Topo

Como estão as pesquisas para combater a dengue no Brasil

Soldados do Exército fazem trabalho de campo junto a agentes de saúde no bairro do Limão, na zona norte de São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress
Soldados do Exército fazem trabalho de campo junto a agentes de saúde no bairro do Limão, na zona norte de São Paulo Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Mac Margolis

24/04/2015 16h53

Um par de luvas, meio litro de álcool e uma colherada de loção corporal: você não vai encontrar este repelente caseiro contra mosquitos nas farmácias brasileiras, mas a receita viralizou depois que um sanitarista preocupado postou um vídeo feito com o celular no Facebook na semana passada.

Em meio ao pior surto de dengue do país - 460.000 pessoas infectadas e 132 mortos neste ano -, os brasileiros estão apreensivos e isso é compreensível. Esse zumbido é do aedes aegypti, uma praga conhecida na História por espalhar a febre amarela por toda a América tropical que agora reaparece como o vetor para o que se tornou uma pandemia do século 21.

Depois de ser uma doença encontrada principalmente na Ásia, o vírus da dengue se tornou global por causa da urbanização vertiginosa, da má gestão da água, da péssima saúde pública e das viagens de avião que levam passageiros para qualquer lugar rapidamente. Um estudo de 2013 na revista Nature avaliou que a dengue tinha infectado 390 milhões de pessoas naquele ano, com 94 milhões adoecendo.

O surto é especialmente severo nas Américas, que viram um aumento de 30 vezes da doença nos últimos 50 anos. Contando hospitalização e licenças, a doença apresenta um custo de pelo menos US$ 2,1 bilhões por ano na região, afirma a Organização Panamericana da Saúde.

Só o Brasil apresenta seis de cada dez casos informados da doença no mundo todo.

Não existe vacina ou cura para a dengue, o que deixa aos latino-americanos somente o álcool e a espera de alguma descoberta científica. "A única arma que temos até agora é o controle do mosquito", diz o imunologista Jorge Kalil Filho, que dirige o Instituto Butantã, centro de pesquisa em São Paulo.

E embora a dengue seja um flagelo global, ela recebe muito menos fundos do que doenças como HIV e ebola. "Estamos presos à mortalidade", me disse Duane Gubler, especialista em dengue da Duke-NUS Graduate Medical School, em Cingapura. "Como a dengue tem taxas relativamente baixas de mortalidade, ela recebe muito menos atenção".

A boa notícia é que a prevenção está fazendo progressos. Pesquisadores da Universidade de São Carlos estão testando químicos dissuasivos, como extrato de cúrcuma, que deixa a larva do mosquito vulnerável à luz do sol. Outra equipe brasileira está criando um aparelho ultrassensível para detectar e atacar mosquitos por meio do monitoramento da frequência da batida das asas. Outros estão transformando os mosquitos, introduzindo modificações genéticas ou bactérias nos insetos para que eles produzam crias estéreis quando acasalarem.

O desafio mais promissor - e complicado - é o desenvolvimento de uma vacina. Com quatro sorotipos diferentes, todos presentes nas Américas, o vírus é um alvo em movimento. Atacar um dos tipos de dengue não garante proteção contra outro.

A corrida está forte no Brasil, onde estão sendo feitos testes para três vacinas diferentes. À frente está Sanofi Pasteur, a empresa de biotecnologia que depois de vários testes avançados afirma ter conseguido uma taxa de prevenção de 60 por cento para todos os tipos da doença e redução de 80 por cento nos risco de hospitalização.

Bem perto está o Instituto Butantã, trabalhando com os National Institutes of Health dos EUA, que pediu permissão às autoridades de saúde para lançar sua terceira fase de testes de vacina em 17.000 pessoas em todo o Brasil.

Testes anteriores mostraram que essa vacina foi capaz de produzir anticorpos - "um sistema de defesa de células", disse Kalil - eficiente contra os quatros sorotipos de dengue, com efeitos colaterais mínimos.

Kalil argumenta que o início da fase final de testes poderia levar à produção de uma vacina para o público em 2016, da mesma forma que a Food and Drug Administration dos EUA facilitou os testes de vacinas implementados durante o surto de ebola.

Giovanini Coelho, que dirige o programa nacional brasileiro de controle da dengue, é mais cauteloso. "Muitas vacinas são pura sorte", ele me disse. "Mas tivemos 5 milhões de infecções nos últimos cinco anos, então mesmo se não tivermos a melhor vacina do mundo, ainda assim seria uma bênção".

Depois de anos de negligência e falta de direção na saúde pública, Gubler está animado. "Pela primeira vez em 45 anos na área, eu me sinto bastante otimista. Temos as ferramentas para lutar contra a dengue, agora precisamos garantir o financiamento".

Enquanto os cientistas não conseguirem uma vacina, os brasileiros terão que se preparar para o próximo verão com dengue - e mais vídeos virais no Facebook.