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O que leva uma pessoa a filmar e transmitir o assassinato cometido por ela?

26.ago.2015 - Dois jornalistas foram mortos durante uma transmissão ao vivo para TV em Moneta, na  Virgínia (EUA). O suspeito, identificado como Vester Lee Flanagan, se matou horas depois dos assassinatos, após fugir da polícia - Reprodução/Twitter/AmandaOnFOX7
26.ago.2015 - Dois jornalistas foram mortos durante uma transmissão ao vivo para TV em Moneta, na Virgínia (EUA). O suspeito, identificado como Vester Lee Flanagan, se matou horas depois dos assassinatos, após fugir da polícia Imagem: Reprodução/Twitter/AmandaOnFOX7

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

26/08/2015 17h19

O atirador que assassinou nesta quarta-feira (26) ao vivo uma repórter e um cinegrafista na Virgínia (leste dos Estados Unidos) filmou a cena das mortes e divulgou dois vídeos em suas contas do Twitter e Facebook. O suspeito, identificado como Vester Lee Flanagan, se matou horas depois dos assassinatos, após fugir da polícia. 

E o que leva uma pessoa a filmar e transmitir pela internet um assassinato cometido por ela? Desequilíbrio mental, procura por notoriedade, narcisismo e intolerância a opiniões contrárias, respondem especialistas consultados pelo UOL. Segundo pessoas que trabalharam com Flanagan, ele era visto como "raivoso".

A repórter Alison Parker, 24, e o fotógrafo Adam Ward, 27, conduziam uma entrevista para a TV WDBJ, uma afiliada da CBS, no momento do ataque, por volta das 9h45 (horário de Brasília).

Transtorno de personalidade

Segundo o psiquiatra Sérgio Lima, especialista em psicologia social, o perfil do atirador se assemelha a alguém que sofre de transtorno de personalidade, geralmente pessoas de difícil trato, que se colocam como vítimas dos fatos, embora queiram, secretamente, ser o centro das atenções.

“É uma pessoa egoísta, que quer tudo do jeito dela, que quer ter um controle excessivo sobre o que vai acontecer. Essas são características comuns dos narcisistas, um desejo meio mórbido de ser ter destaque mesmo que negativo”, explica Lima.

Pessoas com transtorno de personalidade costumam se queixar dos outros ao redor, se sentindo incompreendido, mas ganham fama de difíceis de lidar, gênio difícil ou caráter duvidoso.  Esse problema costuma vir acompanhado de outros quadros psiquiátricos como dependência de drogas, transtornos depressivos, bipolaridade e esquizofrenia, diz Lima.

Desprezo pela vida

Para o psiquiatra forense Guido Palomba, o atirador claramente tinha problemas mentais e agiu de forma exibicionista, procurando ser lembrado, ao postar os vídeos na internet.

“Essa atitude é de um indivíduo com claro desequilíbrio mental, que deve ter um transtorno mental, de uma pessoa que não estava se importando com as vítimas”, disse um dos maiores especialistas em psiquiatria forense do país.

“Colocar o vídeo na mídia mostra, ainda, um certo exibicionismo do autor, uma forma de tratar a vida e a morte com banalidade, sem dar nenhum tipo de importância para a morte daquelas pessoas”, completa.

Mentes perigosas

Como o atirador era um jornalista, e aparentemente uma pessoa comum, a tendência é acreditarmos que houve uma motivação para o crime, diz o psicanalista Jorge Forbes, membro da Associação Mundial de Psicanálise.

“Como uma pessoa tão parecida conosco pode cometer tal atrocidade? É a pergunta que está na cabeça de todo mundo. Para afastar essa pessoa de qualquer semelhança conosco, o que nos faz sentir muito frágeis, buscamos um motivo forte para o crime, ou uma grande loucura na cabeça do criminoso”, diz Forbes.

Por mais que haja explicações de que o assassino estivesse descontente com o trabalho e com a atitude dos colegas, “o duro a suportar é que nem uma coisa nem outra “justifica” o ocorrido”, explica Forbes.

“Fato é que o ser humano é um bicho muito perigoso. Infelizmente o referente mais estável é a morte, quando não há mais nada a dizer”, diz Forbes.