Jogos da Copa do Mundo aumentam risco de infarto, dizem pesquisas
A paixão pelo futebol é uma das fortes características do povo brasileiro. Se emocionar a cada partida do time do coração, vibrar com as vitórias, chorar com as derrotas já faz parte do comportamento dos milhares de torcedores fanáticos que existem neste país. Essa emoção tende a se ampliar em períodos de Copa do Mundo ainda mais no Brasil, quando parcela expressiva da população se envolve com o clima festivo e patriótico do evento esportivo.
Especialistas afirmam, no entanto, que é preciso ter cuidado com essa carga emocional, pois estudos comprovam que a Copa do Mundo e, especialmente, os jogos da seleção brasileira implicam em maior incidência de infarto agudo do miocárdio.
Uma pesquisa intitulada “Copa do Mundo de Futebol como Desencadeador de Eventos Cardiovasculares” desenvolvida por pesquisadores da USP-Ribeirão Preto e publicada no ano passado na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, comprovou o fato. O estudo partiu do pressuposto de que, sendo o futebol particularmente popular no Brasil, as partidas poderia ser um gatilho forte o suficiente para aumentar emergências cardiovasculares.
Para comprovar a premissa, os pesquisadores coletaram dados sobre internações e óbitos ocorridos após a hospitalização, com base nas AIHs (Autorização de Internação Hospitalar) do SUS (Sistema Único de Saúde). Os casos coletados dizem respeito ao período de 1º de maio a 31 de agosto dos anos de 1998 a 2010, para abranger um mês antes e um mês depois da realização dos jogos, que acontecem de quatro em quatro anos.
Dos pacientes que deram entrada nas unidades de saúde por ocorrências relacionadas à SCA (Síndrome Coronária Aguda) entre maio e agosto dos referidos anos, 45% teve diagnóstico positivo para infarto e 8,4% evoluíram para óbito. Considerando apenas os dias de jogos da seleção brasileira, esse número de admissões hospitalares causadas por infarto se ampliou 48,4% e 9,2% resultaram em óbito.
Segundo o cardiologista e diretor da unidade de emergência do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), Múcio Tavares, investigações como essa tem sido feitas em vários países. Ele citou um artigo publicado em um jornal cientifico norte-americano, feito a partir da revisão de vários estudos sobre o tema, que demonstrou o aumento da incidência de infarto em qualquer final de campeonato, principalmente na cidade em que o evento acontece.
“A emoção do jogo e o clima em que a cidade fica por causa da partida influenciam. É assim na final do Super Bowl, que acontece nos Estados Unidos, por exemplo. Na Copa do Mundo na Alemanha, em 2006, a seleção do país estava mal e foi verificado um aumento na procura por serviços de emergência por causas cardiovasculares (arritmias, infartos, etc.)”, afirma.
Ele explica que os mesmos resultados não são verificados quando a partida acontece em outra cidade ou país e quando o local não tem tradição naquele determinado esporte. “Na Austrália, por exemplo, se fez um estudo sobre isso e não foram verificadas variações porque lá as pessoas não têm essa paixão pelo futebol”, diz.
Segundo o chefe de Cardiologia do Hospital LeForte e diretor do Grupo Angiocardio, Hélio Castello, as pessoas que passam mal por um problema cardiovascular durante a Copa do Mundo já possuem uma predisposição. “É uma pessoa que tem o problema, mas não tem sintoma, ou tem sintoma, mas não se dá conta dele, é um hipertenso que não toma o remédio corretamente. São pacientes que estão suscetíveis a ter um infarto em um momento de forte emoção por problemas preexistentes”, conta.
Tavares adverte que quem fuma, tem doença cardíaca prévia, não deve ir ou assistir aos jogos da Copa sem tratar os fatores de risco. “O jogo é o estopim de algo que já existe, porque a emoção em si não é ruim, nós sentimos emoções todos os dias”, diz. Ele acrescenta que quem tem risco de ter alguma doença cardiovascular ou já tem a doença comprovada procure um médico. “Não precisa ser necessariamente um cardiologista, mas é necessário seguir o tratamento para ter os fatores de risco controlados”, disse.
O médico do Incor ainda dá dicas práticas para quem não quer parar em um pronto socorro nos dias de jogos: “Não beba muito e, se você é fumante, não fume tanto. Não pratique exercícios exaustivos. Não coma alimentos salgados e faça refeições pequenas. E, o mais importante, não pare de tomar seus remédios porque você pensa em abusar da bebida”.
Castello também deixa a sua dica. “É preciso ter a consciência de que não vai mudar em nada a seleção ganhar ou perder. Se a seleção ganha, o torcedor fica feliz ali na hora, mas no outro dia a vida continua. É preciso levar a Copa como um momento de encontrar amigos, de se confraternizar, se divertir. É o momento de esquecer um pouco dos problemas, de quebrar o estresse e não de ter estresse”, diz.
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