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Casca, talo e sementes são ingredientes saudáveis e gostosos; veja como usá-los

Partes desperdiçadas dos alimentos possuem mais nutrientes importantes para o bom funcionamento do organismo que aquelas consideradas nobres,  mais conhecidas e consumidas  - Monica Machado/Folhapress
Partes desperdiçadas dos alimentos possuem mais nutrientes importantes para o bom funcionamento do organismo que aquelas consideradas nobres, mais conhecidas e consumidas Imagem: Monica Machado/Folhapress

Chris Bueno

Do UOL, em São Paulo

08/05/2013 07h00

Sopa de talo? Suco de casca de fruta? Farinha de semente? Pode parecer estranho, mas essas receitas existem e são gostosas e saudáveis. Além disso, em épocas como a atual, em que os gastos com a alimentação estão altos, representam economia, pois evitam o desperdício, aproveitando tudo de bom que o alimento tem a oferecer.

O que geralmente vai para o lixo, como o talo, a semente e as cascas de frutas e vegetais pode – e deve – ser aproveitado. Afinal, eles são ricos em vitaminas e fibras, podendo ter até 40 vezes mais nutrientes do que a própria fruta, verdura ou legume.

“Essas partes, teoricamente não comestíveis, são ricas em sais minerais, vitaminas e fibras, nutrientes essenciais ao nosso organismo”, aponta Rosane Pilot Pessa Ribeiro, professora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto. Um bom exemplo disso é a casca da laranja, que tem 40 vezes mais cálcio do que sua polpa.


Mas não para por aí. De acordo com a Tabela de Composição Química das Partes não Convencionais dos Alimentos, apresentada pelo programa Alimente-se Bem do Sesi (Serviço Social da Indústria) de São Paulo, partes como a casca, o talo e a semente possuem muitos nutrientes importantes para o bom funcionamento do organismo.

A casca do abacaxi, por exemplo, é rica em vitamina C, que aumenta as defesas do organismo, auxiliando na prevenção e no combate de infecções como a gripe. Já a folha da cenoura é fonte de proteína, que auxilia na formação e manutenção dos órgãos e na cicatrização, e em lipídios, que regula a temperatura corporal, fornece energia e facilita o transporte de nutrientes pelo organismo. E o talo da salsinha possui grandes concentrações de fibra, que auxilia a controlar os níveis de açúcar e gordura no sangue, ajudando a prevenir diabetes e doenças do coração, além de contribui para o bom funcionamento do intestino, e em cálcio, que é responsável pela formação e manutenção dos ossos. E esses são apenas alguns exemplos.

Na regra do aproveitamento integral dos alimentos, nada se perde. Sementes de abóbora, por exemplo, podem se tornar um petisco saudável e é interessante notar que elas têm 28 vezes mais fibras do que a polpa.

Sementes de outras frutas, como a jaca, também pode ser torradas e trituradas para virar uma farinha nutritiva, que pode ser usada em massas de bolos e tortas. Nem a casca do ovo deve ser jogada fora: rica em cálcio, ela pode ser triturada e misturada à farinha em bolos e pães.

Incrementando a culinária

“A utilização integral dos alimentos possibilita uma maneira de incrementar a culinária diária, criando receitas enriquecidas nutricionalmente. Podem ser boas fontes de fibras, vitaminas e sais minerais, quando se implanta corretamente esses alimentos no cotidiano das famílias”, aponta Júlio Sérgio Marchini, professor de Nutrologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP/ USP).

As opções são muito variadas – e as receitas também. Tanto que o programa Alimente-se Bem do Sesi acabou de lançar um livro com 50 receitas que aproveitam todas as partes de frutas e hortaliças. Todos conceitos mostrados no livro são também apresentados em cursos, com quatro ou três aulas práticas e teóricas, com carga horária de 10 horas, e realizados em 44 das 54 unidades do Sesi ou "in company". O livro é gratuito e oferecido para quem faz o curso com 65% de presença comprovada.

Entre as receitas estão o arrumadinho de berinjela, que aproveita a casca da berinjela e talos de salsa, e o bolo musse de acerola, que utiliza a entrecasca (aquela parte branca entre a casca e a polpa da fruta) do maracujá entre seus ingredientes.

As partes não convencionais dos alimentos podem ainda ser utilizadas em sopas, saladas, sucos, geleias, compotas e até como aperitivos. Tudo depende da criatividade de quem cozinha. “A casca da banana, por exemplo, é rica em fibras e pode ser utilizada na confecção de bolos e doces; a casca do maracujá e da tangerina são ricas em vitamina C e fibras e pode se fazer um doce em compota ou geleia; a casca da abobrinha é rica em fibras e pode ser utilizada em conjunto com a ricota em quiches; a casca da berinjela é rica em potássio e pode ser utilizada refogada como acompanhamento”, ensina Célia Cohen, nutricionista e pesquisadora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP).


Uma questão de economia

Além de fazer bem para a saúde, o aproveitamento integral dos alimentos também faz bem para o bolso. Afinal, no Brasil, o desperdício de alimentos é muito grande. Para se ter uma ideia, a maior parte do lixo produzido no país é orgânico, ou seja, proveniente de restos de alimentos.

Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2012, uma residência brasileira desperdiça em média 20% dos alimentos que compra semanalmente e, a cada ano, o Brasil joga fora R$ 12 bilhões de reais com o desperdício de alimentos. Por outro lado, a fome continua sendo um dos mais graves problemas do país. Ainda de acordo com dados da ONU, o país possui 50 milhões de pessoas que convivem com a fome e a desnutrição.

Isso se reflete na economia pessoal também, pois um único alimento pode ser preparado de cinco formas diferentes e todas com alto valor nutritivo. Assim, aproveitar a casca, o talo e a semente também significa economia e permite que as pessoas experimentem novas opções de receita, diversificando o cardápio.

“Utilizar o alimento em sua totalidade denota mais do que economia. Significa usar os recursos disponíveis sem desperdício, reciclar, respeitar a natureza e alimentar-se bem, afinal, talos, folhas, sementes e cascas são, muitas vezes, mais nutritivos do que a parte dos alimentos que estamos habituados a comer”, afirma a nutricionista Bruna di Chiara Passos.