Produtos de Defesa do governo Bolsonaro entre 2019 e 2022.
Em 2022, ele sai do cargo porque embora ele não seja diplomata de carreira, ele vira embaixador em Abu Dhabi, dada essa relação com os Emirados Árabes, já que o grupo Edge tinha sido contratada pelo Ministério da Defesa para um grande contrato de prestação de serviços para a Marinha.
Bolsonaro perde a eleição, Degaut fica um trimestre desempregado, mas o fato é que ele virou CEO do grupo Edge no Brasil. O grupo Edge, em janeiro deste ano, assinou um acordo de cooperação com o governo do estado de São Paulo para fornecer o que eles chamam de 'Crystal Ball'.
Ela conta, com base em reportagens, que o sistema já foi implementado em alguns locais do estado.
Seria um serviço de tecnologia com integração de sistemas, que vai fazer vigilância, rastreamento e análise criminal, integrando bases de dados e sistemas de informação. Em alguns lugares, consta que isso está acontecendo apenas no centro de São Paulo, mas uma reportagem do Antagonista diz que foi implantado na Baixada Santista.
Segundo Samira, o problema nisso tudo é eles terem acesso ao banco de dados do estado.
Por que estou falando isso a partir do que está saindo na imprensa? Não houve uma licitação para formalizar, então eles não foram contratados, mas, a princípio, eles estão tendo acesso à base de dados de inteligência do governo do estado, que estaria sendo alimentada por informações que eles estariam coletando.
Existe um relacionamento no mínimo questionável, porque essa grande empresa, que é uma empresa de defesa dos Emirados Árabes, cujo CEO é um bolsonarista do núcleo duro, está tendo acesso e coletando informações de vigilância e segurança nacional de todos os cidadãos do estado de São Paulo. A gente não sabe para onde está indo, quem faz a gestão desses dados e que dados são esses.
A falta de discussão com a sociedade, o legislativo e o judiciário também incomoda, diz Samira.
A ideia disso tudo, de todas essas informações, é que além de saberem de tudo da nossa vida, é que esse sistema seria capaz de identificar comportamentos suspeitos e alertar policiais antes que um crime efetivamente aconteça.
Esse tipo de ferramenta, utilizando empresas que estão habituadas a oferecer serviços na área de segurança nacional, fornecendo equipamentos para Exército e outras rotinas que são absolutamente diferentes da Segurança Pública, é algo que deveria ser discutido com a sociedade, com a Alesp e com o Ministério Público.
Como você seleciona uma empresa dessa e fala: 'Aqui estão minhas bases de dados e todas as informações. Fica à vontade e coleta tudo que você quiser'.
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