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Depoimento: gordo, rolha de poço e balde de banha; os apelidos eram muitos

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Álvaro P.

Depoimento ao UOL

28/09/2015 06h00

Meu nome é Álvaro, tenho 57 anos, 1,76 m e peso hoje 147 kg, mas já pesei 207 kg.

Sempre fui gordinho. Quando criança, jogava muita bola, vivia na rua e isso ajudava a manter o peso (hoje as crianças não tem esse privilégio). Sofri muito bullying, mas naquele tempo esse nome não existia. Os apelidos eram muitos: gordo, rolha de poço, balde de banha e assim por diante.

Na adolescência vivia fazendo regime, por isso mantinha uma certa forma. Depois de adulto as coisas ficaram feias, de uma hora para outra comecei a engordar e cheguei a ganhar 15 kg em um mês. De 72 kg, que consegui manter por um certo tempo, cheguei aos 207 kg.

Muitas coisas me deixavam muito triste, como as pessoas que me olhavam como se eu fosse um E.T., as crianças (coitadinhas, não tinham culpa) passavam por mim e falavam para as mães: "Nossa, que gordão". Isso me deixava mal.

Houve uma época em que eu não saía de casa com vergonha. Foi triste, as pessoas devem saber que gordo não é gordo porque quer. Gordo também tem coração e sentimentos, e as pessoas são cruéis.

Ser gordo é uma doença.

Tem os viciados em bebida, os viciados em drogas e o gordo é viciado em comer. Não tem o que fazer ou regime que funcione de vez.

Já fiz todos que você possa imaginar, com remédios, acupuntura, espiritual, do sopão, da Lua, do carboidrato, cirurgia bariátrica... Nada dá certo se não tratar da cabeça.

Só um regime dá certo --todas as pessoas sabem como fazê-lo: comer as coisas certas (todos sabemos quais são as erradas) e 20 minutos de caminhada todos os dias.

Eu ainda não consegui fazer meu cérebro funcionar para isso, mas esse é o caminho.