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Exercícios com cavalos trazem melhoras para quem sofre de estresse, depressão e insônia

Michelle Rodrigues faz equoterapia há três meses com a égua Chuva no Jockey Clube de São Paulo - Fernando Donasci/UOL
Michelle Rodrigues faz equoterapia há três meses com a égua Chuva no Jockey Clube de São Paulo Imagem: Fernando Donasci/UOL

Carla Uerlings

Do UOL, em São Paulo

15/12/2012 07h00

Um remédio natural contra doenças do mundo moderno. Essa é uma das formas de se ver a equoterapia, que pode ser traduzida como um método terapêutico que utiliza a equitação. Há 15 anos, a fisioterapeuta Letícia Junqueira trabalha com essa prática e há dois tem parceria com o Jockey Club de São Paulo.

Ela garante que a equoterapia abrange muito mais que pessoas com mobilidade reduzida. “Essa terapia pode auxiliar no tratamento de estresse, insônia, síndrome do pânico e distúrbios alimentares  (bulimia e anorexia), além de ajudar no aprendizado e no resgate da relação mãe e filho.”  Junqueira acrescenta que o contato corporal com o animal melhora a independência, a autonomia, a autoestima e a autoconfiança.

A fisioterapeuta explica que quando a pessoa está em cima do cavalo, precisa se adaptar ao movimento do animal - de um lado para outro, para frente e para trás, para cima e para baixo. Com isso, há liberação das endorfinas, os antidepressivos naturais do organismo.

“Durante esse exercício, o praticante recebe de 1.800 a 2.200 estímulos cerebrais e ajustes tônicos que percorrem a coluna e chegam até o Sistema Nervoso Central. Os neurônios se unem, geram novas células nervosas e ajudam no equilíbrio dos níveis de noradrenalina e da serotonina, o hormônio da felicidade.”

Para dormir melhor

Nem parece que a poucos metros dali encontra-se a caótica e barulhenta Marginal Pinheiros. O clima calmo e bucólico do Jockey Club é o cenário perfeito para montar Chuva, a égua que ajuda os pacientes da fisioterapeuta Letícia Junqueira.

Michelle Rodrigues, 30 anos, sofre de insônia e dor de cabeça. Há três meses faz a equoterapia. “Sinto-me bem melhor, mais relaxada. É algo muito gostoso, principalmente porque é ao ar livre.” Ela nunca havia montado um cavalo, mas garante que não teve medo, pois Chuva é muito mansa. Além disso, a fisioterapeuta e o cavalariço acompanham cada paciente o tempo todo.

A acupunturista Roberta Luz tem 29 anos e também procurou a equoterapia para amenizar suas noites de insônia. Faz cinco meses que ela participa das sessões. “Os exercícios respiratórios que fazemos me ajudam a acalmar. Até o movimento de mastigar da Chuva é relaxante”, comenta.

As sessões variam de duas a três vezes por semana e duram 30 minutos cada. Os resultados aparecem rapidamente, mas irá depender de cada pessoa. A média para quem sofre de insônia é seis meses.

Evolução emocional

O médico Paulo Facciola Kertman, ortopedista pediátrico e do esporte, indica a prática da equoterapia a seus pacientes com paralisia cerebral. Segundo ele, há evolução no aspecto emocional, psicológico e da coordenação motora. “As mães relatam que as crianças ficam mais calmas. Além disso, melhora o equilíbrio do tronco, fazendo com que não caiam com tanta frequência”, avalia ele que, durante muitos anos, atendeu na Santa Casa e na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).

O médico diz que não há contraindicações para praticar a equoterapia, mas é necessário fazer uma avaliação prévia. “É preciso verificar as condições da coluna e dos quadris, partes bastante exigidas durante os exercícios com o cavalo”, aconselha Kertman.

A neuropsicóloga Daniella Landucci, do Centro Paulista de Neuropsicologia (CNP), também recomenda a prática dos exercícios com cavalos a pessoas que tiveram sequelas físicas e cognitivas, em virtude de acidentes de carro ou moto.

“Dependendo da lesão, os acidentados não voltam a ter a mesma vida de antes. Percebi evolução rápida nos pacientes que praticam  a equoterapia, principalmente no controle do tronco, melhorando a qualidade de vida”, constata Landucci.

Adaptação do animal

Não é qualquer cavalo que é utilizado na equoterapia.  Letícia Junqueira diz que o animal precisa passar por adaptação e treinamento de cerca de três meses. É necessário ter altura e idades ideais. “Se for muito novo só vai querer brincar e o mais velho não irá produzir muito”, explica.

Chuva, que ajuda os pacientes de Junqueira, tem sete anos. A fisioterapeuta já está treinando outros cavalos para não sobrecarregar a égua. “Depois de cada sessão a deixamos solta para brincar um pouco. Não queremos que ela se estresse com seu trabalho”, garante.

Prática vem da Grécia Antiga

Hipócrates (458 –370 a.C.), considerado o pai da medicina, já se referia à equitação na Grécia Antiga como sendo uma prática que ajudava na regeneração da saúde. Em seu livro “Das Dietas” ele afirmava que cavalgar melhorava o tônus muscular e também era indicado no tratamento de insônia.

A Primeira Guerra Mundial contribuiu para o desenvolvimento da Equoterapia. Muitos soldados feridos em combate utilizaram esse tratamento para se reabilitar.

No Brasil, a equoterapia foi introduzida em 1989, em Brasília. Na site da Associação Nacional de Equoterapia (Ande - http://www.equoterapia.org.br) é possível saber mais sobre o assunto, além de consultar locais, no país todo, onde essa terapia é praticada.