Hiperidrose: tire suas dúvidas sobre suor e tratamento

Já na adolescência, a jornalista Caroline Caram, 44, percebeu que o excesso de transpiração nas suas axilas não era normal. “Tinha vergonha porque minhas roupas ficavam molhadas embaixo do braço, tipo ‘pizza’”, contou. “Pizza” é a forma como as pessoas chamam as marcas de suor na roupa. E elas costumam deixar constrangido quem sofre de hiperidrose, nome correto da doença que faz a pessoa suar demais em áreas como axilas, mãos, pés e virilha.

“A hiperidrose pode ter causa genética, mas muitas vezes acontece por problemas hormonais, como alterações da tireoide, menopausa, além da obesidade”, explica a dermatologista Daniela Lemes.

Diversos são os relatos de pessoas que sofrem com este problema, que pode causar dificuldade de relacionamentos e problemas no trabalho.

Nos Estados Unidos, o incômodo causado pela doença inspirou a criação de uma associação, a Internacional Hyperhidrosis Society (Sociedade Internacional da Hiperidrose, em português), que reúne pessoas que suam demais para trocar experiências.  Algumas relatam que não conseguem segurar canetas por conta do líquido que expelem e vivem molhando papéis importantes. Outros dizem ter tanta vergonha que não conseguem se relacionar.

Além das manchas aparentes nas roupas, o suor é sempre visto como sinônimo de sujeira ou mau cheiro. O que nem sempre é verdade. “O mau cheiro é resultado da proliferação de bactérias na região, por conta do acúmulo de suor. Ele não vem do próprio suor”, diz Daniela Lemes.

Para resolver o problema, depois de tentar desodorantes manipulados e não obter resultado, Caroline optou por fazer aplicações de toxina botulínica, conhecida como botox, nas axilas. “Já apliquei cinco vezes. Para mim, o efeito dura em torno de oito meses. São mais de 30 picadas em cada axila, é incômodo, mas passo um anestésico uma hora antes para amenizar a dor, que é bem suportável”, disse.

As aplicações da toxina botulínica custam em torno de R$ 2.000, e são eficazes em 90% dos casos. Elas são recomendadas por não serem invasivas como as cirurgias.

Como lidar?

O suor é um mecanismo natural para manter a temperatura do corpo. Esta produção aumenta durante os dias mais quentes, após exercícios físicos ou em momentos de tensão.

Mas será que há formas de amenizar o incômodo? A alimentação tem papel importante no cheiro do suor?

O UOL fez  dez perguntas sobre suor para a dermatogista Denise Steiner, atual presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Confira as respostas e mate suas dúvidas:

Por que há pessoas que transpiram mais do que as outras?
Denise Steiner - A produção de suor é regulada por estímulos variados, como temperatura alta, exercício físico e estresse. Também aumenta em doenças infecciosas e inflamatórias, por causa da febre. Estes mecanismos são individuais e influenciados pela genética de cada organismo.

Homens suam mais do que as mulheres?
Em geral, os homens suam praticamente igual às mulheres, mas há predominância do cheiro mais forte pois, como não depilam as axilas, as bactérias proliferam mais.

A alimentação pode influenciar no odor do suor? Há alimentos “proibidos”?
A alimentação não influencia diretamente na produção do suor, porém alimentos que favorecem o aumento da temperatura do corpo aumentam o suor. O suor, no entanto, pode ter cheiro forte por causa de alguns alimentos fortes (cebola, alho etc).

Os tecidos das roupas podem piorar o cheiro?
Alguns tecidos sintéticos aumentam o suor porque abafam o local e, consequentemente, aumentam o mau cheiro. Prefira as roupas de algodão.

É preciso reaplicar o desodorante durante o dia, mesmo quando ele é 24 ou 48 horas?
Pode ser reaplicado mais de uma vez ao dia, se sentir necessidade. Porém, deve-se observar se há irritação e evitar produtos com muito álcool na formulação.

Manter as regiões que mais suam depiladas ajuda a não suar tanto?
A depilação não diminui o suor, mas, sim, evita o mau cheiro. O suor tem outros estímulos.

Usar talco é recomendado para aplacar o suor?
Usar talco não é recomendado, pois pode resolver o problema só no momento e ser prejudicial à saúde, pois seu uso a longo prazo pode formar grânulos que irritam a pele.

Qual é o tratamento mais indicado para quem sua demais? Há contraindicação?
Uma opção de tratamento é o realizado com o uso da aplicação de toxina botulínica, uma substância derivada de uma bactéria que é utilizada como medicação em vários tipos de doenças e para fins estéticos. A toxina bloqueia a ação da acetilcolina, que é necessária para a sudorese. Ela é aplicada com agulha ponto a ponto, em toda região das mãos, pés, axilas e, se for o caso, em outras regiões com esse problema.

Com o bloqueio da acetilcolina há uma suspensão de cerca de 80% da sudorese nos locais onde a toxina é aplicada, sem causar nenhum efeito colateral, uma vez que a pessoa continua transpirando nas demais regiões do corpo. Na realidade, o tratamento inibe o excesso de suor que prejudica a pessoa, inclusive em situações sociais.

Esse tratamento durante cerca de seis meses e é ideal que seja feito regularmente, para que sua ação seja mantida. Vale lembrar que o procedimento deve ser feito sempre por um dermatologista.

Usar leite de magnésia na região ajuda no tratamento?
No tratamento não, só eventualmente para disfarçar momentaneamente o suor. Mas isso não é recomendado. O uso contínuo, assim como o do talco, pode formar grânulos que irritam a pele.

As pessoas transpiram mais em situações de nervosismo, por exemplo. Por quê?
Isso ocorre porque o sistema nervoso central estimula a glândula sudorípara.